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INJUSTIÇA

Ursa é morta após reagir a um caminhante na Itália

ONGs acusam o governo de tomar a decisão na surdina para que não houvesse protestos; a preocupação agora é com a sobrevivência de seus filhotes

30 de julho de 2024
Júlia Zanluchi
3 min. de leitura
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Foto: Charles J Sharp | Wikimedia Commons

Apesar dos protestos dos ativistas pelos direitos animais, uma província nos Alpes Italianos confirmou hoje (30/07) que uma ursa mãe foi morta por guardas florestais italianos, após ela reagir a um andarilho francês que passou por seu habitat no início do mês de julho.

O andarilho teria saído da trilha durante uma caminhada matinal e encontrou a ursa, que reagiu a sua presença causando ferimentos não intencionais na perna e no braço.

Duas ordens anteriores para que matassem a ursa, identificada como KJ1, foram suspensas pelo tribunal administrativo regional de Trento após apelos de ambientalistas, no entanto, Maurizio Fugatti, governador de direita da província, assinou uma nova ordem na noite de segunda-feira (29/07).

KJ1 foi assassinada na manhã de hoje nas florestas de Padaro di Arco, depois que o corpo florestal a localizou através de seu colar de rádio.

Os ativistas disseram que a morte da ursa de 22 anos de idade deixa seus três filhotes em “séria dificuldade para sobreviver”. A Organização Internacional para a Proteção dos Animais (OIPA) afirmou que a ordem para sua morte foi emitida durante a noite, tornando impossível buscar uma suspensão legal.

“A OIPA Itália está perplexa com a morte de KJ1, que tentamos salvar com duas ações legais”, disse Claudia Taccani, advogada da organização, observando que um juiz havia suspendido duas ordens de eutanásia anteriores para examinar outras soluções. “Infelizmente, isso não foi feito.”

A OIPA ainda disse que presidir uma província autônoma não significa ter carta branca sobre a vida e a morte da fauna, um patrimônio do estado. “Animais são seres sencientes que devem ser respeitados e protegidos e não objetos a serem removidos. Mais uma vez Fugatti demonstra que está perseguindo uma ‘estratégia anti-urso’ que não respeita a vida animal e a biodiversidade, protegidas na Constituição”, declarou.

“Vergonha! Fugatti enviou seus assassinos para matar a ursa mãe! Há pouco, à noite, ele assinou o decreto para matar KJ1… Quando o tribunal administrativo não pode intervir”, escreveu Michela Vittoria Brambilla, presidente do intergrupo parlamentar para os direitos dos animais e proteção ambiental, no Facebook.

Em um comunicado, a Ente Nazionale Protezione Animali (ENPA), em português Agência Nacional de Proteção Animal, criticou a “situação grotesca” e acusou Fugatti de abrir “um conflito sensacional e inaceitável com a justiça administrativa”.

Luta pelos direitos dos ursos

Este foi apenas o nono incidente de interação entre ursos e humanos desde que os ursos pardos foram reintroduzidos na província em 1999 como parte de um projeto da União Europeia.

A morte de KJ1 ocorre em meio a uma luta de ONGs de direitos animais contra a matança de ursos pardos.

Após uma reação fatal contra um adarilho no ano passado, a ursa JJ4 foi separada de seus filhotes e está sendo mantida em santuário em Castellar, na Itália, em meio a um futuro incerto. Os pais do homem pediram para que ela não fosse morta.

Fugatti havia ordenado que ela fosse morta, mas ações legais das ONGs de direitos animais impediram e a ursa será transferida para uma reserva fora da Itália.

Em fevereiro deste ano, o debate se intensificou após um urso conhecido como M90 ser morto pela polícia florestal em Trentino, seguindo ordens de Fugatti.

Ele foi considerado um “perigo para a segurança pública” após supostamente seguir caminhantes ao longo de trilhas montanhosas e ser avistado em áreas residenciais, mesmo sem ter reagido a presença de nenhum deles.

Em março, as ONGs italianas prometeram buscar intervenção da UE depois que o conselho provincial de Trentino aprovou um decreto controverso autorizando o assassinato de até oito ursos considerados “problemáticos”  por eles, por ano em 2024 e 2025.

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