EnglishEspañolPortuguês

FINAL FELIZ

Vaca que passava fome se recupera após resgate e dá à luz um bezerro saudável

A vaca Nina e seu filhote tiveram a chance que é negada a milhões de animais explorados para a produção de leite e carne. Tratados com carinho, o bezerro e sua mãe estão vivendo longe do sofrimento imposto pela agropecuária

28 de junho de 2021
Mariana Dandara | Redação ANDA
5 min. de leitura
A-
A+
Nina dá carinho ao filhote Landinho Foto: Reprodução/TV TEM

Uma vaca resgatada após maus-tratos teve sua vida transformada em Catanduva, no interior do estado de São Paulo. Assim como aconteceu com seu filhote, que teve a chance de nascer cercado de cuidados graças ao resgate.

No dia em que foi salva, a vaca estava tão debilitada que não foi possível a equipe de resgate notar que ela carregava um filhote em seu útero. A gravidez, descoberta depois, acabou se tornando motivo de alegria, já que logo após nascer o bezerro conquistou o coração dos funcionários da Secretaria de Meio Ambiente de Catanduva, que ficou responsável pelos animais.

“É o xodó de todo mundo. Os tratadores cuidam muito bem. Ele é muito paparicado”, contou ao G1 a médica veterinária Cristina Canossa. Nascido há poucas semanas, o filhote recebeu o nome de Landinho.

Já a vaca passou a ser chamada de Nina. Resgatada pela Guarda Civil Municipal (GCM), ela foi encontrada caída no chão por conta de seu estado grave de saúde. Extremamente magra, Nina tinha ferimentos pelo corpo que lhe causavam grande sofrimento. Seu antigo tutor está sendo investigado pelo crime de maus-tratos a animais.

Landinho dorme tranquilo e recebe cuidados de tratadores e veterinários Foto: Reprodução/TV TEM

Segundo a veterinária, Nina “não levantava e não tinha forças”. “Estava morrendo de fome e sede”, contou. Mas bastou tratar a vaca com carinho e oferecer os cuidados necessários, que Nina renasceu e ainda presenteou a equipe da secretaria com o nascimento de Landinho. “A gente trocou o tratamento e deu tudo certo”, relembrou Cristina.

E a alegria de saber que mãe e filho estão bem não é só da equipe da Secretaria de Meio Ambiente, mas também do comandante da Guarda Civil Municipal. Para Manoel da Costa Franco Pereira, é recompensador ver o resultado do resgate de Nina.

“Não tivemos condições de saber que a vaca estava prenha no momento do resgate. Porém, foi feito um trabalho fantástico. Agora a Nina está bem”, afirmou Pereira.

Agentes da GCM dão atenção ao bezerro, que adora receber carinho Foto: Reprodução/TV TEM

Acolhidos e bem cuidados, Nina e Landinho vivem atualmente em um espaço onde estão abrigados mais de 30 animais resgatados após serem abandonados ou maltratados. “Temos uma equipe composta por veterinários e tratadores. Eles prestam todos os cuidados diários. Os animais chegam e realizamos o tratamento. Eles ficam soltos durante o dia”, pontuou ao G1 a secretária de Meio Ambiente, Júlia Cassiano Wayego.

Por mais respeito aos animais

Vacas e bezerros fazem parte das espécies de animais tratadas como máquinas produtoras – seja de carne ou de derivados, como leite e queijo. O sofrimento vivido por uma vaca considerada vítima de maus-tratos pela lei – como é o caso de Nina – não é diferente do que é vivenciado pelas vacas exploradas para a produção de leite e carne.

Da mesma forma, o sofrimento que vive um filhote de uma vaca reconhecida pelas autoridades como maltratada não se difere em nada do que é vivido por um bezerro na indústria. Em alguns casos – como o de bezerros resgatados antes da vaca maltratada parir ou salvos logo após o nascimento -, o sofrimento é menor do que o vivenciado por filhotes nascidos para serem explorados e mortos pela agropecuária.

Vistas como objetos incapazes de sofrer, vacas são alteradas geneticamente para produzir mais leite e diariamente são manejadas, inclusive de maneira mecânica através de equipamentos, para a retirada desse leite. Esses fatores somados dão origem a inflamações nas mamas denominadas “mastites”. Com a inflamação, vem a dor. Isso, porém, não faz com que elas sejam retiradas desse sistema enquanto estiverem adoecidas. Pelo contrário, continuam tendo suas mamas inflamadas manuseadas por humanos ou por máquinas. Após anos de exploração, quando se tornam inúteis para a produção de leite, esses animais são covardemente mortos.

O matadouro é também o destino dos bezerros explorados para a produção de carne de vitela – filhotes advindos de vacas leiteiras, ao contrário dos machos que nascem para ser explorados para produção de diversos cortes de carne. Os consumidores se atentam apenas ao sabor e à maciez da carne de vitela, mas não têm conhecimento – ou preferem ignorar as informações sobre o assunto – sobre os horrores dessa indústria. Confinados ou amarrados em baias pequenas ou ainda presos em caixas fechadas com passagem apenas para o oxigênio, esses pequenos, frágeis e inocentes filhotes amargam por meses em condições miseráveis. Recebem alimentação com baixa capacidade nutricional e vivem presos para que se movimentem o mínimo possível. O objetivo é evitar que desenvolvam seus músculos e é assim que a carne de cada um deles se torna macia.

Além desses fatos que configuram um padrão da agropecuária no tratamento a esses animais, há ainda o sofrimento emocional e psicológico. Vacas e bezerros vivem um amor recíproco, assim como acontece na maternidade humana. Esse sentimento nutrido entre mãe e filhote não só serve para provar que os humanos se agarram à prepotência quando acham que apenas as pessoas são capazes de amar, como expõe outro lado do sofrimento animal: aquele que ocorre quando a vaca e o bezerro são separados.

Em pequenos sítios, a vaca é afastada do bezerro pela manhã e só volta a encontrar seu filhote no final do dia, após o anoitecer. Esse distanciamento, por si só, é gerador de grande sofrimento para esses animais. Os bezerros ficam buscando pelas mães, que mugem desesperadas tentando encontrá-los. Em grandes propriedades rurais, a situação é ainda pior. Bezerros costumam ser separados definitivamente das vacas logo nos primeiros dias de vida e nunca mais encontram suas mães, que se desesperam sem as crias pelas quais nutrem tanto afeto. Os filhotes, por sua vez, não só são levados para longe das vacas, como são deixados sozinhos. Acabaram de nascer, não conhecem o mundo e estão assustados, mas por serem tratados como objetos a serviço dos humanos, enfrentam as dores físicas e psicológicas de viver sozinhos, sem a proteção da figura materna, até serem mortos. Ou, em outros casos, são destinados a rodeios para serem torturados e explorados para entretenimento humano.

Você viu?

Ir para o topo