Os países membros da União Europeia votaram na quarta-feira (25/09) a favor de reduzir o status de proteção dos lobos, uma medida problemática que abre caminho para a flexibilização das restrições à caça.

Representantes dos 27 estados da UE apoiaram uma proposta para pressionar por mudanças em uma convenção internacional sobre vida selvagem, que rebaixaria a espécie de “estritamente protegida” para “protegida”. De acordo com uma fonte diplomática, apenas Espanha e Irlanda votaram contra.

Os lobos cinzentos foram praticamente exterminados na Europa há um século, vítimas da caça e da destruição de seus habitats naturais. No entanto, graças a décadas de esforços de proteção, suas populações conseguiram se recuperar.

Infelizmente, essa retomada, que deveria ser vista como um triunfo da biodiversidade, gerou protestos de alguns agricultores, que culpam os lobos pelas perdas de bois e vacas, embora os lobos apenas sigam seus instintos naturais de sobrevivência em um ambiente que lhes foi tirado.

Em 2023, a presença de alcateias de lobos cinzentos foi registrada em 23 países da União Europeia, com uma população estimada em cerca de 20.300 indivíduos. Esse aumento saudável trouxe esses animais, que normalmente evitam o contato com humanos, para áreas onde a natureza foi reduzida.  O encontro entre lobos e humanos é resultado da expansão humana sobre os habitats selvagens, e não de uma agressividade dos animais, que simplesmente buscam sustento em um mundo cada vez mais dominado por atividades humanas.

O lobo tornou-se uma espécie “estritamente protegida” sob a Convenção de Berna de 1979, da qual a UE é signatária. O texto permite que eles sejam mortos ou capturado apenas quando representa uma ameaça aos animais domésticos, à saúde ou à segurança.

A proposta da comissão flexibilizaria essas regras, rebaixando os lobos para a categoria de espécie “protegida”, o que permitiria a caça sob regulamentação.

A mudança pode resultar na caça de um grande número de lobos cinzentos. Já em 2022, várias regiões da Áustria autorizaram o assassinato de lobos, uma violação das leis europeias atuais.

Mais de 300 organizações ambientais e de proteção animal se opuseram ao rebaixamento do status, argumentando que era prematuro, já que, embora os números populacionais tenham crescido, a recuperação ainda está em andamento.

Em uma carta, eles disseram que não havia evidências de que matá-los reduzisse a predação sobre animais de criação. A caça não substituía outras medidas de prevenção, como cercas, argumentaram. “Vemos isso como uma proposta politicamente motivada e nada baseada na ciência”, disse Sabien Leemans, oficial sênior de políticas do grupo ambiental WWF, à AFP.

Um relatório da UE de 2023 constatou que o impacto geral dos lobos sobre animais de criação era “muito pequeno”. Apenas 0,065% dos 60 milhões de ovelhas do bloco eram mortas por lobos a cada ano, e pouco mais de 18 milhões de euros (20 milhões de dólares) eram pagos anualmente como compensação por danos causados por lobos.

O relatório afirmou que cavalos, cães e outros animais também eram às vezes mortos, mas que nenhum ataque fatal de lobos a pessoas foi registrado na Europa nos últimos 40 anos.

Uma vez formalmente adotada pelos ministros do meio ambiente do bloco, a redução dará à União Europeia um mandato para pressionar por uma mudança na Convenção de Berna em uma reunião em dezembro. É necessária uma maioria de dois terços para alterar o texto, que foi assinado por 50 países, incluindo os 27 membros da UE.

Se a convenção for alterada, a comissão poderá então mover-se para alterar as regras relacionadas da UE.

Leemans alerta que isso cria o risco de abrir uma “Caixa de Pandora”. De acordo com ela, alguns países já estão pressionando para aliviar as regras de caça para ursos pardos também.