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ALERTA

Uso de antibióticos pela pecuária está favorecendo o surgimento de superbactérias

7 de dezembro de 2021
Dr. Chris Van Tulleken (Daily Mail) | Traduzido por Luna Mayra Fraga Cury Freitas
3 min. de leitura
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Foto: Ilustração | Pixabay

Sempre que vamos comprar comida, corremos o risco de estar contribuindo involuntariamente para uma das emergências de saúde pública mais perigosas do mundo.

Novas pesquisas alertam como itens cotidianos, desde pizza até iogurte, podem estar contribuindo para o surgimento de superbactérias resistentes a antibióticos que podem matar milhões de pessoas.

Fazendas com baixos níveis de bem-estar animal ao redor do mundo são as culpadas. Mais da metade dos antibióticos do mundo não são dados às pessoas, mas usados na pecuária – e são passados para humanos quando consumimos esses produtos animais.

Os animais criados para serrem utilizados em produtos baratos são muitas vezes mantidos em condições cruelmente sujas, locais apertados e estressantes, o que promove a rápida disseminação de doenças infecciosas.

Em vez de melhorar as condições de vida dos animais, os agricultores acham mais barato – e mais rentável – dar aos animais doses rotineiras de antibióticos regulares na esperança de prevenir surtos de infecções.

Mas quando os agricultores dão antibióticos excessivamente e desnecessariamente, eles estão, na verdade, contribuindo para que bactérias infecciosas comuns evoluam para superbactérias letais, ao se desenvolverem para sobreviver aos remédios administrados.

Esse nível global de uso excessivo destas drogas tem alimentado silenciosamente, mas de forma constante, a crise mundial de resistência a antibióticos, na qual bactérias cada vez mais mortais podem superar até mesmo nossos medicamentos mais potentes.

Só esta semana, a Agência de Segurança sanitária do Reino Unido alertou que uma em cada cinco pessoas que tiveram infecções em 2020 apresentaram uma cepa bacteriana resistente a antibióticos.

Alguns cientistas acham que o uso excessivo de antibióticos devido à atividade humana é a principal causa da crise de resistência a antibióticos.

Mas o volume de antibióticos dados aos animais da fazenda, que vivem nas condições insalubres, em locais apertados e quentes em que as bactérias perigosas prosperam, é uma receita para o desastre.

As superbactérias resistentes a antibióticos, que encontram cenário favorável nestas fazendas, podem se espalhar pelo mundo através da comida e também da sujeira e resíduos que estes locais descartam, muitas vezes, de maneira descuidada.

Elas também podem se espalhar através dos humanos que trabalham com animais infectados, como funcionários de fazendas e matadouros.

Então é fácil ver como superbactérias facilmente podem escapar de fazendas e potencialmente se espalhar pelo mundo.

Ainda não há dados científicos que meçam exatamente quanto o uso excessivo de antibióticos em animais contribui para a resistência aos medicamentos em infecções humanas.

Mas como médico, acredito que não vale a pena apostar nisso.

Estou alarmado com a nova pesquisa mostrando que os principais supermercados do Reino Unido não estão conseguindo fazer o suficiente para garantir que os antibióticos não sejam usados indevidamente em fazendas que fornecem carne, leite, ovos e peixes para a população.

O pior é que muitos supermercados têm padrões duplos para uso de antibióticos, com regras duras para algumas cadeias de suprimentos e nenhuma regra para outras.

Os agricultores britânicos devem ser aplaudidos por reduzir a quantidade de antibióticos que usam em suas fazendas em cerca de 50% nos últimos cinco anos. No entanto, seu uso permanece muito alto.

O que é preocupante agora é que novos acordos comerciais com países fora da UE levarão ao aumento de importações de lugares como a Austrália e os EUA, onde o uso de antibióticos é ainda mais descontrolado.

A resistência a antibióticos não conhece fronteiras e não há nada que impeça essas importações de alto risco de chegar às nossas prateleiras de supermercado. A distância geográfica não é proteção contra desastres infecciosos.

Até que os supermercados de todo o mundo exijam os mesmos padrões de segurança agrícola, os compradores do Reino Unido continuarão involuntariamente apoiando fazendas no Reino Unido e no exterior, continuarão existindo fazendas que abusam da segurança antibiótica.

Como médico de doenças infecciosas, isso me preocupa muito. Para preservar a habilidade de salvar vidas com o uso de antibióticos, sinto-me obrigado a fazer o alerta.

A saúde de nossas famílias depende disso.

*O Dr. Chris van Tulleken é médico de doenças infecciosas e radialista.

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