O vereador Laércio Benko (PHS) usou o plenário da Câmara Municipal de São Paulo hoje, por volta das 15h30, para defender o uso de animais em rituais umbandistas e do candomblé. Ele criticou a proposta do deputado estadual Feliciano Filho (PEN), apresentada na Assembleia Legislativa no ano passado, que proíbe o sacrifício de animais em todo o Estado.
Benko argumentou que não existe sacrifício, e sim a ‘imolação’ dos animais “em religiões de matrizes africanas.” O parlamentar diz que são usados bodes e galinhas, e nunca animais como cachorros e gatos. Ele também acrescentou que existem diferentes vertentes dentro do candomblé e da umbanda e que a imolação é adotada apenas por algumas delas.
“Nós buscamos o axé do animal, que é o sangue e os miúdos que nós oferecemos aos nossos orixás e guias. Essa espiritualidade precisa da energia que vem do sangue e dos miúdos dos animais”, disse o vereador. “O animal não pode sofrer qualquer tipo de sofrimento antes. Ele recebe alimentação adequada, tratamento com ervas. É cortada a veia do animal, como em qualquer tipo de abate”, defende Benko.
O vereador de 40 anos, pré-candidato ao governo estadual, diz ser adepto e um “apaixonado” pela umbanda desde 2004. “Se o animal sofrer qualquer tipo de sofrimento, ele não pode participar da entrega (aos orixás)”, afirma o vereador do PHS, que antes era católico. “A pessoa, para defender o fim do uso dos animais em ritual religioso, ela tem de ser no mínimo vegetariana. Se não for é hipocrisia.”
Em seus primeiros oito meses como parlamentar, Benko tem sido um dos parlamentares mais atuantes no plenário do Legislativo paulistano. Ele já apresentou também mais de 60 projetos.
Fonte: Estadão
Nota da Redação: Não há justificativa ética para explorar, torturar, causar sofrimento ou tirar a vida de um animal por qualquer que seja o motivo. A argumentação do vereador de que não existe sacrifício, mas sim imolação, demonstra, além da inconsciência sobre o valor da vida, um desconhecimento sobre o significado da palavra imolação, que nada mais é que um sacrifício cruento, uma carnificina. Em outros tempos, crenças religiosas ofereciam bebês humanos ou virgens a entidades espirituais acreditando que assim poderiam aplacar sua fúria ou satisfazer-lhes as vontades. Do ponto de vista legal, moral e ético, hoje isso é absolutamente inaceitável. Não existe diferença no sacrifício de vidas, sejam humanas ou não, para obter favorecimentos de divindades. Segundo professam as religiões, Deus é amor, bondade e justiça, e matar uma vida, que é sagrada, para oferecer a Deus contraria a própria compreensão das leis espirituais. Segundo os estudiosos da doutrina, a Umbanda tem como base o respeito à vida e a todo o ser vivo. Quanto ao candomblé, segundo a Yalorixá Iya Senzaruban, nascida numa família de cultura tradicional do candomblé e filha de uma ekede e de um ogã, este também vem entrando num outro estágio com pessoas conscientes do direito à vida que todo animal, humano ou não, possui. Iya foi iniciada espiritualmente aos 7 anos e aos 14 anos tornou-se ‘mãe-de-santo’. Vegetariana, acabou descobrindo uma forma para substituir, em sua alimentação e nos rituais, os animais e ingredientes de origem animal, pois acredita que nada lhe dá o direito de matar outro ser.