Urubu gosta de fazer ninho e de dormir em lugares altos. Com a expansão imobiliária santista – também para cima –, e como os urubus não distinguem um morro de uma cobertura de edifício, as opções de alojamento a essas aves, muitas vezes mal compreendidas, vêm aumentando na Cidade.
“Vão surgindo novos tipos de habitat, e eles vão se adaptando ao que for mais conveniente”, explica a bióloga Sandra Regina Pardini Pizelli, da Secretaria de Meio Ambiente de Santos (Semam).
Não há uma epidemia de urubus em edifícios, mas uma ligeira – e curiosa – tendência. É quase uma variação da lei comercial da oferta e da procura: com aumento da primeira, estimula-se a segunda.
Por exemplo, em 2010, o Centro de Triagem de Animais Selvagens (Cetras), ligado ao Centro Universitário Monte Serrat (Unimonte), registrou duas ocorrências de urubus em prédios. Em 2011, foram quatro. Em termos absolutos, os números são acanhados. Mas mostram um aumento de 100%.
“Muitas vezes, o pessoal cuida deles de algum jeito, e a gente nem fica sabendo. Bandeiras coloridas e aquelas linhas usadas contra pombos já servem para urubus”, diz o biólogo e mestre em Veterinária do Cetras, Nesterton Camargo.
Breve descrição
Realmente, a fama dos urubus não é lá muito boa. Mas é só a fama, como se verá. De qualquer forma, vale a pena conhecê-los: afinal, um dia, um deles pode dividir o apartamento com você.
Os urubus têm parentesco com os abutres e os condores. Para fazer ninhos, em Santos, esses lugares são os morros, com destaque para o da Caneleira e o do José Menino, na divisa com São Vicente.
E quantos ovos os urubus põem nesses ninhos? De um a quatro. O mais provável é que consigam criar dois.
Registre-se: os urubuzinhos nascem brancos, quase albinos. Não importa de qual das cinco espécies presentes no Brasil eles sejam – urubu de cabeça preta, de cabeça vermelha, de cabeça amarela, urubu-rei e urubu da mata.
Na área urbanizada da Baixada Santista, o urubu de cabeça preta é rei: o mais adaptado ao Homem, é a única espécie a cruzar os céus das cidades.
Quem se aventurar pelas florestas do litoral pode encontrar o de cabeça vermelha. Os de cabeça amarela, da mata e os urubus-rei, só se embrenhando pelo Interior do País.
Rei é rei
O urubu-rei não tem esse nome por acaso. A impressão que fica para quem vê uma horda de urubus, de vários tipos, debruçada sobre a carniça, é de que aquele tipo imponente de torso branco e cabeça ligeiramente colorida realmente é um rei.
Enquanto ele destrincha a carniça, os outros parecem observar, respeitosos. Na verdade, o respeito nasce da necessidade.
“O urubu-rei tem um bico cujo formato facilita romper o couro. Cada um é especialista numa parte da carniça: o cabeça-preta, por exemplo, rompe-a pelos orifícios”, conta Nesterton Camargo.
Urubu vive no alto; carniça, geralmente, está no chão. A distância entre eles é encurtada pelo olfato. Um urubu, segundo Camargo, pode sentir o cheiro a dez quilômetros de distância, na mata, onde é mais sensível. “É um dos olfatos mais apurados da Natureza. Eles vão acompanhando o cheiro pela corrente de ar”.
Tudo bem, comer carniça e lixo não é lá muito louvável. Mas alguém tem de fazer o trabalho sujo. E eles o fazem muito bem.
“As pessoas associam o urubu ao lixo. Mas ele faz um favor: tira proveito do que o ser humano não quer. Ele come só matéria orgânica. Se um rato morre, por exemplo, ele come”, explica.
Só não tente ameaçá-lo: em situações que interpreta dessa forma, o urubu regurgita um líquido estomacal de cheiro muito forte “para espantar os predadores. Na Natureza, são os gaviões e mamíferos de médio porte, mas só pegam os filhotes (dos urubus)”.
Camargo é um apaixonado por aves – urubus incluídos. É especialmente fã do urubu-rei (“É muito bonito, tem um porte bonito”). Por isso, não hesitaria em ter uma boa dose de paciência, caso algum casal urubulino resolvesse procriar na sua casa.
“Esperaria 45 dias, para os filhotes estarem criados, iria lá, desmontaria o ninho e, aí sim, colocaria obstáculos. Da próxima vez, não voltariam”.
Fonte: A Tribuna