O Centro de Controle de Zoonoses (CCZ) de Araraquara (SP) concedeu entrevista coletiva na tarde desta quinta-feira (22) para esclarecer a polêmica envolvendo a prática de eutanásia no local, denunciada por uma moradora após a morte do cachorro dela, o cão Gabriel, da raça Beagle. O animal, que estava desaparecido desde o dia 8 de março, foi sacrificado no Centro nesta terça-feira (20), conforme consta no boletim de ocorrência registrado pela família dele.
A veterinária responsável pelo Centro, Anabel Jacqueline Martins da Silva, confirmou a morte de Gabriel. Tanto ela quanto o gestor do CCZ, Tony Emerson Alves de Souza, afirmaram que no local são feitos cerca de 20 procedimentos de eutanásia por mês.
Silva afirmou que o procedimento deveria ter sido administrado em Gabriel assim que ela detectou que o animal apresentava sarna. “Não fiz antes porque vi que era um cão bonito, gordinho e já idoso então resolvi deixar mais tempo para que o tutor aparecesse”, disse.
Segundo Silva, por se tratar de uma zoonose contagiosa, tanto para outros animais do local quanto para funcionários, não foi possível deixá-lo no Centro por mais tempo. “A sarna dele piorou muito, não tinha mais condições de mantê-lo no canil e segui o procedimento que costumo seguir nesse caso”, explicou.
Questionada sobre a gravidade da doença ou a piora no estado de saúde do animal desde o dia 8 até o dia quando foi sacrificado, a veterinária alega não ser esse o motivo da morte. “A questão é que não tinha mais condições de mantê-lo no CCZ”. Entretanto, a veterinária afirma não ter realizado nenhum exame no animal para constatar a gravidade da doença, se baseando apenas em impressões físicas.
A lei estadual 12.916, de 2008, dispõe sobre assuntos relacionados a cães e gatos. De acordo com o texto do artigo 2º, “fica vedada a eliminação da vida de cães e de gatos pelos órgãos de controle de zoonoses, canis públicos e estabelecimentos oficiais congêneres, exceção feita à eutanásia, permitida nos casos de males, doenças graves ou enfermidades infecto-contagiosas incuráveis que coloquem em risco a saúde de pessoas ou de outros animais”.
A tutora de Gabriel, Maria do Carmo Silva Nogueira, afirma que o cachorro estava em perfeitas condições de saúde no dia em que desapareceu, mas que a informação passada pela veterinária era diferente. “Disseram que ele estava muito doente e com sarna. Mas é mentira e mesmo que estivesse, essa doença tem tratamento. O Gabriel estava completamente saudável quando escapou”, lamentou.
Trabalho no Centro de Zoonozes
A veterinária afirmou que o trabalho do Centro de Zoonoses consiste em recolher animais de ocorrências como atropelamentos, ou que correm risco em grandes avenidas ou invasores de alguma propriedade. Os animais saudáveis são recolhidos e colocados no canil, gatil ou na baia e, como determina a lei, permanecem no local por 72 horas para serem resgatados pelo proprietário.
“A partir deste momento o animal deveria ir para outra gerência (Meio Ambiente), só que como eles não têm suporte para isso, a gente mantém o animal aqui enquanto ele estiver saudável, sem tempo determinado”, relata Silva.
No caso dos bichos doentes, a eutanásia é aplicada devido ao fato de o CCZ ser mantido com verba do Sistema Único de Saúde (SUS). “Tratar animais seria uso irregular de verba, não posso fazer isso”, afirma a veterinária.
Ainda de acordo com ela, para tratar os animais existe outra secretaria, a de Meio Ambiente. “Quando completam as 72 horas o animal deveria ficar sob responsabilidade deles, mas também não estou criticando, sei que eles estão fazendo o possível para se desenvolver”.
Segundo Silva, todos os animais que são recolhidos passam pelo Centro, tanto os que são mortos ou morrem naturalmente, quanto os que são resgatados pelo tutor ou que ficam no abrigo. Todas as informações são catalogadas.
Os laudos são trimestrais e apresentados à coordenação da Vigilância Epidemiológica.
A Secretaria de Meio Ambiente afirmou que está analisando o caso e se pronunciará posteriormente.
Polêmica
Durante a coletiva estiveram presentes voluntários de associações protetoras dos animais. A veterinária foi muito questionada por eles sobre cuidar e tratar os animais mesmo sem utilizar a verba federal. “Já ofereci a ela remédios e ajuda para tratar esses cães e gatos, mas ela recusou”, afirma Betty Roedel Peixoto, do grupo SOS Melhor Amigo, que moverá um abaixo-assinado pelo caso.
A veterinária alegou fazer o que podia e que precisa seguir regras. “Se a população não soltasse os animais na rua, não teríamos animais de rua e nem problema de espaço no meu canil. Porém, se alguém quiser vir buscar animal doente para cuidar pode ficar à vontade”.
De acordo com a integrante do grupo SOS Melhor Amigo, além da exoneração da veterinária, o abaixo-assinado exigirá que o Centro de Controle de Zoonoses, que hoje é administrado pela Secretária da Saúde, seja coordenado pela Secretária de Meio Ambiente, e que seja criada uma comissão municipal para cuidar da saúde dos animais de Araraquara. “Não podemos aceitar uma administração que é conivente com os maus tratos aos animais”, diz.
Fonte: G1