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Veterinário diz ter encontrado "anemia grave" em cães retirados do Royal

13 de novembro de 2013
4 min. de leitura
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Um veterinário que afirma ter avaliado cerca de 15 cachorros resgatados do Instituto Royal em outubro diz que os animais apresentaram graves quadros de anemia. Wilson Grassi, que disponibilizou sua clínica na Zona Leste de São Paulo para o atendimento aos beagles, relata que se prontificou a avaliar animais removidos do instituto quando soube da remoção dos bichos pelos ativistas em São Roque.

“Conheço vários ativistas. Como achei um processo extremamente importante e significativo, coloquei no meu Facebook que eles [pessoas que tivessem ficado com cães] poderiam me procurar que eu faria um check-up de graça”, diz o veterinário. “Sou defensor dos direitos animais.”

Grassi mostrou alguns dos exames feitos em novembro em sua clínica. Um deles é o de uma fêmea a que foi dado o nome de “Kakau”. O veterinário afirma que a quantidade de células vermelhas no sangue da cadela (RBC) era de 2,35 x 10¹² por litro de sangue, quando o mínimo deveria ser de 5,50 x 10¹². Já as hemoglobinas (HGB), de acordo com o exame, estavam presentes na quantidade de 45g por litro de sangue, quando, conforme explica Grassi, o normal é no mínimo 110. Os hematócritos (HTC), “que é a porcentagem em volume de células vermelhas no sangue”, representavam 15,6%, quando o mínimo esperado seria de 40%.

“Isso é um caso de anemia grave. O animal fica extremamente fraco. Esse cachorro, se subir uma escada, desmaia. Em qualquer esforço que ele fizer, vai faltar oxigênio”, afirma o veterinário, acrescentando que os animais demonstravam apenas certa apatia.

“Muita gente olha e acha que está bem, mas é extremamente preocupante esse caso de anemia. Se baixa mais um pouco, esse cachorro morre.”

(Foto: Reprodução/Wilson Grassi)
(Foto: Reprodução/Wilson Grassi)

Outros três hemogramas foram mostrados, todos com resultados semelhantes aos do laudo da cadela “Kakau”. Grassi destaca algumas causas possíveis dos casos de anemia. “A meu ver, as causas mais prováveis são intoxicação crônica por medicamentos ou produtos químicos, não se sabe exatamente o quê, ou doação de sangue em excesso. Não estou dizendo que foi isso que aconteceu, mas peguei 15 animais e, quando nenhum deveria ser anêmico, os 15 tinham anemia profunda”, afirma. “Um processo de intoxicação permanente poderia justificar isso.”

“Para todos esses animais, a gente passou uma medicação para recuperar as células vermelhas e pediu um retorno dentro de 10 dias para refazer esses exames. Talvez leve 3 ou 4 meses para o cachorro voltar à normalidade.”

A médica veterinária Denise Fantoni, presidente do comitê de ética em experimentação da Faculdade de Medicina veterinária da USP, afirma que alguns fármacos como antibióticos, analgésicos e anti-inflamatórios podem causar anemia como “efeito adverso”. Mas a especialista ressalta que não é possível afirmar se algum medicamento foi testado nos animais e ocasionou a anemia, pois não foram divulgados os tipos de produtos que eram pesquisados e nem as condições em que eram feitos os procedimentos.

A assessoria de imprensa do Instituto Royal informou que não iria se pronunciar sobre os hemogramas.

(Foto: Reprodução/Wilson Grassi)
(Foto: Reprodução/Wilson Grassi)

Mandíbula fraturada

Grassi afirma que também examinou um beagle que foi retirado do instituto com a mandíbula fraturada, e mostrou uma radiografia do animal. O veterinário explica que o exame aponta fraturas bilaterais na mandíbula, além de caninos colados com resina. “Provavelmente a fixação dos caninos foi um tratamento da fratura da mandíbula”, diz.

A assessoria de imprensa do Instituto Royal afirma que, entre os animais que ficavam no laboratório, havia apenas um com os caninos colados, chamado “Ricardinho”. O instituto explica que ele tinha fragilidade óssea provocada por problemas renais, e divulgou laudo que ressalta que o cão nunca foi usado para testes, mas apenas para reprodução.

O instituto afirma que a lesão renal do animal foi diagnosticada há dois anos, e a “fratura bilateral e a mandíbula de borracha” foram identificadas em dezembro de 2012. Em seguida foi realizado procedimento cirúrgico para “ferulização com resina nos dentes inferiores” . “No mês de agosto deste ano, o cão apresentou dentes flutuantes e o aparelho não foi mais suficiente para o conforto do animal”, diz o documento.

O beagle então passou por novo procedimento cirúrgico. “Devido à insuficiência renal crônica”, foi preciso realizar “a extração dos dentes pré-molares e molares superiores e inferiores, seguido de bloqueio dos caninos com o uso de resina e bucoplastia”, explica o documento enviado pelo Royal. O texto acrescenta que o animal passava por tratamentos contra o problema renal e anemia, sendo alimentado com ração especial.

Grassi afirma que a pessoa que ficou com o animal está utilizando uma seringa para introduzir alimentos em sua boca. Essa pessoa não quis se identificar para a reportagem e não aceitou pedidos de entrevista.

O caso

O Instituto Royal encerrou suas atividades em São Roque (SP) na última quarta-feira (06). O laboratório foi invadido por um grupo de ativistas na madrugada do dia 18 de outubro. Do local, foram resgatados todos 178 cachorros da raça Beagle e sete coelhos que eram usados em testes. Os ativistas acusam a empresa de maus-tratos aos animais, o que o Instituto Royal nega.

A ação dos ativistas suscitou debates sobre o uso de animais em todo o país.

Fonte: G1

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