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TRAÇOS ÚNICOS

Um gene, muitas cores: estudo revela segredo da coloração diversificada dos papagaios

4 de novembro de 2024
3 min. de leitura
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Foto: Unsplash

As cores de algumas aves, como o flamingo e os atobás, são determinadas pela dieta que consomem. Mas, e no caso dos papagaios, o que os faz terem plumagens tão vívidas e brilhantes? E por que suas penas têm cores diferentes? Essas questões, que sempre intrigaram os cientistas que estudam a biodiversidade, parecem ter sido finalmente elucidadas.

Um novo estudo publicado no periódico Science e comandado por uma equipe internacional liderada pelo Centro de Investigação em Biodiversidade e Recursos Genéticos (BIOPOLIS-CIBIO) da Universidade do Porto e da Universidade de Coimbra, de Portugal, explica, pela primeira vez, que um único gene permite aos papagaios controlar a sua grande diversidade de colorações.

O organismo dessas aves produz um pigmento chamado psitacofulvina (do grego antigo “psittakós” para papagaio, e do latim “fulvus” para amarelo-avermelhado). É por isso que elas não dependem do que comem para determinar a cor que terão.

Mas isso já era sabido pelos pesquisadores. O que faltava era entender como as psitacofulvinas mudam de tonalidade e possibilitam que os papagaios sejam tão coloridos e diferentes. Os cientistas, então, se voltaram inicialmente sobre a espécie loris-escuro (Pseudeos fuscata), nativa das florestas da Papua-Nova Guiné, e descobriram que apenas uma proteína é responsável pelas diferenças de tonalidade.

Segundo reportagem da Science News, a ALDH3A2, um tipo de aldeído desidrogenase (ALDH), altera a composição química dos pigmentos, que são feitos principalmente de moléculas de carbono, para controlar a cor nas penas em desenvolvimento.

Por meio de um processo químico chamado oxidação, a ALDH3A2 transforma moléculas de aldeído vermelho em ácidos carboxílicos amarelos. “As penas dos papagaios como que ‘pedem’ esta proteína ‘emprestada’, usando-a para transformar psitacofulvinas vermelhas em amarelas”, explicou a coautora Soraia Barbosa, do BIOPOLIS-CIBIO.

Ela acrescentou que “este mecanismo funciona como um regulador de luz ao contrário, no sentido em que maior atividade desta proteína resulta numa cor vermelha menos intensa”.

Posteriormente, a equipe focou suas atenções em um papagaio mais familiar, o periquito-australiano, para explorar como é que as células das penas, de forma individual, ligam ou desligam genes diferentes durante a formação de cada pena – algo nunca antes feito a nível mundial. Isto permitiu concluir que um conjunto reduzido de células é responsável por toda a mudança de cor nas penas.

Experimento final

Como validação final, os cientistas criaram leveduras geneticamente modificadas com o gene das cores dos papagaios: “Incrivelmente, elas começaram a produzir cores de papagaio, o que demonstra que este gene é suficiente para explicar a forma como os papagaios controlam a quantidade de amarelo e vermelho nas suas penas”, observou o autor principal Roberto Arbore, também do BIOPOLIS-CIBIO.

A bióloga evolucionista Rosalyn Price-Waldman, que está concluindo o doutorado na Universidade de Princeton, dos Estados Unidos, e não esteve envolvida no trabalho, disse ao NPR que as descobertas abrem a porta para questionar o que mais as cores podem revelar sobre os papagaios.

“As pessoas estão muito interessadas no que o conteúdo de pigmento de uma pena pode nos dizer sobre a saúde ou estresse de um organismo ou outros aspectos de sua biologia”, apontou. “Esses são todos componentes importantes da biologia do papagaio, e saber um pouco mais sobre psitacofulvinas pode nos ajudar a investigar.”

Fonte: Um Só Planeta

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