Enquanto países como a Inglaterra, que é uma referência em direitos animais e bem-estar animal, discute a proibição da comercialização de cães, considerando as implicações dessa prática na vida dos animais, a Universidade Estadual de São Paulo (Unesp), por meio do campus de Jaboticabal da Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias (FCAV) vai oferecer no sábado e domingo, dias 28 e 29, o 4º Curso Teórico-Prático de Inseminação Artificial em Cadelas. Ou seja, um curso que incentiva a reprodução condicionada e forçada de animais.
Não é nenhuma novidade que os cursos de inseminação artificial no mundo todo surgiram com objetivo comercial, ou seja, visando lucro. Sendo assim, quando instituições de ensino como a Unesp caminham nessa direção, amplia-se ainda mais o descaso em relação aos animais abandonados ou em situação de vulnerabilidade. Até porque se a inseminação artificial incentiva a reprodução de “cães de raça”, por outro lado, as consequências também recaem sobre os animais abandonados, principalmente mestiços ou de “raça indefinida”.
Afinal, supervaloriza-se algumas raças específicas e relega-se à desvalorização os animais indesejados que vieram ao mundo simplesmente por força da negligência humana. No Brasil, segundo estimativa da Organização Mundial da Saúde (OMS), há cerca de 20 milhões de cães em situação de abandono, ou seja, à mercê da própria sorte ou azar – o que justifica o crescimento das campanhas de castração nos últimos dez anos. Claro que cursos de inseminação artificial não ajudam a minimizar esse problema. Muito pelo contrário, agravam e por questões bem óbvias. Afinal, muitas pessoas ainda escolhem um animal com base em sua aparência, raça e outras chamadas “qualidades”.
A mercantilização animal traz embutido um conceito de objetificação, de compra e venda – o que reforça a ideia de que animais são presentes, produtos. Sabemos que produtos em algum momento acabam por serem descartados ou desvalorizados. Porém, quando falamos de vidas, deveríamos seguir por esse caminho? Será que cães existem para serem condicionados a procriarem de acordo com a vontade humana? E se o objetivo é dinheiro, será que a saúde do animal é adequadamente considerada? Ou o dinheiro sempre “fala mais alto”? É ético pessoas terem como fonte de renda a venda de animais? Afinal, não são elas que são submetidas a relações sexuais visando lucro.
No Brasil, a lei realmente determina que criadouros comerciais tenham licença e veterinário responsável. Porém a realidade prática é outra. Além de não haver dados precisos sobre a quantidade de criadouros clandestinos no país, a fiscalização só acontece quando há denúncias. Uma prova são as diárias denúncias em mídias sociais de animais explorados comercialmente – inclusive com fotos do estado degradante das cadelas, submetidas à reprodução até seis vezes além da sua capacidade natural. Também não é nenhuma novidade que há equipamentos que são usados para forçarem o acasalamento quando os animais são resistentes à prática.
Atualmente, no País de Gales, a organização de proteção animal Care And Respect Includes All Dogs (Cariad) está liderando uma campanha em favor da Lucy’s Law (Lei de Lucy), um projeto elaborado no final de 2017 que prevê a criminalização da criação de cães visando lucro no país. O governo galês se mostrou favorável à proposta. Além disso, de acordo com a BBC, em fevereiro o secretário de meio ambiente do governo britânico, Michael Gove, anunciou que também está considerando o banimento da prática na Inglaterra. Enquanto isso no Brasil temos cursos de instituições prestigiadas na contramão do bem-estar animal.
Fonte: Vegazeta