Um estudo conduzido pela Universidade de Bristol, em parceria com o Instituto de Biologia Animal, trouxe à tona dados surpreendentes sobre o comportamento social das vacas. A pesquisa revelou que esses animais não apenas escolhem amizades dentro do rebanho, como também apresentam sinais claros de bem-estar quando estão com suas companheiras preferidas — e de sofrimento quando são separadas delas.
Os pesquisadores observaram que as vacas demonstram preferência por dois ou três indivíduos específicos, com os quais mantêm contato frequente. Essas relações são marcadas por proximidade física, sessões de lambedura mútua e preferência por pastar juntas, o que evidencia uma escolha consciente de laços afetivos.
A presença da “melhor amiga” gera efeitos fisiológicos positivos: a frequência cardíaca das vacas pode cair até 15%, os níveis de cortisol — o hormônio do estresse — diminuem, e o tempo de ruminação, um importante indicador de bem-estar, aumenta. No entanto, a separação dessas companheiras causa impactos significativos. Entre os sinais observados estão o aumento das vocalizações — como chamados de angústia —, comportamentos repetitivos e até mesmo uma queda na produção de leite.
“Quando estão com sua melhor amiga, as vacas mostram os mesmos sinais fisiológicos de relaxamento que os humanos com seus entes queridos”, explica a Dra. Emma Butterworth, principal autora do estudo.
Para chegar a essas conclusões, os cientistas combinaram observação comportamental com monitoramento fisiológico. Além de acompanhar o tempo de interação entre os animais, também analisaram variáveis como batimentos cardíacos, níveis hormonais e atividade cerebral.
As implicações do estudo vão além da curiosidade científica. Especialistas em bem-estar animal defendem que os resultados devem influenciar a forma como o gado é manejado nas fazendas. Manter juntas as duplas mais próximas não só promove o bem-estar dos animais, como também pode resultar em um aumento de até 10% na produção de leite.
“Devemos vê-las como seres sociais, não apenas como unidades produtivas”, afirma o professor John Webster, referência na área de bem-estar animal. A descoberta lança luz sobre a complexidade emocional das vacas e propõe uma mudança de paradigma na pecuária moderna.