Por Tatiane Barbosa
O coelho é o terceiro animal mais popular nos Estados Unidos, no Reino Unido e em muitos outros países, surpreendendo pessoas com a sua inteligência e personalidade. Mesmo assim, coelhos estão entre as criaturas mais buscadas por laboratórios, juntamente com porquinhos-da-índia, beagles, pequenos macacos e ratos explorados em laboratório.
O ser humano ainda acredita ser dotado de características que o fazem ser “especial”, o que lhe dá direito de explorar a vida como bem entender. Ele esquece que, como nós, os animais também pensam, se comunicam e, principalmente, sentem.
Por que é justo tirar um macaco da natureza para explorá-lo em laboratórios, mas não é justo usar o corpo de um condenado à morte? Por que é certo aprisionar um coelho e causar dor diariamente, mas não é certo usar um doente terminal em nome da ciência? O ser humano ainda se vê como Deus, usando a desculpa de que usar animais nos beneficia e nos faz ser quem somos.
Mas por que ninguém se lembra de questionar os erros da medicina causados por se usar animais em testes? O Dr. Albert Sabin afirma que o uso de animais atrasou o desenvolvimento da vacina contra a pólio, sendo atestado de que a primeira vacina desenvolvida funcionou bem em animais, mas matou pessoas. Uma dose de aspirina que é terapêutica a humanos, é venenosa para gatos, benzeno causa leucemia em humanos, mas não tem efeito algum em ratos e até hoje, usando-se coelhos, não se conseguiu comprovar a ligação entre o cigarro e o câncer de pulmão, fato mais que comprovado em seres humanos.
Temos que entender que o uso de animais nos passa uma falsa impressão de segurança, pois a anatomia e o funcionamento do corpo de um animal são diferentes dos nossos, o que pode resultar em sofrimento e morte desnecessários, tanto de animais quanto de humanos.
Muitas pessoas acham necessário o uso de animais em instituições de ensino, pois como um médico aprenderia o funcionamento do coração, ou como um veterinário saberia operar um animal, sem ter visto isto em um animal de verdade durante uma vivissecção? A verdade é que hoje em dia temos muitas alternativas que dispensam o uso de animais e que se mostram tão eficientes quanto, como é o caso do uso de cadáveres e tecidos animais obtidos
de fontes éticas; vídeos que podem ser gravados em situações reais; modelos, manequins e simuladores; multimídia; trabalho clínico com pacientes animais; auto-experimentação; laboratórios in vitro; estudos de campo e aprendizado baseado em casos.
68% das faculdades de medicina nos EUA já aboliram o uso de animais em sala de aula, o que não afetou a capacidade dos médicos formados. Na Inglaterra e Alemanha, a utilização de animais na educação médica foi abolida e na Grã-Bretanha (Inglaterra, País de Gales, Escócia e Irlanda) é contra a lei estudantes de medicina praticarem cirurgia em animais.
Muitos países estão acordando para esta realidade, proibindo o uso de animais em instituições de ensino e pesquisa, enquanto que o Brasil escolhe retroceder, aprovando a Lei Arouca.
Esta lei afirma que as instituições que se valem do uso de animais serão monitoradas e o bem estar dos animais, bem como a eutanásia humanitária deverá existir, porém se nós não conseguimos sequer fiscalizar creches, orfanatos, asilos ou sanatórios, onde vivem os membros mais vulneráveis de nossa espécie, quem assegura o bom trato dos animais em laboratórios de grandes multinacionais que possuem grandes quantias em dinheiro para suborno?
Mesmo que haja o “bom trato”, é justo retirar o direito à vida e à liberdade com que todos estes animais nasceram?
O Brasil está se comportando como no caso em que virou o lixão do mundo, recebendo lixo que veio da Inglaterra em containers até o porto de Santos. Desta vez o Brasil está virando terra de ninguém, permitindo que as companhias estrangeiras façam aqui barbáries que não são permitidas em outros lugares do mundo.
Temos tanta competência e tecnologia quanto grandes potências mundiais, nos basta agora ter a coragem e o discernimento de dizer “aqui não”.
George Bernard Shaw disse certa vez: “Não se estabelece se um experimento é justificável ou não, meramente mostrando se ele tem alguma utilidade. Essa distinção não é entre experimentos úteis ou inúteis, mas entre comportamento bárbaro e civilizado”.
Tatiane Barbosa é engenheira, vegetariana e ativista em defesa dos direitos animais desde 2008. Mora em São Caetano do Sul, SP.