EnglishEspañolPortuguês

SAÚDE MENTAL

Veterinário detalha métodos para tratar cães com ansiedade por separação

Em casos mais graves, estes animais podem enfrentar quadros depressivos

20 de janeiro de 2025
Cláudia Guimarães
5 min. de leitura
A-
A+
Foto: Ilustração | Freepik

A síndrome de ansiedade por separação em animais (SASA) é um dos distúrbios comportamentais mais comuns em cães. Caracteriza-se pela exibição de comportamentos “desagradáveis” que são mais prováveis quando afastados da figura de vínculo mais próxima.

Quem nos explica é o médico-veterinário Guilherme Marques Soares e, segundo ele, os comportamentos mais característicos da síndrome são: vocalização excessiva (choro, uivo, latidos ou ganidos) e comportamento destrutivo e eliminação inapropriada. “Além desses, como parte do escopo da síndrome, o cão pode apresentar sialorreia, diarreia e comportamentos compulsivos que são abortados imediatamente quando as pessoas retornam para a casa”, adiciona.

Estes comportamentos ocorrem de forma cíclica, a cada intervalo de tempo, que dura em torno de 25 minutos. “Quando a manifestação clínica se dá por vocalizações, essas são iniciadas imediatamente após a perda de referência olfativa da figura de vínculo, ou seja, quando o cão fica sozinho em casa e cessam pouco antes de o tutor retornar. Tal fato faz com que as pessoas que convivem com o cão na mesma residência não o escutem vocalizar, pois ele começa depois que elas já estão a certa distância e para antes de poder ser ouvido. Por isso, no geral, a queixa de vocalizações excessivas vem dos vizinhos que se incomodam com o barulho”, analisa.

Durante os comportamentos destrutivos, os animais procuram rotas de fuga e objetos ou locais que tenham forte referência olfativa da figura de maior vínculo, como toalha de banho ou rosto, roupas, travesseiros, almofadas ou o local em que a pessoa se senta no sofá, por exemplo. “Alguns cães quebram dentes ou unhas durante a destruição desses objetos”, revela Soares.

De acordo com o veterinário, também podem ocorrer micção e defecação em locais inapropriados e próximos aos lugares onde o cão fica esperando o retorno das pessoas, com mais frequência, nos locais com forte referência olfativa, como camas e sofás, por exemplo, ou próximos à porta.

Em casos mais graves, estes animais podem enfrentar quadros depressivos e que, segundo Soares, são os mais difíceis de identificar, já que não se sabe se o seu estado emocional é preocupante. “Esses animais, enquanto estão sozinhos, não comem, mesmo que seja um petisco bastante apetitoso, não brincam, não bebem água, não defecam e nem urinam”, destaca.

Quadro explica os sinais característicos da SASA. Foto: Reprodução

Para o diagnóstico, é necessário caracterizar o animal como hipervinculado, porque a hipervinculação (ou hiperapego – do inglês hyper-attachment) é a chave para diferenciar SASA de outros problemas, como o tédio, a mastigação infantil e os problemas de eliminação diversos. “O cão hipervinculado é aquele que tenta acompanhar a figura de vínculo, que pode ser uma única pessoa, um grupo de pessoas ou um animal. No geral, o cão hipervinculado procura manter-se a cerca de um metro ou menos da figura de vínculo, demonstrando sinais de ansiedade, quando a pessoa vai ao banheiro, por exemplo. Além disso, alteram o seu comportamento, quando percebem que a figura de vínculo se prepara para sair, visto que já conhecem a sua rotina”, explica.

Alguns cães, de acordo com Soares, tentam, inclusive, impedir a saída das pessoas, chamando atenção, roubando objetos, latindo de forma agressiva ou simplesmente se recolhendo em um canto, como se alguém tivesse lhes dado uma bronca. “Os cães hipervinculados têm, também, um comportamento exacerbado e efusivo no momento em que as pessoas chegam de volta à residência”, acrescenta.

É possível tratar o problema?

O tratamento para a SASA envolve a combinação de terapia comportamental e medicamentosa e tem uma duração variável entre dois e 12 meses. “A terapia comportamental baseia-se nos seguintes aspectos: as pessoas podem ignorar o cão na hora em que se preparam para sair e, assim que retornarem ao lar, não devem dar punições retrospectivas, ou seja, não devem brigar com o cão pelo que foi destruído ou pela urina ou fezes encontradas fora do lugar; é preciso trabalhar, no sentido de realizar exercícios de relaxamento, como o comando ‘fica’ e suas variações, por exemplo; e é essencial dessensibilizar o cão para gatilhos, como a rotina de saída de casa, por exemplo”, orienta.

Nesse último processo, por exemplo, a pessoa se arruma, vai até a porta e não sai, volta e senta-se no sofá. “O cão deve ser recompensado com petiscos ou carinho, quando não mais reagir a esse exercício. Depois desse passo, a pessoa repete o ritual, abre a porta, sai, fica do lado de fora por um minuto e volta. Assim, aumenta-se o tempo e a distância progressivamente até que o cão fique sozinho, sem apresentar problemas”, ensina.

No tocante à terapia medicamentosa, Soares destaca que esta acelera o processo, melhora a qualidade de vida do cão durante o tratamento e aumenta a adesão das pessoas que, no geral, desistem do tratamento, por ser demorado e trabalhoso. “Podem ser utilizados antidepressivos tricíclicos ou inibidores seletivos de recaptação de serotonina. Uma opção interessante, como apoio, é o uso do análogo sintético do feromônio intermamariano canino, que tem efeito ansiolítico e não apresenta efeitos colaterais. Mas sempre indicado por um médico-veterinário”, cita.

Por fim, Soares afirma que não há cura para a SASA, mas o tratamento visa a remissão dos sinais, o que pode ser duradouro ou não. “Se houver mudanças na rotina, os sinais podem voltar, e o tratamento volta à ‘estaca zero’”, finaliza.

Fonte: Cães&Gatos

    Você viu?

    Ir para o topo