Visitantes que esperam conhecer a exótica vida marinha da Austrália quase sempre pensam na Grande Barreira de Coral. Mas ambientalistas dizem que um ambiente marinho, igualmente impressionante, porém menos conhecido, está sob a ameaça da intensa exploração de petróleo e gás próximo aos corais e atóis presentes no nordeste da costa australiana.
Um poço de óleo danificado está jorrando na região milhares de galões de petróleo no Mar de Timor desde 21 de agosto, quando um acidente forçou a evacuação de todos os 69 trabalhadores da plataforma. Tripulações de emergência estão trabalhando para conter o derrame, mas oficiais dizem que pode levar mais três semanas para tapar o vazamento.
A plataforma fica acima da reserva natural de Montara, cerca de 250 quilômetros a nordeste da Base Aérea de Mungalalu Truscott, na região remota de Kimberley, no país. O poço com vazamento é da companhia nacional de petróleo da Tailândia, a PTT Exploration and Production, uma das muitas empresas de energia que montaram operações no extremo oeste da Austrália para alimentar o apetite asiático por crescimento com o comércio de petróleo e gás.
Na primeira metade deste ano, mais de 50 poços foram perfurados nas águas tropicais do oeste australiano, além de centenas de outros projetos recentes. No mês passado, o governo deu permissão para a Chevron expandir a exploração da enorme reserva de gás Gordon, um projeto de US$ 40 bilhões, ao qual ambientalistas se opuseram devido ao potencial impacto que poderia causar no meio ambiente.
Os economistas dão crédito ao intenso comércio de combustíveis naturais por ajudar a Austrália a escapar das consequências da crise mundial, mas ambientalistas dizem que essa prosperidade terá um preço. Eles afirmam que o derramamento de petróleo em Montara é apenas um sinal do que pode acontecer, a menos que sejam estendidas maiores proteções às vastas extensões de barreiras de corais tropicais no noroeste da Austrália.
“É um conflito clássico entre o desenvolvimento e os valores ecológicos da região”, disse John Carey, gerente do Programa de Preservação de Kimberley com o Grupo Ambiental Pew. “Precisamos conseguir um equilíbrio. Mas, no momento, o balanço é de que menos de 1% dessa área de importância global está sob nenhuma forma de proteção”.
A companhia de petróleo tailandesa disse que ainda está investigando a causa do derrame. Para parar o vazamento, a companhia contratou um equipamento especial para perfurar até 2.500 quilômetros abaixo do solo oceânico e preencher a área com uma lama densa.
Mas esse equipamento altamente especializado não é fácil conseguir. Levou três semanas para rebocá-lo desde Cingapura.
A companhia se recusou a estimar o quanto de combustível foi jorrado no mar, dizendo que é muito arriscado conseguir medidas exatas de uma fonte danificada. Funcionários da corporação e da marinha australiana, que estão ajudando a limpar o vazamento, dizem que a área atingida é de cerca de 40 quilômetros de largura e 136 de comprimento, mas que o vazamento parece estar diminuindo.
O ministro do meio ambiente, Peter Garrett, disse neste mês que o governo acreditava que 300 a 400 barris de petróleo estão sendo jorrados no mar a cada dia. Isso significa um vazamento de mais de 450 mil galões, e quantidades desconhecidas de gás condensado, desde que o derramamento começou. De acordo com essa contagem, o rombo de Montara é relativamente pequeno. Em comparação, a Exxon Valdez despejou 11 milhões de galões quando encalhou na costa do Alasca, em 1989.
O jorro de petróleo não atingiu nenhuma margem da costa, em parte graças ao clima calmo e aos esforços do governo australiano de dispersar o derramamento com um químico próprio para isso. Mas os ambientalistas se preocupam com que o vazamento tenha um preço alto em relação aos animais marinhos que se alimentam e viajam na superfície do oceano ou próximo a ela.
“Precisamos acabar com o mito de que um vazamento de petróleo é apenas um problema quando chega às praias”, disse Gilly Llewellyn, administrador do programa de preservação com a WWF australiana.
Fonte: Último Segundo