Uma das espécies de tartaruga marinha mais ameaçadas do mundo pode ser prejudicada pelo vazamento de petróleo no Golfo do México, que está se espalhando pela costa americana na região do delta do Mississipi, em Louisianna. O óleo escapa a uma vazão de 5 mil barris por dia, vindos de um poço da British Petroleum (BP).
O único local onde a espécie tartaruga-de-kemp põe seus ovos é no oeste do Golfo do México, e uma das suas principais áreas de alimentação é justamente a região que está sendo afetada pelo vazamento, segundo a página da internet da Administração Nacional Oceânica e Atmosférica (NOAA, na sigla em inglês) dos Estados Unidos. A espécie está criticamente ameaçada de extinção, no nível máximo da “lista vermelha” da União Internacional para Conservação da Natureza.
“O petróleo não é bom para estes animais porque é tóxico e pode matá-los”, disse Andre Landry, um biólogo marinho que coordena o Laboratório de Pesquisa em Ecologia de Pesca e Tartaruga Marinha na Texas A&M University, em Galveston. A contaminação de petróleo na costa “vai afetar as tartarugas-de-kemp desde as mais jovens até as adultas, assim como sua alimentação e habitats”.
O vazamento – que começou quando uma sonda de perfuração pegou fogo e afundou há uma semana – pode ultrapassar, em tamanho, o vazamento de petróleo da Exxon Valdez no Alaska em 1989, até a terceira semana de junho, se continuar com a mesma vazão. Isso põe em perigo habitats marinhos e costeiros, além de baleias e golfinhos até camarões e caranguejos.
“A BP está trabalhando com todas as agências para tentar proteger o meio ambiente”, disse a porta-voz da empresa, Sheila Williams. “Um extensivo plano de proteção da linha costeira está sendo implementado com mais de 30 mil metros de barragens sendo colocadas. Continuamos a monitorar a situação costeira”. Cerca de 22 espécies de mamíferos marinhos sob proteção habitam “rotineiramente” o norte do Golfo do México, de acordo com a NOAA.
“A maior ameaça para as baleias com o derramamento de óleo é, provavelmente, a incrustação das barbatanas”, afirmou a NOAA no seu website, com relação aos dentes em formato de pelo que algumas baleias possuem. “Se essas baleias ingerirem óleo, isso pode obstruir esses dentes e levá-las à fome e à morte.”
O número de fêmeas em período de procriação das tartarugas-de-kemp, que põe os ovos especialmente em apenas uma praia – em Tamaulipas, no leste do México -, diminuiu para 350 em 1985, depois de ter atingido um pico de 8 mil, de acordo com Landry. Ele afirmou que, em 1947, até 40 mil fêmeas fizeram seus ninhos em um único dia.
“O número de tartarugas-de kemp tem sido reduzido ao longo de tempo e agora elas estão sendo agredidas novamente”, disse Richard Page, ativista responsável pelas campanhas relacionadas a oceanos na ONG Greenpeace em Londres. “É a espécie de tartaruga marinha mais ameaçada de extinção que existe, e os animais ingerirão óleo e toxinas. Tenho certeza de que haverá mortes.”
Fonte: Estadão