O jogador Vinícius Júnior, da seleção brasileira masculina de futebol, participou de uma coletiva de imprensa nessa quarta-feira, 7, em Doha, no Catar. Durante a ocasião, ele foi surpreendido com a presença de um gato em cima da mesa onde ele conversaria com jornalistas.
Um assessor da CBF, então, fez carinho no animal e o pegou pelo cangote para retirá-lo do local. O vídeo do Estadão circulou e viralizou nas redes sociais ao levantar o questionamento: ele segurou o gato de forma correta?
Assista ao vídeo e entenda o motivo da discussão (o conteúdo pode ser sensível para algumas pessoas):
E esse gatinho que, do nada, ‘invadiu’ a coletiva de Vini Jr. hoje no Catar e foi ‘expulso’ pelo assessor da CBF? 😹😾
📹: @rmagattipic.twitter.com/8AoRqDHnDZ
— Estadão 🗞️ (@Estadao) December 7, 2022
Como as mães felinas seguram filhotes pelo cangote, muitas pessoas acreditam que esse é o jeito certo de pegar um gato. A informação, no entanto, é equivocada, segundo a veterinária Laura Ferreira, especialista em comportamento animal da Guiavet, plataforma de acompanhamento de saúde para animais. Ela tem certificação Cat Friendly Handling Program, que ensina as maneiras corretas de cuidar dos felinos para reduzir seu estresse.
“A melhor forma de se segurar um gato é deixá-lo à vontade. Para mudar ele de local, como foi o do caso do vídeo, a melhor maneira é uma mão no tórax e a outra mão ser usada como suporte para as patas traseiras. O próprio braço da pessoa pode servir como um suporte para todo o tronco do gato, sempre respeitando o jeito que ele se sentir mais confortável”, explicou a veterinária.
O assessor maltratou o animal?
Segundo a veterinária, sim. “O gato em questão estava extremamente confortável no ambiente e com um comportamento extremamente amigável. Não precisava pegar e colocar o animal no chão daquela maneira”, completou Laura.
Ela, no entanto, não foi a única com essa opinião. A reportagem também conversou com Luíza Cervenka, bióloga com mestrado em psicobiologia (comportamento animal) e dona do blog Comportamento Animal, do Estadão. Ela disse que a forma como ele pegou o gato “só estigmatiza cada vez mais o que sempre buscamos desmistificar”.
A especialista explicou que a estigmatização acontece pelos tutores ou veterinários não especializados repetirem o comportamento do assessor sem questionar se a atitude está correta. “São duas práticas porque, além de pegar o gato, ele joga o animal em outro local”, completou Luíza.
Quais são as consequências de pegar o gato pelo cangote?
A bióloga ainda falou que a maneira como o assessor segurou o gato pode piorar possíveis problemas prévios de saúde, como dores na articulação. Além disso, o animal também poderia agredir o homem pela forma na qual fora manejado.
“Pegar esse gato da forma que ele pegou, pelo cangote e pela pele das costas, pode aumentar e piorar dores e problemas articulares prévios do gato”, completou.
A veterinária Laura Ferreira afirmou que o comportamento do ser humano pode trazer consequências a longo prazo ao gato. “As consequências são negativas porque causa muito medo e gera uma sensação muito ruim no animal por eles ficarem imobilizados e expostos.”
Caso esse comportamento seja corriqueiro na rotina do animal, ele pode se tornar medroso. A atitude também pode gerar transtornos comportamentais e doenças físicas, como cistite intersticial ou idiopática, conhecida como Síndrome de Pandora (conjunto de distúrbios do trato urinário do felino).
“O gato também pode se tornar mais agressivo e menos receptivo ao toque humano”, acrescentou Laura.
Adotado como um improvável mascote da seleção brasileira, o bichano foi carinhosamente apelidado de “Hexa”. Ele não atrapalhou os trabalhos e sentou ao lado do banco de reservas. O país-sede do Mundial é conhecido por ter uma quantidade significativa de gatos andando pelas ruas.
O gatinho continua aqui na sala de imprensa. Ele foi apelidado de “Hexa” pelo pessoal do CT. Tem outros tantos gatos aqui. pic.twitter.com/FsYaNe7vwA
— Ricardo Magatti (@RMagatti) December 7, 2022
Conselho de medicina veterinária negligencia episódio
Em nota oficial enviada ao UOL Esporte, o Conselho Regional de Medicina Veterinária do Estado de São Paulo (CRMV-SP) afirmou que foi correta a maneira que o assessor da CBF, Vinicius Rodrigues, retirou um gato da bancada enquanto Vinicius Junior concedia entrevista coletiva ontem (7).
Depois que o vídeo viralizou, o assessor passou a ser alvo de comentários e dividiu opiniões nas redes sociais pela forma que afastou o gato. De acordo com o CRMV-SP, a prática utilizada pelo funcionário da seleção brasileira foi a certa.
“Em análise apenas da cena exposta no vídeo do link enviado, e não havendo mais informações sobre o caso e o histórico do animal, não foi constatado qualquer elemento que possa ser caracterizado como maus-tratos”, diz o início da nota.
“A cena retratada traz um manejo comum tratando-se de um felino de origem e comportamento desconhecido, tendo o assessor de imprensa da CBF acariciado o animal para ganhar confiança e não sofrer arraduras e mordeduras, e na sequência segurado o animal pelo dorso”, conclui o CRMV-SP.
Luisa Mell divulga nota técnica
Como nessa quarta-feira (7) a Copa do Mundo do Catar não contou com jogos, a “cena do dia” do mundial foi a de um gato sendo maltratado durante uma coletiva de imprensa do atacante Vinicius Jr, da Seleção Brasileira.
O jogador falava sobre as dancinhas que faz pra comemorar gols quando um gato, que acompanhava a entrevista desde o começo, resolveu subir na bancada. Tentando remediar a intervenção do animal na entrevista, um assessor da Confederação Brasileira de Futebol (CBF) que estava ao lado do camisa 20 puxou o felino de forma brusca com as duas mãos pelo dorso e o colocou no chão. Diante do gesto brusco, os jornalistas presentes reagiram com certo espanto.
A atitude gerou revolta entre usuários das redes sociais no Brasil e chegou até Luisa Mell, uma das ativistas da causa animal mais conhecidas do país. Através do Instagram, ela criticou a forma como o assessor da CBF tratou o felino e ainda publicou uma nota técnica de uma veterinária de seu instituto para explicar que esta não é a forma correta de se manejar um bichano.
“Acabei de ver esta cena lamentável. A atitude além de desnecessária, um péssimo exemplo de respeito aos animais. Lembrando que milhões de pessoas acompanham nossa seleção. Sabemos do poder de influência do futebol em nosso país. Gatos já são animais vítimas de incontáveis maus tratos no Brasil. Certamente uma atitude como esta, acaba servindo de exemplo para crianças e adultos tratarem animais, em especial gatos desta maneira”, escreveu Luisa Mell.
Na sequência, a ativista divulgou a nota da veterinária de seu instituto: “No vídeo podemos constatar a falta de sensibilidade com o felino, sendo retirado da mesa de forma inadequada e que vai contra o manejo cat friendly, que é um programa desenvolvido pela Associação Americana de Medicina Felina (AAFP) e que visa, dentre outras questões, a contenção e transporte respeitoso com o gato, sem segurar ou puxar as peles de pescoço e/ou dorso”.
Confira
Eu achei a atitude além de desnecessária, um péssimo exemplo de respeito aos animais. Lembrando que milhões de pessoas acompanham nossa seleção. Sabemos do poder de influência do futebol em nosso país. Gatos já são animais vítimas de incontáveis maus tratos no Brasil. pic.twitter.com/GRtU2QHZkH
— Luisa Mell (@luisamell) December 7, 2022