Vereadores da Câmara Municipal de Nova Veneza, em Santa Catarina, divertiram-se ao anunciar, durante sessão legislativa, uma rifa que tem animais e produtos de origem animal como prêmios. As gargalhadas e o incentivo à venda dos números da rifa retratam o especismo da sociedade, que trata animais como objetos e normaliza o sofrimento imposto às espécies exploradas para consumo humano.
A rifa, no entanto, não é de responsabilidade dos parlamentares, que apenas fizeram a divulgação e levaram à viralização do caso após as gargalhadas durante a sessão repercutirem em um vídeo divulgado nas redes sociais. Os animais, na verdade, estão sendo rifados por uma escola municipal de Nova Veneza.
Porcos, patos e uma tilápia de dois quilos foram colocados como prêmios. Objetificados, os animais não só estão sendo tratados como mercadorias, como também é reforçada a ideia de que explorá-los para consumo, submetendo-os a sofrimento e impedindo-os de desfrutar da própria vida, é uma prática que deve ser perpetuada. Não atoa, salames, queijos, ovos e torresmo também integram os prêmios.
Para os vereadores, no entanto, a presença de animais na condição de prêmios foi motivo de risadas, comportamento que mostra que os parlamentares escolheram caminhar na contramão da luta pelos direitos animais, cada vez mais disseminada em todo o mundo. Luta que, inclusive, se faz presente no Brasil.
Na Câmara dos Deputados, tramita o Projeto de Lei 4103/20, que proíbe a distribuição de animais como brinde ou a inclusão desses seres vivos em promoções, rifas ou sorteios, em qualquer tipo de evento. Autor do PL, o deputado Fred Costa (Patriota-MG), argumenta que “rifar, sortear e leiloar animais são práticas exploratórias por diminuírem os animais a uma condição de objeto usado para atender às vontades humanas”.
O caso de Nova Veneza, no entanto, para além da Câmara Municipal, teve repercussão positiva. Após o vídeo dos vereadores viralizar, pessoas do Brasil inteiro, além de moradores da cidade, compraram a rifa, tendo sido vendidos cerca de 11 mil números até o momento.
Essa reação à exploração animal expõe o abismo que existe entre humanos e o reconhecimento dos direitos animais, especialmente porque pôr fim a esse distanciamento demanda mudanças de hábitos que as pessoas, em um lugar de privilégio e antropocentrismo egoico, não têm interesse.
Embora a ação vise beneficiar os estudantes de uma escola pública, promovendo refeições com lanches e dias de lazer para diverti-los na semana da criança, em outubro, a rifa não só prejudica os animais, como educa os alunos a perpetuar a exploração animal, mesmo que isso custe o sofrimento de seres vivos, o adoecimento de quem consome os produtos e a devastação da natureza causada pela agropecuária.