Diz o ditado que só é possível preservar o que se conhece. No caso dos ursos-malaios, conhecidos também como “sun bears” (urso-sol) devido à pelagem dourada na cabeça e no peito, fama não é problema. Os chamados engenheiros da floresta, que vivem no sudeste asiático, são conhecidos por equilibrar a biodiversidade onde estão inseridos, porém avistá-los – isso sim – torna-se cada vez mais difícil.
Nas últimas décadas, florestas tropicais vêm sendo derrubadas para obtenção de madeira e desmatadas para criar plantações de óleo de palma, especialmente na Malásia e na Indonésia, detalha a Smithsonian Magazine. Além da pressão da perda de habitat, os ursos são caçados, seja por suas vesículas biliares, que contêm bile usada na medicina tradicional chinesa, com por suas patas, consideradas uma iguaria culinária asiática. Há também, como em toda parte do globo, a ameaça do tráfico de animais.
Como resultado, as populações de ursos-do-sol caíram cerca de 35% ou mais nas últimas três décadas, segundo a IUCN (União Internacional para a Conservação da Natureza). Mas as estatísticas sobre este animal são tão raras que a própria união decidiu formar uma força-tarefa para levantar mais precisamente o estado da população desta espécie.
“Os ursos-malaios são espécies dependentes da floresta e, portanto, a perda de área florestal está diretamente ligada ao declínio populacional. O sudeste asiático, que aloca quase toda a população deste animal, tem experimentado uma taxa relativa de perda florestal mais elevada nos últimos 30 anos do que qualquer outra parte do mundo”, destaca a IUCN.
O esforço combinará novos dados de armadilhas fotográficas, pesquisas de campo e contribuições de centenas de especialistas para determinar a presença de ursos-malaios.
Avistamentos confirmados de ursos serão usados para criar um modelo de computador que prevê onde mais os animais “deveriam estar”, calculando a probabilidade com base em atributos como cobertura de árvores, espécies de árvores, idade e elevação da floresta, e a localização de estradas e limites de áreas protegidas.
O mapa de distribuição atualizado será uma importante ferramenta para identificar as áreas de maior prioridade para a conservação dos ursos-malaios, identificando, por exemplo, populações perigosamente pequenas e localizando corredores que poderiam conectar habitats isolados de ursos, separados por áreas desmatadas.
“As populações de ursos-malaios podem estar desaparecendo em pequenas manchas florestais sem o nosso conhecimento”, diz Dave Garshelis, copresidente do grupo de especialistas em ursos da IUCN. “Precisamos desta informação para destacar onde as ações diretas de conservação devem ser focadas.”
O menor urso do mundo, essa espécie pesa “apenas” 60 quilos quando adulto. Em seu trabalho de engenharia florestal, este animal usa caninos tão grandes quanto os de um urso polar para morder pedaços de árvores e ter acesso às colmeias, sorvendo o mel com uma língua que pode atingir até 25 centímetros de comprimento.
As cavidades que eles criam nas árvores viram casa para outros animais, como esquilos voadores. Garras de dez centímetros podem quebrar troncos apodrecidos em busca de larvas e besouros e cavar em busca de minhocas, aumentando a decomposição e a reciclagem de nutrientes na camada superficial do solo.
E, quando frutas como figos estão disponíveis, os ursos se alimentam e dispersam as sementes em seus excrementos, ajudando a regeneração da floresta. Quando as frutas não estão na estação, eles saqueiam ninhos de cupins, protegendo as árvores de insetos destrutivos.
Fonte: Um Só Planeta