Em Vila Boa do Bispo, Marco de Canaveses, estavam enjaulados na passada semana, em espaço exíguo e há meses, três ursos-pardos que haviam sido comprados em 2005 para “trabalhar” num circo. Este encerrou as atividades e os compradores dos ursos, sem possibilidades de os sustentar, receberam a ajuda da população que passou a dar de comer aos animais. O Instituto da Natureza, informado da situação, deu início aos procedimentos necessários para os transferir para um parque zoológico. Ainda não se sabe a situação foi resolvida.
Este é mais um dos inúmeros casos em que os animais são impedidos da liberdade, vivem em condições desconfortantes e são objetos descartáveis quando não servem os fins da sua existência. Apesar de haver um dia Mundial do Animal desde 1930, as atrocidades e desprezo permanecem e, quantas vezes, atingem a barbárie.
Em Portugal, as estatísticas são alarmantes. Como não é crime abandonar ou molestar animais, mas apenas infração sujeita a multa de 500 a 3.740 euros, a impunidade prevalece ou arrasta-se sem castigo (lembramos o tutor do cão que afogou o animal na praia fluvial de Penacova em agosto, os comerciantes da região do Porto que se deslocaram a Seia para apanhar pintassilgos para comercializar, o tutor do burro da freguesia de S. Martinho do Bispo que deixou morrer o animal no curral, o cidadão que amarrou duas vacas num pinhal a uma árvore e morreram de fome e sede, e o violador de ovelhas).
No período decorrente de 2006/2009 damos conta de que os cães e gatos abandonados nos espaços públicos e recolhidos pelas Câmaras Municipais totalizaram 37.365, invocando-se para essa desumana ação as seguintes razões: as férias, as alergias, o nascimento de um filho, as dificuldades econômicas, os problemas de comportamento do animal e um mau desempenho na caça. Por outro lado, em 2008, mais de 50.000 animais foram utilizados em experiências científicas.
Sublinhamos, também, o sofrimento horrível, em público, dos touros, a organização de luta de cães, a estupidez de pôr vacas a lutar, o cortar a cabeça com um pau a galos enterrados, o obrigar leões e outras espécies a assimilar ensinamentos à base da força, do medo e da sujeição para exibição como marionetes em palco, além de viverem anos, ao frio, à chuva e ao calor, enjaulados, viajando de terra em terra, sem esquecer, ainda, a prática de comer amêijoas e outros bivalves, vivos, ou retalhar partes do corpo de peixes vivos para servir na ocasião. São atrocidades que revelam que o homem se esquece, que quer seja um burro ou uma pomba, um inseto ou uma baleia, possuem um organismo e sensibilidade, e que sofrem com os danos físicos e psicológicos que lhes infringem, quantas vezes, por prazer mórbido de assistir ao sofrimento.
Para minimizar os efeitos perversos desta desumanidade existem, a nível nacional, diversas associações de voluntários, exemplos da “Animal”, da “Agir” e outras, que dedicam parte do seu tempo e do seu dinheiro a abrigar e a alimentar os animais abandonados, bem como a tratá-los de ferimentos e doenças, além de tomarem atitudes públicas face aos maus-tratos dos insensíveis humanos.
Como amigos dos animais condenamos as muitas pessoas que infligem sofrimento aos mesmos.
E, neste propósito, empenhamo-nos na defesa e dignidade dos animais, procurando sensibilizar os cidadãos a praticar a nobre missão de serem seus defensores.
Fonte: Diário As Beiras