
Mais de 500 milhões de peixes, incluindo espécies protegidas, podem ser sugados para o sistema de resfriamento de uma indústria de energia nuclear em Suffolk que custará 20 bilhões de libras se a construção for adiante, dizem ativistas ambientais.
Um grupo local, “Juntos Contra Sizewell C” (Together Against Sizewell C – TASC), clama que a morte de milhões de peixes é “desumana e inaceitável” e vai contra a agenda verde do governo. Também se opondo à construção, o grupo para a conservação de aves “RSPB” expressou preocupação sobre a perda de peixes em aves que se alimentam deles.
O “Centro para meio ambiente, pescaria, e ciência da aquicultura” (Centre for Environment, Fisheries and Aquaculture Science – Cefas), uma agência do governo, tem avaliado o impacto marinho da indústria e disse que estava confiante que as taxas de mortalidades causadas por Sizewell C seriam “sustentáveis” e que o impacto em uma comunidade marinha mais branda seria “insignificante”
EDF, uma companhia de energia do estado Francês que está atrás do plano de construir Sizewell C, clama que a indústria proposta pode gerar 3.2GigaWatts de energia, suficiente para prover 7% da necessidade energética do Reino Unido, ou dar energia a 6 milhões de casas. A Associação da Indústria Nuclear descreve o processo como um “vital próximo passo” nos esforços britânicos de assegurar uma eletricidade com baixo nível de carbono, pois antigos reatores nucleares estão sendo fechados.
Porém, grupos ativistas ambientais, incluindo o Greenpeace, argumentam que reatores nucleares são desnecessários e caros comparados a uma combinação de energia renovável e uma tecnologia de armazenamento de carga. O RSPB e o grupo comunitário local “Pare Sizewell C” disseram que o reator põe um risco aos habitats naturais na costa de Suffolk e a reserva natural de Minsmere.
Documentos de planejamento publicados pela EDF revelam que quase 8 milhões de peixes foram sugados para o sistema de resfriamento pela indústria Sizewell B todo ano entre 2009 e 2013. Extrapolando esses números, TASC estimou que 28 milhões de peixes podem ser sugados todos os anos no sistema de resfriamento de ambas indústrias, ou 560 milhões durante as duas décadas que as indústrias esperam trabalhar (entre 2035 e 2055). A planta proposta é maior que Sizewell B e demandará 2.5 vezes a quantidade de água do mar, disse o grupo TASC.
Pete Wilkinson, líder da TASC e co-fundador do Greenpeace do Reino Unido, disse que as estimativas são “impressionantes”. Tal perda de vida selvagem só é “ponta do iceberg”, disse ele, pois não levam em conta ovos, crustáceos, e outras vidas marinhas.
“Dezenas de milhões de peixes, crustáceos, e outras faunas e floras marinhas serão sacrificados pelos propósitos de resfriar uma indústria que não é necessária para manter as luzes acesas, que não fará nada para reduzir as emissões globais de carbono, que será paga pelos bolsos dos pagadores de impostos e de contas britânicos, deixando futuras gerações com um duradouro legado de um pobre meio ambiente”, disse ele.
Wilkinson disse que ele esperava que o Cefas condenaria o impacto em peixes nos estágios da investigação do processo de planejamento de Sizewell C.
“A meta citada do Cefas é ‘ajudar a manter nossos mares, oceanos, e rios saudáveis e produtivos, e nossos frutos do mar seguros e sustentáveis…’ Ao em vez disso, parece que Cefas está confortável presidindo sobre a morte de milhões de peixes e claramente sente que o grande número de mortes de peixes é aceitável, pensando que a saúde geral do estoque de peixes não será comprometida”
Adam Rowlands, o gerente do RSPB da área de Suffolk, disse: “É nossa posição que o projeto não siga em frente. Os potenciais impactos no meio ambiente são muito grandes. Peixes sendo sugados são uma de nossas preocupações. Esses peixes provém um importante suprimento de comida á espécies raras de aves fazendo ninhos e se procriando na área”
Espécies protegidas se procriando na área incluem aves como a andorinha-do-mar-comum e anã. No inverno, há um número de mobelhas-pequenas importante internacionalmente. “Eles não se alimentarão de peixes mortos”, disse Rowland.
Perguntado sobre qual impacto tal perda de peixes pode ter, Rowland disse: “Nós não temos visto evidências para convencer-nos que remover tal quantidade de peixes da população não terá um impacto”
Se a indústria seguir em frente, ela será construída em uma parte dos pântanos de Sizewell, um lugar de interesse científico. Também será construída ao lado da fronteira sul da reserva natural de Minsmere, propriedade da RSPB, uma zona alagada importante internacionalmente e especial área de proteção. Minsmere é um de somente cinco lugares na Grã-Bretanha a receber o Diploma Europeu para áreas protegidas do Conselho da Europa, cuja renovação depende de Sizewell C não causar nenhum dano.
O porta-voz do Cefas disse: “Não há evidência científica que os novos desenvolvimentos nucleares propostos irão causar destruição de larga escala da vida marinha ou impactar espécies protegidas.”
O objetivo do Cefas em relação a Sizewell C era assegurar que “a evidência marinha é cientificamente robusta para completamente avaliar os potenciais impactos marinhos e, onde for viável, trabalhar com engenheiros da EDF para reduzir potenciais impactos, otimizando o design”, disse o porta-voz, adicionando que emitir qualquer objeção à proposta está fora de sua competência.
“Nosso objetivo é assegurar que os impactos adversos da atividade humana não afetem a viabilidade em longo prazo das comunidades, habitats, ou populações de espécies vulneráveis e em decadência.”
“Onde impactos acontecerem, como a mortalidade de peixes nas telas de entrada dos sistemas de resfriamento, nós avaliaremos usando como base outras fontes de mortalidade (naturais e humanas) e a habilidade das populações a resistir a tais quedas. Comparados ao tamanho natural das populações, relativamente poucos peixes serão impactados e nós estamos confiantes que as taxas de mortalidade causadas pela nova indústria nuclear serão sustentáveis e o impacto na comunidade marinha mais branda será insignificante.”
O porta-voz ainda disse que produziu três capítulos da declaração ambiental, incluindo de ecologia marinha e pescaria, enviada por Sizewell C ao processo de planejamento para inspeção pública e regulatória. Ele adicionou: “Em aceitar esse trabalho nacionalmente importante da EDF para desenvolver novas capacidades nucleares no Reino unido, nós evitamos conflitos de interesse por não prover conselhos aos reguladores do governo em novos desenvolvimentos nucleares.”
Um porta-voz de Sizewell C disse: “Nossas avaliações mostram que os peixes impactados são principalmente espadilhas e arenques. A absorção desses peixes por Sizewell C será de somente 0.01% da reserva da área. Cientistas de pesca descrevem o impacto de uma nova indústria nuclear em ecossistemas marinhos como ‘insignificante’.”
O porta-voz disse que eles usariam um mais moderno “sistema de retorno de peixes” que aquele de Sizewell B, para assegurar maiores taxas de sobrevivência e que os peixes retornados que não sobreviverem serão “comidos por outras vidas marinhas”.
Um porta-voz da Agência do meio ambiente disse que era responsável pela “rígida regulação” da indústria nuclear para prevenir o dano ao meio ambiente e a comunidades locais. Falando sobre uma subsidiária da EDF criada para construir e operar Hinkley Point C (outra indústria nuclear) e Sizewell C, disse: “Nós estamos atualmente considerando permitir a aplicação da companhia de geração NNB (subsidiária da EDF) sobre sua proposta de descarga de água refrigerada, e iremos determinar tal permissão quando nós avaliarmos o impacto no meio ambiente marinho – incluindo populações de peixes.”
O processo de planejamento de Sizewell C começou em maio de 2020 e um exame está em andamento pela Inspetoria de Planejamento. Esse estágio do processo é esperado levar seis meses. Durante esse tempo, pessoas locais e organizações podem fazer representações.