Rosane Pereira
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O meu mundo perdeu o “Tom” na madrugada do último dia 17 de junho. A melodiosa “voz” do meu precioso gatinho calou-se depois de um último suspiro que doeu nele e em todos que viviam à sua volta. “Tonzinho” partiu após lutar, por mais de dois anos, contra problemas de saúde que lhe foram debilitando o organismo. Durante esse período, encarou com a coragem do mais legítimo “gato guerreiro” uma porção de clínicas, laboratórios e exames que deixariam qualquer ser humano encolhido de pavor.
“Tonhão”, apelido que evoca parte de sua grandiosidade, tinha medo, sim. Jamais, porém, abdicou do desejo de lutar pela vida que tanto amava, encarando obstáculos dos mais adversos para permanecer aqui.
Apesar dos procedimentos invasivos a que foi submetido seguidas vezes, “Deda” nunca machucou nenhum veterinário ou enfermeiro. Tinha a educação e, sobretudo, a civilidade de um cavalheiro, características que o tornaram um animalzinho sem igual. Na mais repleta paz, conviveu com o irmão canino, Borjão, e a irmã “gatona”, Sâmia, até os dois irem embora. Também se entendia muito bem com quatro tartarugas resgatadas do tráfico, chegando a lamentar a morte da pequena Felícia. Boa-praça, ainda acolheu surpreendentemente 11 ratos Twister que “pintaram” no território dele há dois anos.
Quando a casa virou lar transitório para animais abandonados, recebia todos de patas abertas. Adorava brincar de luta com os coleguinhas, como o jovem Flecha.
No interior do Rio Grande do Sul, estado onde nasceu, “curtia” a companhia de vacas, bezerros, cavalos e, claro, “gatinhas”. Lá, engraçou-se com uma “guria” chamada Bárbara. Os dois viviam de chamego pelos cantos, embora a “mocinha” fosse um pouco geniosa.
Todos os dias, Tom acompanhava as refeições dos pais humanos na esperança de ganhar um pouco de comida ou um carinho. Recebia alguma gratificação, geralmente um petisco para felinos, ao vocalizar algo que parecia “ma-mãe”. Afora os vários nomezinhos pelos quais atendia, era chamado de “Pé de Valsa”, pois não resistia a uma dança diária com a tutora.
Bailava como se fosse o Fred Astaire dos gatos.
Habilidoso com as patinhas, jogava bola como craque de futebol, abria o trinco da porta do quarto dos pais feito criança danada, roubava batatinha frita da mesa de jantar, arremessava CDs para longe, desligava a televisão, “amassava o pão” (o que significa que fazia massagem na barriga dos que chegavam estressados da rua) e tocava as pernas das pessoas quando queria atenção. Poucos dias antes de fechar os olhinhos, estava executando quase todas essas atividades. Apesar do peso dos incríveis 25 anos de vida, parecia estar longe da caduquice. Em 72 horas, no entanto, o estado de saúde dele debilitou-se a ponto de o valente Tom não conseguir reverter o quadro.
Ao longo de duas décadas e meia, ele espalhou felicidade pelo universo e distribuiu ensinamentos a todos que tiveram a sorte de cruzar-lhe o caminho e a sensibilidade de entendê-los. Certamente, tornamo-nos humanos melhores com a sabedoria, a paciência e a bondade dele.
Siga em paz, filhinho, o seu destino. Brinque com o Borjão, a Sâmia e a Felícia ao lado do arco-íris e seja, por toda a eternidade, esse adorável jovem vovô. Um dia, a família estará reunida de novo em volta da mesa!