O cenário é por si só desolador: depois de 17 dias em chamas, controladas apenas na terça-feira, a destruição de 40% do Parque Nacional da Serra da Canastra, no Centro-Oeste de Minas, extensão equivalente a 84 mil campos de futebol. E, para ampliar a gravidade da tragédia, o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), que gerencia a área verde, sustenta que o berço do Rio São Francisco foi alvo de ação criminosa. Ainda não se sabe a medida exata das perdas, mas, além da vasta área de cerrado e campos rupestres transformados em cinzas, brigadistas encontraram mortos na terça-feira, no caminho marcado pelo fogo, pequenos roedores e dois tamanduás-bandeira, espécie ameaçada de extinção.
Estimativa inicial do ICMBio calcula que metade dos 70 mil hectares legais e pouco mais de um terço dos 140 mil hectares não regularizados tenham sido queimados. O laudo da perícia sairá em 20 dias, mas a principal suspeita é de que os responsáveis tenham sido fazendeiros do entorno do parque. A questão fundiária é um dos maiores problemas da unidade de conservação. “Vamos agir para responsabilizar essas pessoas. Administrativamente, a multa varia de R$ 1 mil a R$ 5 mil por hectare. Também podemos entrar com uma ação civil pedindo ressarcimento dos valores gastos para apagar o fogo”, afirma o coordenador-geral de proteção ambiental do instituto, Paulo Carneiro.
Ele destaca que, apenas neste ano, é o sétimo incêndio que atinge a Canastra. Levantamento divulgado terça-feira pelo Ministério do Meio Ambiente (MMA) indica que o parque é a quinta unidade de conservação do país com mais focos de calor em agosto, 1.049, ficando atrás apenas de duas reservas no Pará e duas no Tocantins. Os registros não significam, objetivamente, números de queimadas, mas podem sinalizar para o risco de elas acontecerem. O estudo detalha 108 áreas críticas de incêndios no país.
Prejuízos
Segundo Carneiro, os prejuízos da devastação são incalculáveis. “Não sabemos em quanto tempo a vegetação vai se recuperar nem se vai se recuperar. O impacto na fauna é ainda maior. Não há muitas áreas remanescentes para os animais fugirem”, ressalta. Além de 47 brigadistas do ICMBio e 24 funcionários do parque, atuaram terça-feira no controle do fogo 15 voluntários da Serra do Caparaó e sete bombeiros. A equipe contou com quatro aviões air track e dois helicópteros, destinados a despejar água sobre os focos, entre outros equipamentos. “A questão agora é a prevenção e a fiscalização”, observa o sargento do Corpo de Bombeiros (Cobom) Geovanni César de Oliveira.
Segundo o meteorologista do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) José Felipe Farias, pelo menos até quinta-feira o tempo na região continuará propício para novas queimadas, sem chuvas e com baixa umidade relativa do ar.
Fonte: Uai Notícias