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Veja como funciona aplicativo que ajuda agricultores a restaurar o Cerrado

13 de fevereiro de 2022
6 min. de leitura
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Cerrado (Foto: Globo Repórter/ Reprodução)

Pesquisadores da Universidade de Brasília (UnB) desenvolveram um aplicativo que auxilia agricultores, técnicos e governo a mapear e monitorar áreas do Cerrado em processo de restauração, a baixo custo. O programa, batizado de Radis Cerradoé gratuito e está disponível para o sistema Android, desde novembro 2021.

A tecnologia foi desenvolvida em um momento que o desmatamento do Cerrado alcançou a pior marca dos últimos seis anos. Em 12 meses, uma área equivalente a quase duas vezes o tamanho do Distrito Federal foi perdida para o desmatamento.

Com o aplicativo, por meio do GPS do celular, o produtor consegue mapear a propriedade e as áreas desmatadas, registrando informações sobre o imóvel, a produção e a vegetação nativa. Ao se conectar à internet, os dados são enviados para a nuvem e acessados, quase que instantaneamente, pelo órgão ambiental.

Por que Radis Cerrado?

App desenvolvido por pesquisadores da UnB permite mapear e monitorar áreas em recomposição com maior rapidez e precisão (Foto: Restaura Cerrado/Divulgação)

O software foi desenvolvido por integrantes do Centro de Gestão e Inovação da Agricultura Familiar (Cegafi) da UnB, dentro do Projeto Restaura Cerrado. O trabalho contou com o apoio do Instituto Internacional de Educação do Brasil (IEB), da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) e do Instituto Brasília Ambiental (Ibram), entre outros parceiros.

O nome do App veio de outra iniciativa realizada recentemente pela universidade, o projeto Regularização Ambiental e Diagnóstico de Sistemas Agrários, quando foram coletados dados de 20 mil produtores rurais em cerca de 110 assentamentos, no norte do Mato Grosso.

“O aplicativo Radis Cerrado surgiu a partir do projeto Radis na Amazônia”, diz o professor Mário Ávila, um dos coordenadores do projeto. De acordo com o docente, o nome também faz alusão à palavra latim “radix”, que significa “raiz”.

Além do mapeamento, o app oferece a proposta de recomposição da área e, após o plantio, é possível acompanhar o crescimento da vegetação com base em indicadores, como proporção de espécies exóticas e nativas, densidade de plantas e cobertura de solo e copa.

“Com base nas informações fornecidas pelos agricultores, estabelecemos como deve ser feita a restauração”, diz o pesquisador.

No Distrito Federal, a Instrução Normativa do Ibram nº 33/2020 exige a apresentação, pelos responsáveis legais, de relatórios anuais sobre a recomposição da área desmatada. O Radis Cerrado facilita o monitoramento das áreas cadastradas pelos usuários da plataforma, apontam os criadores do App.

Ação a longo prazo

O casal Lindaura e João Batista Queiroz fez um trabalho de reflorestamento com árvores nativas do Cerrado no assentamento Oziel Alves, em Planaltina (DF) — Foto: Raimundo Sampaio (Restaura Cerrado)/Divulgação)

O aplicativo ainda está em fase inicial de testes, sendo usado por cerca de 20 produtores do DF. “Temos acompanhado constantemente os dados. O processo de restauração de um bioma é um investimento a longo prazo, demora anos para começar a apresentar resultados”, diz o professor Mário Ávila.

“Mas, o simples fato de haver uma demanda espontânea da sociedade e das empresas em busca de ferramentas que ajudem a alcançar esse objetivo, significa que há uma mudança em curso”, aposta o pesquisador.

Ainda de acordo com Ávila, a ideia é que o aplicativo Radis Cerrado seja utilizado no restante do país para ajudar na restauração e preservação do bioma ameaçado.

‘Berço das águas’

Para Mário Ávila, formular caminhos e iniciativas que permitam conciliar produção agrícola com consciência ambiental não é importante apenas para a conservação do Cerrado, mas para a manutenção do equilíbrio hidrológico do país.

“A questão é a sobrevivência do Brasil, como um todo. O Cerrado é o berço das águas. É daqui que ‘mandamos’ chuva para o país inteiro, é aqui que estão as nascentes de diversos rios que abastecem várias bacias hidrográficas, e que são usados para irrigação e transporte de alimentos”, diz Ávila.

Para o coordenador do projeto, é fundamental agir e pensar também nas gerações futuras e, “inclusive, no agronegócio, que destrói”. Segundo o pesquisador, “sem o Cerrado não sobreviveremos por muito tempo”.

Desmatamento no Cerrado

De agosto de 2020 a julho de 2021, foram desmatados mais de 8,5 mil quilômetros quadrados de vegetação nativa (8.531,44 km²) – um aumento de quase 8% em relação aos 12 meses anteriores. É o maior índice de desmatamento do Cerrado desde 2016.

O Maranhão foi o estado que apresentou a maior área de vegetação desmatada, com mais de 2 mil quilômetros quadrados (2.281,72 km²), seguido por Tocantins (1.710,55 km²) e Bahia (925,11 km²). Os três estados formam a mais recente fronteira agrícola do país, chamada de Matopiba.

O Cerrado é chamado de berço das águas porque irriga 40% do território brasileiro e alimenta oito das 12 principais bacias hidrográficas do país. Ele responde por mais de 90% da vazão da bacia do São Francisco e por quase metade de toda a vazão da bacia do rio Paraná, que abastece a Hidrelétrica de Itaipu.

Fonte: G1

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