Segundo o Programa USP Convive, abandono aumenta no recesso escolar
Canil enfrenta falta de estrutura e superlotação
Em ano de comemoração de uma década de existência, a equipe do Canil da Universidade de São Paulo (USP) e do Programa USP Convive, responsável por cuidar dos animais do campus, está começando 2011 com um lembrete à sociedade: o abandono de animais é crime. A frase está estampada em uma série de cartazes espalhados pelo campus da capital da USP, seguida pelo aviso “Estamos de olho”.
De acordo com o professor Tibor Rabóczkay, presidente do Programa USP Convive, a mensagem é propositalmente agressiva. “Apelar para o bom sentimento das pessoas nem sempre funciona. Precisa dar um certo baque. Se pegarmos alguém abandonando animal no campus, é caso de delegacia, pois é proibido por lei”, diz.
E o contexto para a campanha não poderia ser melhor, pois, segundo Rabóczkay, dezembro, janeiro e fevereiro apresentam um crescimento no número de cachorros abandonados na universidade por ser período de recesso. “Nessa época, os voluntários e os componentes do programa já tremem nas bases. Fulano viaja para a praia, abandona o animal, volta da praia, compra outro e no próximo verão abandona de novo. É um desrespeito total à vida”, comenta.
Superlotação
Apesar de não saber exatamente qual é o aumento no abandono, Rabóczkay diz que a média de cães deixados no campus é de dez por mês, número suficiente para deixar o canil em um estado constante de superlotação. Atualmente, o local está abrigando cerca de cem cachorros, mas ainda há 80 vagando pela universidade. O programa recebe solicitações constantes de funcionários, alunos e visitantes da USP que se queixam de ter visto um animal em condições precárias ou agressivas. O recolhimento, porém, é feito na medida em que surgem vagas no espaço, o que acontece apenas com doações.
Segundo o professor José Sidnei Colombo Martini, da Coordenadoria do Campus da Capital (Cocesp), um programa de reestruturação do canil já está sendo feito em conjunto com a Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da USP (FMVZ). “A atual instalação já tem mais de dez anos, então temos que modernizar o espaço. Ela também será adequada à quantidade de cachorros do canil para lidar com o problema da lotação”, diz.
O coordenador também atenta para o fato de que o canil é, antes de tudo, um abrigo temporário para os animais. “Eles passam por aqui, são cuidados e então oferecidos à sociedade com doações. Não é uma estadia permanente”, afirma. “E com a atual política de divulgação [contra o abandono], nós esperamos que esse número vá reduzindo gradualmente. Mas como nós não temos controle sobre isso, estamos nos preparando para enfrentar a situação na medida do possível.”
Voluntários
O Programa USP Convive e o canil une tanto funcionários da universidade quanto voluntários. Ele foi criado em 17 de outubro de 2001 por meio de uma portaria do então reitor, o professor Jacques Marcovitch. Segundo o professor José Sidnei, funcionários da USP foram convidados e indicados pela portaria para cuidar dos animais. Desde então, um grupo de jovens externo à USP e chamado de “Patinhas Online” se associou ao programa voluntariamente.
“O voluntário se dedica mais. Ele vai à feira de doação, organiza eventos pra arrecadar dinheiro, faz trabalho de socialização dos cães, dá banho, passeia”, conta Elizabeth Rabóczkay, uma das integrantes do programa e também funcionária da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP (FFLCH). Ela foi indicada pela portaria em 2001, sendo considerada uma das funcionárias mais antigas e dedicadas do canil. “É muito importante ter voluntários, pois sem eles fica difícil de fazer todos os trabalhos de castrar, comprar vacinas, entre outros.”
Elizabeth visita os cachorros pelo menos três vezes ao dia, além de levá-los ao veterinário. “Vivemos mais de doação porque a universidade só serve o espaço e a ração. E os gastos com veterinário são muito altos. Todo mês é mais ou menos R$ 2 mil, pois o animal abandonado no campus, ou já foi abandonado doente, ou ele pega uma doença”, conta.
De acordo com o professor Tibor Rabóczkay, os procedimentos de castração e de tratamento dos animais são feitos em clínicas particulares, que cobram mais barato para o canil. O coordenador José Sidnei afirma que a Cocesp está trabalhando para intensificar as relações com a Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia , para que não apenas professores, mas também alunos possam trabalhar de uma forma mais intensa com o Programa USP Convive.
Doações
Pelo menos uma vez ao mês, geralmente no último domingo, é feito um mutirão no espaço do canil. O espaço é limpo e dedetizado contra carrapatos e os animais são vacinados. Voluntários e padrinhos dos animais também visitam o local. “Pais fazem questão de trazer crianças pra elas já irem entendendo o problema do abandono e outros tipos de crueldade”, conta Elizabeth, frisando que muitas doações acontecem nesse momento.
Apesar do sucesso das doações, que variam entre 8 e 12 por mês, o número de cachorros no canil é balanceado com a quantidade de animais abandonados a cada dia, colaborando com a superlotação. Por isso a campanha contra o abandono é tão importante, acredita o coordenador da Cocesp. “Se a sociedade se mobilizar para adotar esses animais, talvez esse número caia. Se ninguém mais abandonar cães na universidade, lógico que esse número vai cair também”, diz. “Então nós estamos, como uma universidade, atuando no caminho da educação, dizendo para as pessoas que vem aqui no campus que abandonar é um crime. Afinal, esse é um problema da sociedade inteira.”
Fonte: G1
Para ser um voluntário do projeto, fazer doações ou adotar um cão, visite www.patinhasonline.com.br ou envie um e-mail para [email protected].