Ursos-polares da Baía de Hudson, no Canadá, podem entrar em extinção nas próximas três décadas com o derretimento do gelo ártico e a redução do tempo de caça. Esta é a conclusão de um estudo da Universidade de Alberta, publicado na edição mais recente da revista Biological Conservation.
Os animais da baía, uma das 19 subpopulações existentes no Ártico, estão perdendo gordura e massa corporal conforme diminui o período em que passam sobre a camada de gelo flutuante. É neste local em que eles caçam suas principais presas, as focas aneladas e barbadas. O urso precisa acumular gordura suficiente no inverno, período em que o gelo está no auge, para sobreviver durante o verão, quando esta camada retrai para o litoral, impossibilitando a procura por comida.
O gelo, no entanto, tem se formado mais tarde no outono e derretido antes do previsto na primavera. Assim, os ursos têm gasto, em média, três semanas a mais em solo firme por ano, em relação ao que era registrado nos anos 80.
O aumento do jejum provoca mudanças visíveis no corpo da espécie. A redução do peso dos ursos da região é de, em média, 27 quilos. As fêmeas perderam 10% de seu comprimento. A população de ursos da baía diminuiu de 1.200 para 900 em poucas décadas.
Se o declínio da camada de gelo continuar como consequência natural do aquecimento global, teme-se que os ursos resistam, no máximo, de 25 a 30 anos. Há, porém, quem acredite que a espécie suma da baía em pouco mais de uma década se a camada de gelo encolher muito nos próximos anos.
A camada de gelo do Ártico registrou seu menor nível em setembro de 2007. Nos últimos dois anos, recuperou parte de sua área, mas voltou a perdê-la rapidamente este ano. A dependência que os ursos têm dela é há muito conhecida, o que tornou a espécie um ícone entre os militantes contra o aquecimento global. Até agora, porém, as previsões sobre a sobrevivência da espécie eram pouco mais do que chutes a esmo.
A pesquisa conduzida pela Universidade de Alberta foi a primeira a calcular a sobrevida dos ursos na baía com base em um modelo matemático. A fórmula combina o peso dos animais e sua capacidade de armazenamento de energia. Estes índices são conhecidos pela análise do ritmo de encolhimento do gelo flutuante e pelo tempo que o animal sobrevive sem caçar.
“O declínio gradual das condições físicas dos ursos ocorre desde os anos 80”, alerta o coordenador da pesquisa, Andrew Derocher. “Agora nós podemos relacionar este fenômeno com a perda da camada de gelo. E esses acontecimentos podem assumir uma velocidade dramática”.
Fonte: O Globo