Por Fabíola Musarra
Milhares de pessoas vêm abandonando o hábito de comer carne em busca de um estilo de vida alternativo inspirado pela rejeição ética ao consumo de alimentos de origem animal. Várias celebridades já abraçaram essa bandeira, como o ex-beatle Paul McCartney e o presidente norteamericano Barack Obama. Mas, longe de ser um modismo, o vegetarianismo é um movimento com 2 mil anos de história e 200 anos de militância: nos Estados Unidos, um em cada cinco universitários já aboliu a carne. No Brasil, a novidade é o avanço da sua vertente mais radical, o veganismo. Enquanto a dieta vegetariana recusa todo tipo de carne, mas consome queijo, leite, ovos, mel ou iogurte, o veganismo, surgido em 1944, na Inglaterra, a partir de uma dissidência do vegetarianismo, não admite nada derivado de animal, seja comida, seja roupas, seja cosméticos ou joias.
No fim do ano passado, uma pesquisa da Escola Superior de Propaganda e Marketing de São Paulo contabilizou 4% de vegetarianos entre jovens de São Paulo e Rio, das classes A, B e C. Nas grandes cidades aumenta o número de restaurantes, sites, publicações e a oferta de produtos próprios para o consumo vegetariano. As duas maiores indústrias de carne do país, a Sadia e a Perdigão (atualmente unificadas na Brasil Foods), já criaram linhas de alimentos vegetarianos à base de proteína de soja. No ano passado, um grupo de estudiosos fundou a Sociedade Vegana para estabelecer um marco de referência teórica e fornecer informação ao movimento. No Orkut, um site da comunidade vegana reúne 19 mil adeptos.
Veganismo e vegetarianismo ganham adeptos om uma filosofia que descarta o consumo de carne, sensível ao sofrimento dos animais e à ecologia. A questão ética que levantam implica impasses não resolvidos. Mas não há dúvida de que o impacto ambiental da pecuária no planeta é cada vez maior.
Ao largo dessa efervescência, o consumo de carne cresce aceleradamente no Brasil devido à melhoria na distribuição de renda e à democratização do consumo. Segundo o Ministério da Agricultura, o consumo per capita de bovinos atingiu 37,5 quilos em 2010, 5% a mais do que em 2009 – apesar de uma alta de 38% no preço. Com a melhoria das dietas, a tendência é aumentar o consumo de proteínas. O vegetarianismo, portanto, é um nicho, e o veganismo o nicho do nicho.
Muitos dos que estão aderindo à dieta ética atualmente rejeitam a carne por motivos ambientais. A pecuária é o maior emissor de metano, um dos gases mais poluidores do efeito estufa que esquenta a temperatura do planeta, 23 vezes mais duradouro na atmosfera do que o dióxido de carbono. O impacto da criação e do abate de animais sobre o ambiente e a saúde pública também preocupa órgãos como a Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO) e o Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC).
Opção existencial
“O que eu mais gosto no veganismo é saber que passei mais um dia sem ter de matar alguém para continuar vivo”, orgulha-se o tatuador paulista Fernando Franco Enei Franceschi, 36 anos, mais conhecido por Teté. Vegetariano desde 1993, Teté não tolera os métodos industriais de criação intensiva e de abate dos animais, que considera cruéis. “Acho intolerável os bichos sofrerem e ser sacrificados para nos alimentar”, diz. Em 1997, ele aderiu ao veganismo, adotando a decisão de não mais compactuar com a exploração dos animais.
Teté não compra produtos feitos com couro, lã ou materiais provenientes de bichos. De casacos a tênis, sua opção sempre recai em modelos manufaturados com lona, algodão, materiais sintéticos e jeans. Quanto aos xampus, sabonetes, cremes de barbear e demais itens de perfumaria e higiene, só usa os que respeitam a filosofia vegana, de não incluir substâncias animais na composição. “Faço duas tatuagens por dia. Esse é meu ganhapão. Mas mesmo a tinta que uso para tatuar não contém nenhum derivado animal”, afirma.
Fonte: Revista Planeta