Avaliação global da IUCN (União Internacional para a Conservação da Natureza) aponta que um quarto (24%) das espécies de animais de água doce, como libélulas, caranguejos, lagostins e camarões do mundo estão em alto risco de extinção. A análise foi publicada na revista científica Nature nesta quarta-feira (8).
A poluição, principalmente advinda da agricultura e silvicultura, afirma a organização, afeta mais da metade de todos os animais de água doce ameaçados. Os ecossistemas de água doce são ainda mais degradados, aponta a IUCN, pela conversão de terras para uso agrícola (desmatamento), extração de água e construção de represas, que também bloqueiam as rotas de migração de peixes.
A sobrepesca e a introdução de espécies exóticas invasoras tiveram um papel particularmente forte em impulsionar extinções, afirma o relatório, dando como exemplo a carpa Squalius palaciosi, vista pela última vez em 1999 e declarada extinta em 2025 devido à perda de habitat pela construção de represas e barragens e à introdução de espécies exóticas invasoras no sul da Espanha.
O estudo divulgado pela IUCN recomenda ações direcionadas para evitar mais extinções e pede que governos e indústrias aprimorem a gestão e políticas de água.
“A falta de dados sobre a biodiversidade de água doce não pode mais ser usada como desculpa para a inação”, disse Catherine Sayer, Líder de Biodiversidade de Água Doce da IUCN e autora principal do artigo. “As paisagens de água doce abrigam 10% de todas as espécies conhecidas na Terra e são essenciais para a água potável segura de bilhões de pessoas, meios de subsistência, controle de enchentes e mitigação das mudanças climáticas, e devem ser protegidas para a natureza e as pessoas.”
O estudo descobriu que pelo menos 4.294 espécies de 23.496 animais de água doce na Lista Vermelha da IUCN estão em alto risco de extinção. O maior número de espécies ameaçadas é encontrado no Lago Vitória (que se espalha por Tanzânia, Uganda e Quênia), no Lago Titicaca (na fronteira entre Peru e Bolívia), na Zona Úmida do Sri Lanka e nos Ghats Ocidentais da Índia, áreas que abrigam algumas das maiores biodiversidades de água doce do mundo, incluindo muitas espécies que não são encontradas em nenhum outro lugar da Terra.
Caranguejos, lagostins e camarões correm o maior risco de extinção dos grupos estudados, segundo os cientistas, com 30% ameaçados, seguidos por 26% dos peixes de água doce e 16% das libélulas. A avaliação global da fauna de água doce da IUCN é resultado de mais de 20 anos de trabalho com contribuições de cerca de 1.000 especialistas.
O estudo também revelou que áreas com alto estresse hídrico (onde há alta demanda e baixa oferta de água) e áreas com mais eutrofização (onde um excesso de nutrientes na água leva ao crescimento excessivo de algas e plantas) não abrigam um número maior de espécies ameaçadas do que áreas com menor estresse hídrico e menos eutrofização.
“Isso mostra que o estresse hídrico e a eutrofização não são bons indicadores para localizar espécies ameaçadas e não devem ser usados para orientar a conservação. Em vez disso, é essencial que os dados de espécies de água doce sejam ativamente incluídos em estratégias de conservação e planejamento e gestão do uso da água, para garantir que suas práticas apoiem ecossistemas de água doce saudáveis”, afirmou o dr. Topiltzin Contreras MacBeath, copresidente do Comitê de Conservação de Água Doce do IUCN SSC.
Fonte: Um Só Planeta