Observar a saúde bucal do animal é um grande
gesto de carinho e de guarda responsável
O Notícias da ARCA entrevistou o médico veterinário Herbert Lima Corrêa (foto), mestre em cirurgia pela FMVZ-USP, fundador da Associação Brasileira de Odontologia Veterinária e criador do Odontovet – Centro Odontológico Veterinário, o primeiro da América Latina e o segundo do mundo.
NA: Quais são os problemas dentários mais comuns em cães e gatos?
HLC: Os que afetam a gengiva, levando à inflamação e até a perda do dente, assim como a presença de tártaro. Embora grave, este problema pode ser facilmente prevenido se escovarmos os dentes diariamente dos pets. Dentes fraturados são comuns e devem ser tratados, pois levam a dor e a infecção. Infelizmente, os tumores (câncer) também acontecem nos animaizinhos e a boca é o quarto local mais comum de aparecerem.
NA: O que é mais grave?
HLC: Toda e qualquer condição que afete a saúde bucal, afetará consequentemente a saúde geral, afinal a saúde começa pela boca. No caso da doença periodontal (com sintomas como mau hálito, inflamação na gengiva, tártaro, dentre outros) isto fica bastante evidente, pois sabe-se que as bactérias da placa que causa a doença vão para a corrente sanguínea, levando à infecção de outros órgãos como coração, pulmão, fígado e rins. Os tumores também são graves por natureza, sendo que todo esforço deve ser feito para um diagnóstico precoce, o que possibilita sua remoção com maior facilidade.
NA: O Tingo, eterno mascote da ARCA, sofria com o problema da oclusão. Pode explicar para os leitores o que é isso?
HLC: São aqueles que afetam o encaixe entre os dentes. Eles são muito mais frequentes em cães do que em gatos e precisam ser tratados, não exatamente por estética, mas para trazer conforto e evitar outros problemas para o paciente.. Quando este encaixe é fora do padrão, o paciente pode ter dificuldade para pegar os alimentos ou mastigá-los. Uma vez que a mastigação fica comprometida, começa a acumular placa bacteriana mais facilmente, o que leva a doença periodontal. Às vezes, um ou mais dentes tocam em outros quando fecha-se a boca, causando desconforto e desgaste, levando a exposição do “nervo” do dente (polpa) causando dor e infecção. Este era o problema do Tingo.
NA: A falta de informação ou de tratamento pode levar uma pessoa a abandonar um animal com problemas dentários?
HLC: Sim, já vi casos dessa natureza. Inclusive, pets que tem problemas bucais são mais rejeitados para adoção.
NA: Quando o assunto é odontologia veterinária, você acha que falta informação?
HLC: Este é um fato interessante. Muitos sabem da importância dos cuidados odontológicos, crescemos com nossos pais, professores e a mídia falando da importância de escovarmos os dentes, para evitar os problemas causados pelos germes da boca, mesmo assim, não são todos que cuidam bem deles e fazem visitas regulares aos dentistas. Em geral, as pessoas vão ao dentista quando sentem dor ou quando estão preocupadas com a estética do sorriso. Então, se os donos não cuidam bem de seus próprios dentes, por que estariam dispostos a cuidar dos dentes do animalzinho que não reclama de dor? Observo que não é a classe social o que determina o grau de preocupação com a saúde do pet, mas sim o grau de envolvimento da pessoa com o animal. Isto é conhecido como posse responsável.
NA: O tratamento dentário veterinário é muito caro?
HLC: O caro está na cabeça das pessoas. Tem gente que gasta R$100, R$200 ou mais em um Jeans, mas acha caro quando o profissional cobra o mesmo para proporcionar saúde a seu animal. Tem gente que vai a uma petshop e compra coleirinha, roupinha, caminha, mas se tiver que pagar uma consulta, reclama. O que precisamos entender é que sem dinheiro não se consegue fazer medicina de qualidade. Compare a consulta média de um veterinário com o valor que cobra um encanador pra resolver o problema na sua pia. Você vai ver que os preços na veterinária são acessíveis. Mesmo assim, muitos acham caro..
NA: Para evitar problemas mais graves, a grande arma dos tutores é a prevenção? Como ela deve ser feita?
HLC: A prevenção é muito mais barata e melhor para o paciente. Nós recomendamos três passos: 1) faça uma visita a um veterinário especialista em saúde oral; 2) inicie em casa, sob a orientação deste profissional, uma rotina de cuidados odontológicos. A escovação é a principal e insubstituível. Tiras de couro e outros produtos para serem mastigados também ajudam. Hoje, já existe um produto que é colocado na água de beber que ajuda na prevenção. Algumas rações têm substâncias, formato e textura que ajudam no controle da placa bacteriana; e 3) faça pelo menos uma avaliação odontológica anual.
NA: Como perceber que o seu animal sente dor ou está com algum problema na boca?
HLC: O mau hálito é o principal sinal de que algo não vai bem com a saúde oral. Salivação excessiva, sangramento, gengivas vermelhas, tártaro, dentes fraturados e aumentos de volume, são também comuns. Uma coisa importante é lembrar que raramente um cãozinho ou gatinho vai parar de comer por dor de dente. Sabe-se que mesmo com dor, eles comem pelo instinto de sobrevivência. É por isso que inúmeros clientes nos falam que o animalzinho está mais alegre, mais jovem e feliz depois que faz um tratamento odontológico. Ele tinha dor, sofria, mas não sabia reclamar. Se o seu animal tem mais de 3 anos, você não escova os dentes dele e nunca o levou a um serviço de odontologia veterinário, está mais do que na hora de agendar uma consulta.
NA: Fazer parte do selo Empresa Amiga dos Animais® é um importante papel social. O Dr. acredita que essa postura pode ajudar a diminuir as carências no mundo animal?
HLC: Sim, principalmente quando entendo que o mundo animal carece de bons profissionais, comprometidos com a saúde e o bem estar dos seus pacientes. O Odontovet tem, atualmente, cinco unidades de atendimento. Somos sete profissionais veterinários e três colaboradores apaixonados por animais e comprometidos com sua saúde e bem estar.
Fonte: OBV Online