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SITUAÇÃO DEPLORÁVEL

Veterinária denuncia descaso em abrigo de cães e gatos em Porto Alegre (RS)

Abrigo tem poucos profissionais e falta de voluntários, além de material escasso e muitos cães e gatos doentes

7 de agosto de 2024
Eugênio Bortolon
5 min. de leitura
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Foto: Rafa Neddermeyer/Agência Brasil

O abrigo dos pets no Vida Centro Humanístico, no bairro Costa e Silva, zona Norte de Porto Alegre, vive um verdadeiro caos. Acompanhando a situação do local nas redes sociais, vi vídeos e lives chocantes da veterinária Viviane Oliveira Saldanha. Ela foi contratada e demitida pela prefeitura de Porto Alegre nos últimos 90 dias por suas atitudes de denunciar o descaso das autoridades com os mais de 300 cães e gatos que estão ali à espera de seus tutores ou por adotantes.

Na semana passada, ela levou para o Vida uma cadelinha morta enrolada em sacos para ser cremada depois de não resistir aos tratamentos feitos em clínica veterinária. A prefeitura não se responsabilizou. Não quis cremá-la, conforme prometeu, e o DMLU recomendou que a veterinária jogasse no lixo orgânico, misturado com o lixo dos humanos, “o que é uma verdadeira aberração e pode provocar sérias doenças”. O corpo do animal ficou ali no local por dois ou três dias até alguém levá-lo para cremação, paga através de vakinha.

No seu longo vídeo no Instagram, Viviane chamou o local de campo de extermínio de cães e gatos. Mais de 150 animais estão com graves problemas de saúde. Os cães estão com cinomose – doença infectocontagiosa que afeta cães causada por um vírus; é altamente contagiosa e costuma acometer cães que ainda não terminaram o esquema vacinal (filhotes) ou que não costumam receber o reforço anual da vacina múltipla. Os gatos são afetados por gripe felina – uma doença bem comum entre os gatos, especialmente com a chegada do frio, afetando seriamente o sistema respiratório.

Viviane também denunciou a situação de calamidade dos profissionais, voluntários e aprendizes que ali trabalham. “Não têm luvas, álcool, roupas, camas para os animais, medicamentos estão jogados, sem ordem e não param de chegar novos animais. O local vai superlotar. Até profissionais e voluntários estão sumindo lentamente, com o retorno das suas vidas normais.” Ela disse que já cansou de apelar à Secretaria da Causa Animal da Prefeitura e o máximo que conseguiu foi ser xingada e demitida.

“Diziam que só queria aparecer. Sempre tive amor e carinho pelos animais. Estudei Veterinária e não posso aceitar o que está acontecendo. Peço desesperadamente que marquem nas redes sociais o governo do Estado, a Prefeitura e os candidatos a vereador, para que eles vejam esta tragédia animal que aqui ocorre. Muitos políticos só aparecem para tirar fotos com os bichos e lacrar na Internet. E, o pior, só candidatos alinhados com o prefeito. Este local não pode virar um campo de morte de bichos. Quem vem para cá praticamente já vem com sentença de morte”, afirma Viviane.

Responsabilidades

Outra questão que a veterinária denuncia nos seus vídeos é o empurra-empurra. “Prefeitura passa a bola para o Estado, administrador da área, e vice-versa. Bem diferente do que prometeram no dia da inauguração que o Vida seria um local de solidariedade e atenção aos bichos desabrigados pela enchente.” O abrigo de animais foi aberto em 5 de maio, no início da enchente. Criado e gerido por voluntários e servidores públicos, o espaço chegou a ter cerca de 600 animais.

Pessoas ligadas à UFRGS e profissionais da prefeitura já chegaram a auxiliar com atendimentos veterinários no local. Depois de um início promissor, com muita ajuda, hoje até a equipe de limpeza não aparece com a assiduidade necessária, segundo relata Viviane. Responsáveis pela linha de frente do abrigo, garantem que esse apoio é insuficiente e precário tendo em vista todas as demandas do local.

O abrigo tem seis ambientes. Um local onde ficam os animais que precisam de mais disciplina. Outros são para filhotes e idosos e doentes. Tem um local separado para gatos. No local, já houve vários episódios de animais doentes em massa. Em um deles, cerca de 40 cães foram vitimados por cinomose, entre filhotes e adultos. No outro, a doença parvovirose canina acometeu mais de 10 cachorros. O parvovírus canino é um vírus contagioso que afeta principalmente cães, é altamente contagioso e se espalha de cão para cão por contato direto ou indireto com suas fezes.

Os animais também estão sendo castrados. A Secretaria da Causa Animal prevê a abertura, no próximo mês, de um grande abrigo no bairro Glória para remanejar e acolher os animais de abrigos voluntários. Parece mentira, mas ainda existem.

Para quem quer adotar, é possível ir diretamente ao abrigo (Baltazar de Oliveira Garcia, 2.132, no bairro Costa e Silva, em Porto Alegre), das 14h às 18h, de domingo a domingo, para se disponibilizar. É feita uma entrevista com o interessado para mapear o perfil do candidato a fim de encontrar o animal mais compatível.

Prefeitura anuncia edital para novo lar temporário

Procurada pelo Brasil de Fato RS, a Prefeitura de Porto Alegre enviou uma nota esclarecendo que, por meio do Gabinete da Causa Animal (GCA), presta a assistência necessária aos animais abrigados no Vida Centro desde o evento climático de maio deste ano, que resultou em 6,6 mil animais resgatados e atendidos em toda a cidade.

Atualmente, 16 veterinários atuam no local que recebe 293 pets, sendo 232 cães e 61 gatos. Além de atendimentos de saúde, eles recebem vermífugo e passam por avaliação permanente dos profissionais.

Nos próximos dias, o município irá publicar um edital de chamamento público para definir um novo lar temporário de animais resgatados na enchente de maio em Porto Alegre. O objetivo é convocar interessados em prestar o serviço para atender cerca de 500 cães e gatos.

O procedimento administrativo foi construído após diálogo com especialistas em medicina veterinária de abrigos temporários e com o Ministério Público do Estado do Rio Grande do Sul (MPRS).

Fonte: Brasil de Fato

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