O vereador por Cuiabá e candidato à reeleição Juarez Pereira Vidal, conhecido como Sargento Vidal (MDB), é investigado pelo Ministério Público de Mato Grosso por maus-tratos a cães e gatos que foram levados ao Santuário Mundo Animal.
O que aconteceu
Cães e gatos do local estavam magros, com carrapatos e sem atendimento veterinário frequente, apontou perita em 2022. O primeiro laudo sobre o santuário do vereador foi elaborado em novembro de 2022 pela Politec-MT (Perícia Oficial e Identificação Técnica de Mato Grosso) e encontrou os primeiros indícios de maus-tratos, segundo a perita Rosangela Maria Guarienti Ventura. O UOL, em parceria com o site VG Notícias, teve acesso aos documentos da investigação do MP contra o vereador.
“Somos vítimas de um grupo ligado a política”, disse a defesa do vereador, em nota enviada ao UOL. “Possuímos um arcabouço de provas contundentes que comprovam um trabalho probo em prol da causa animal por mais de duas décadas, com resgates de animais desnutridos e maltratados e até mutilados como também de filhotes.”
Animais também sofriam com sarna, parasitas e lesões, aponta investigação. A Politec-MT foi ao santuário, localizado na zona rural do município de Santo Antônio do Leverger, a 33 km de Cuiabá, e encontrou 8 cães e 18 gatos no local, no dia 9 de novembro de 2022. Os filhotes e adultos conviviam sem distinção, não havia triagem, registro individual e nem espaço de isolamento para os cães e gatos doentes, segundo a perícia. A triagem e isolamento em quarentena são medidas previstas pelo CRMV (Conselho Regional de Medicina Veterinária), para evitar a contaminação de outros animais que já estavam no abrigo.
Um cão morto, em avançado estado de decomposição, estava no local. A informação consta em outro relatório técnico, feito pelo CRVM (Conselho Regional de Medicina Veterinária) no dia 26 de outubro de 2022. O documento foi assinado pela veterinária Cristiane da Silva Campos e afirma que foram encontrados 19 gatos e 9 cães no Santuário Mundo Animal.
Sargento Vidal falou, em depoimento à polícia, que suspeita que o animal teria sido lançado já morto ao santuário, durante ausência do caseiro. “Um laudo pericial foi realizado em menos de uma hora em um dia, sem contraprova ou recolhimento de qualquer tipo de material e análise que comprovasse a data e a hora do óbito”, declarou a defesa, em nota ao UOL.
Zelador disse à perícia, segundo o inquérito, que o cão estava morto havia 40 dias. Na continuidade das investigações, o promotor Joelson Campos Maciel também solicitou uma nova perícia para verificar a causa da morte do animal e para averiguar se os animais subnutridos e doentes foram vítimas de maus-tratos no santuário ou se já chegaram ao local nessas condições.
Em depoimento à polícia, o zelador mudou a versão e disse que “não tinha conhecimento” sobre o animal morto. O funcionário foi convocado para prestar novo depoimento, porém a data não foi definida.
Sem comida aos finais de semana
Nova perícia foi determina no local há dois meses. No dia 25 de junho, o promotor de Justiça Joelson de Campos Maciel, da 16ª Promotoria de Justiça Cível de Defesa do Meio Ambiente Natural de Cuiabá, determinou a realização de uma perícia para complementar as informações sobre os supostos maus-tratos. Contudo, ela ainda não foi realizada.
Funcionário disse que os animais não eram alimentados aos sábados e domingos. Em depoimento à Polícia Civil, após a perícia, o funcionário do Santuário Mundo Animal afirmou ainda que a veterinária responsável ia “vez ou outra” até o local.
Canil e gatil apresentavam condições insalubres, com sujeira e ossos. Em alguns bebedouros havia lama, em vez de água, apontou o CRVM. A fiscalização encontrou produtos para desinfecção do local, porém não achou equipamentos de proteção individual para o zelador.
Medicamentos para os animais estavam guardados em local irregular. Conforme o relatório da médica veterinária, os remédios eram armazenados perto de onde o zelador se alimenta.
O que diz a defesa do vereador
A reportagem do UOL questionou o vereador Sargento Vidal sobre:
Os animais encontrados pela Politec-MT e CRMV com indícios de maus-tratos, como sarna, pulgas e subnutrição;
A perícia ter encontrado, segundo a investigação, um animal morto no local.
Veja nota da defesa do vereador:
O processo ainda se encontra em sede de investigação criminal, período em que se coletam provas, mas que não conseguimos visualizar a ampla defesa e nem o contraditório.
Podemos também afiançar que somos vítimas de um grupo ligado a política e temos como provar que os ataques são frutos de inveja corrosiva de pessoas que tentam macular a campanha política, induzindo a população simpática à causa animal a erro, fato que pode ser observado pela ausência ainda do contraditório e da ampla defesa.
Apesar de respeitarmos a imprensa livre, não podemos compactuar com esse tipo de tribunal de exceção, haja vista que um juiz togado imparcial vai julgar o caso e analisar o conjunto probatório, onde será garantida a ampla defesa respeitando dessa forma os direitos constitucionais.
Além dos apontamentos feitos aqui nesta nota, solicitamos que observem detidamente os e-mails dos quais partiram a denúncia, as manifestações ‘espontâneas’ no procedimento ainda unilateral e realize um trabalho investigativo sobre quem são as pessoas denunciantes, de qual gabinete político partiu e qual o interesse final. Como um laudo pericial foi realizado em menos de uma hora em um dia, sem contraprova ou recolhimento de qualquer tipo de material e análise, que comprovasse a data e a hora do óbito.
Fonte: UOL