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Ursos Polares foram trazidos como bagagem encaixotada ao Brasil

23 de maio de 2015
8 min. de leitura
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Por Marli Delucca (da Redação)

ursos-bagagem[4]

A lista de inverdades divulgadas pelo aquário de São Paulo, sobre como e de onde vieram os ursos polares, e até então endossadas pela imprensa brasileira, chegou ao fim.
Após a divulgação do dossiê sobre a vida de Peregrino e de Aurora e a Aliança Internacional do Animal – AILA contatar a imprensa estrangeira e o Consulado da Federação Russa no Brasil, a própria imprensa de Kazan passou a desmentir as informações repassadas pelo aquário brasileiro.
Na última quarta-feira dia 20 pela manhã, representantes da AILA se reuniram com o cônsul russo Konstantin Kamenev, e o vice-cônsul, para expor a eles a verdadeira situação estressante em que estão vivendo os ursos polares que foram trazidos da Rússia. Muito atenciosos e prestimosos, os embaixadores após ouvir os relatos repassados pela AILA, solicitaram que lhes fossem enviados outros documentos, para que em uma próxima reunião outros fatos pudessem ser esclarecidos.

Pequeno caixote usado no transporte dos ursos polares a São Paulo (SP)
Pequeno caixote usado no transporte dos ursos polares a São Paulo (SP)

Coincidentemente na parte da tarde, parte da imprensa da cidade de Kazan passou a divulgar o caso que até então era desconhecido em toda a Rússia – que os ursos polares Peregrino e Aurora tinham sido mandados para São Paulo somente durante o período de reconstrução do zoológico de Kazan. A fonte da informação era da própria prefeitura.
Mas a notícia de que os dois ursos polares do zoológico de Kazan foram enviados por dois anos ao Brasil, acabou causando uma enorme confusão na cidade, já que ninguém nunca havia visto ou ouvido falar desses ursos por lá.

O fato chamou a atenção de um dos jornais de maior circulação no Tartaristão, do qual Kazan é a capital. O artigo foi assinado pela jornalista Tatiana Yan’Kova, que escreveu;
“Como correspondente eu descobri que Aurora nunca esteve realmente na capital do Tartaristão, e Peregrino há muito tempo tinha sido enviado a outra cidade, apesar de ter nascido em Kazan, em sua terra natal ele era chamado de Pym.
Conforme explicado pelo correspondente do ‘Evening Kazan’ o vice-diretor dos jardins botânicos e do zoológico de Kazan – Guzel Gorbaneva, apesar de Aurora e seu marido Peregrino formalmente pertencerem a Kazan, eles deixaram o jardim zoológico em Izhevsk, onde há muito tempo eles estavam em exposição, para ir para o Brasil. Acontece que há uma tal prática nos jardins zoológicos russos: se a cidade do local de residência do animal não é digno para o seu conteúdo, o seu conteúdo é dado ao lugar temporário onde tais condições existem.
O zoológico de Kazan, está há muitos anos esperando e não fazendo nada para a sua reconstrução, e que acabou por estar em uma posição onde, a despeito de suas condições desumanas, milagrosamente ganhou o direito de posse da urso polar Aurora, encontrada em 2010, aos cinco meses de idade, junto com a irmã Victoria, no Território Krasnoyarsk próximo ao Lago Taimyr. Primeiramente Aurora foi enviada ao parque de flora e fauna Royev Ruchey em Krasnoyarsk, e em 2012, sem passar por Kazan, mudou-se para Udmurtia, onde um urso polar estava à sua espera, o noivo chamado Peregrino.
Ao contrário de Aurora, Peregrino é radicalmente de Kazan. Ele nasceu no final de 2009, e foi o terceiro bebê, filho da ursa polar do Zoo de Kazan. Em primeiro lugar, como esperado, a mãe escondeu o bebê por um longo tempo no compartimento, e só no final de março de 2010, o ursinho foi apresentado ao público em geral. Ao mesmo tempo, os resultados do concurso nacional ‘O melhor nome para urso branco’ deram-lhe o nome de Pym, a primeira letra do que coincide com o nome do urso pai – Perm. Permyak, como você pode imaginar por seu apelido, nasceu no zoo de Perm e o zoo de Kazan queria continuar a procriar a natureza. Com a idade de 18 meses Pym mudou-se para o zoo de Izhevsk, onde, sob o nome de Peregrino tornou-se uma estrela local – Os cidadãos de Izhvesch, como uma mãe amavam Peregrino, por sua natureza amigável e sociabilidade.
Em Izhevsk Aurora e Peregrino tiveram uma festa de casamento – ao casal foi dado solenemente um bolo de peixes e novos brinquedos.
Como foi falado, os ursos polares estão no Brasil para uma “viagem de negócios” por dois anos. Não existe no zoológico de Kazan um espaço para que eles possam voltar, a não ser que nesse tempo, seja realizada a sua reconstrução.
Infelizmente para os ursos polares, eles não são livres para decidir sobre seu local de residência”.
Apesar da jornalista do Evening Kazan, ter relatado os principais fatos que já haviam sido denunciados no dossiê brasileiro, alguns outros fatos emblemáticos ainda aguardam esclarecimento das autoridades russas:
– A informação que “os ursos polares foram transferidos no âmbito da cooperação cultural, científico e educativo entre a Rússia e o Brasil”, não procede uma vez que o aquário de São Paulo é um empreendimento particular que visa somente entreter o público, e não consta nenhum acordo científico sobre os ursos polares entre Rússia e Brasil.
– A informação que “Peregrino é um presente do governo de Moscou à cidade de Kazan” – uma vez que o urso nasceu em Kazan como ele poderia ser presente de outro zoológico.
– A informação sobre o destino trágico de Aurora a ursa polar que foi retirada do meio selvagem, e que com a permissão especial das autoridades russas Aurora foi removida da natureza e sua posse transferida para o zoo decadente de Kazan, e que agora é enviada para América do Sul, que se tornou o túmulo de 5 ursos polares.
– A informação que “os ursos polares estão listados no Livro Vermelho da Federação da Rússia e estão no país sob controle especial”.
– A informação do zoológico de Kazan ainda não ter planos para a venda de Peregrino.
Uma grande parte da imprensa de Kazan que divulgou que os ursos estavam no Brasil, também divulgou a seguinte frase ao final do artigo: “Um fato interessante é que a primeira e a única vez que estes animais estiveram no Brasil foi há cerca de 20 anos atrás, com uma turnê do circo Soviética” – talvez isso se deva ao fato de que na Rússia os ursos polares são obrigados a andar de patins e executarem outros truques nos picadeiros dos circos.
Também divulgaram que o “Aquário de São Paulo” é um membro da Associação Mundial de Zoos e Aquários – WAZA, mas omitiu o fato de que a WAZA, prega em seu próprio site que “a reprodução nos parques e zoológicos tem o objetivo final a reintrodução das espécies em seu habitat natural” – fato esse desconhecido do público, e não praticado por nenhum de seus associados.
As manifestações da Aliança Internacional do Animal, que ocorre em frente ao cativeiro dos ursos polares e dos demais animais expostos no aquário ocorre todos os domingos às 10 horas da manhã, e tem conseguido sensibilizar várias famílias e seus filhos. Visitantes dizem que os ursos polares estão estressados.
O depoimento do Sr. José Loures na página da AILA, demonstra que a intenção de repatriar os ursos à Rússia, juntamente com um pedido de criação de um santuário para ursos polares, ganha mais força e adeptos a cada dia.

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O cativeiro por si só é um fator limitante ao animal, sendo que algumas espécies não conseguem adaptar-se na vida cativa, desenvolvendo a chamada síndrome da má adaptação, na qual os animais iniciam um processo de anorexia que pode levar à morte. Tem sido demonstrado que o transporte para transferência de recintos em zoológicos pode atuar de forma estressante, através do aumento dos níveis de cortisol, alterando negativamente também seu comportamento. Nos animais cativos, o estresse leva ao aparecimento de comportamentos repetitivos como balançar constante de cabeça, coceira, bater a cabeça, ou nadar freneticamente.
Os animais mantidos em cativeiro estão submetidos à rotina de manejo, o que lhes impõe ociosidade, apatia e estresse. Nestas circunstâncias, os animais apresentam comportamentos poucos naturais, indicativos de estresse. A manutenção de animais em cativeiros os afasta das condições naturais de existência, em maior ou menor grau. Deste modo, o animal está sujeito a uma rotina de manejo previsível (alimento sem necessidade de esforço ou caça), e a realizar atividades exploratórias em um recinto limitado. Tal previsibilidade, que gera facilidades no manejo, priva os animais dos desafios e novidades que a vida natural impõe, e gera diminuição de bem estar, ou mesmo estresse. O bem estar dos animais, abalado, predispõe à apatia, à agressividade, e mesmo à ocorrência de doenças.
Atualmente, o território do zoo de Kazan é de cerca de 7 hectares, no qual vivem em condições extremamente apertados 145 espécies de animais. Por exemplo, os leões pelas normas internacionais devem ser mantidos em gaiolas do tamanho de 500-600 metros quadrados, enquanto que em Kazan eles tem a disposição 30-40.
A maioria dos moradores de Kazan reagiram negativamente à notícia da expansão e da reconstrução do zoológico, já que o ruído dos animais além de incomodar os moradores próximos do zoo, prevê um orçamento prévio no qual serão alocados 25 milhões de rublos e pretende expor pinguins, elefantes entre outros animais africanos.

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