De acordo com a publicação “Manual Saunders. Clínica de Pequenos Animais”, cerca de 30 a 40% do total dos cânceres existentes nos cães são de pele e entre os gatos este percentual é de 20%. Essas informações demonstram a relevância dos tumores cutâneos entre os animais domésticos no país e daí a importância de estendermos a campanha Dezembro Laranja, em combate ao câncer na Medicina Humana, também para a Medicina Veterinária.
O médico-veterinário Paulo Roberto Martin, que atua em Oncologia e Cirurgia Veterinária, e participa da equipe clínica da VetSo, MasterCat e Horus Tecnologia Veterinária, informa que as neoplasias que mais afetam a pele dos cães são mastocitoma e carcinomas. “No caso dos gatos, os carcinomas são mais frequentes”.
Nos países de clima tropical, é mais comum a ocorrência de câncer de pele tanto em humanos quanto em animais, mas o desenvolvimento da doença também está relacionado ao estilo de vida e predisposição genética. “Os sinais do problema incluem aumento de volume localizado, que é o principal sintoma, perda de parte da pelagem, secreção sanguinolenta e odor fétido”, declara Martin.
Além disso, o profissional explica que algumas raças apresentam uma ocorrência maior de alguns tipos tumorais. “Por isso, é importante evitar o cruzamento de animais que apresentam histórico de neoplasias, a fim de diminuir a ocorrência da doença”, acrescenta. Golden retriever, bulldog francês, pug e boxer são as raças que têm predisposição para apresentar mastocitoma, de acordo com o veterinário, e o pittbull, pelo hábito de ficar no sol, costuma ter carcinoma espinocelular.
Ainda sobre fatores ambientais, o veterinário afirma que a exposição solar demasiada pode levar ao desenvolvimento de carcinoma espinocelular. “Em cães e gatos de pelo branco e curto, o risco é ainda maior”, revela. A prevenção é possível, segundo Martin: “O tutor deve evitar a exposição solar em determinados períodos do dia. Existem aplicativos em celulares que informam a radiação UVA e UVB local. Além disso, animais muito alérgicos podem apresentar alterações na pele. É importante diminuir os estímulos alérgicos e tratar a causa da alergia também reduz a chance de neoplasias de pele”.
Martin indica que, dependendo do tipo tumoral, os carcinomas espinocelulares são mais frequentes na face dos gatos e na região da barriga dos cães. “Mastocitomas podem ocorrer em todo o corpo de cães, mas é mais comum na face dos gatos”, adiciona.
Diagnóstico e tratamento
Paulo Martin aponta que o diagnóstico da doença é feito por meio da anamnese, que é o questionamento sobre o padrão de comportamento do paciente e doenças que possa apresentar e do exame clínico meticuloso, palpando o paciente para observar se outros tumores já estão presentes. “Exames laboratoriais, como citologia aspirativa de agulha fina, pouco invasiva e que pode ser realizado no momento da consulta, é de grande auxílio no diagnóstico. Além disso, temos o histopatológico, que exige a anestesia do paciente para coletar fragmento tumoral para análise; a imunohistoquímica, realizada com a amostra coletada pela biopsia e que indica se há alterações em proteínas celulares pelo tumor”, enumera. O profissional ainda menciona que exames complementares como os de sangue e bioquímicos, exames de imagens, como ultrassonografia, radiografia e topografia, podem ser exames auxiliares de diagnóstico.
Já em relação ao tratamento instituído ao paciente oncológico, Martin afirma que depende do tipo tumoral, localização do tumor no corpo, dimensão tumoral e tempo de evolução. “Mas, no geral, a excisão cirúrgica para a remoção tumoral, criocirurgia e eletroquimioterapia são técnicas que podem ser utilizadas isoladas ou em combinação, além do tratamento com quimioterapia e/ou radioterapia”.
O tratamento é indispensável para o bem-estar do animal, considerando que, segundo o veterinário, o câncer de pele pode crescer e causar dor ou atrapalhar o movimento do paciente: “Pode sangrar, infeccionar, atrair insetos (miíase) e apresentar odor fétido. O tempo é o principal fator que os responsáveis podem interferir. Faça carinho no seu animal, no corpo todo, membros, barriga, cauda e cabeça. Se notar algo estranho, procure um veterinário para receber orientações sobre como proceder”, recomenda.
De acordo com o veterinário, protetores solares podem ser utilizados, mas com cuidado, pois a pele dos cães e dos gatos é diferente da nossa. “E o tutor deve utilizar produtos específicos para animais, evitar aplicar em áreas que eles possam remover pela lambedura, como focinho, e apostar no uso de roupinhas com proteção UV ou, então, evitar a exposição solar. Essas são medidas que podem ajudar a evitar problemas”, orienta.
Para finalizar, Paulo Martin cita que alguns medicamentos estão sendo estudados, com resultados promissores no tratamento de câncer de pele em cães e gatos, mas, ainda, não estão disponíveis no mercado. “O câncer não é uma sentença, mas a demora em tratar pode determinar uma sentença ruim”, encerra.
Fonte: Cães&Gatos