Uma matéria publicada domingo (31/07/2011) na Folha de São Paulo, sobre a problemática dos animais exóticos abandonados e sem destino no país, torna público o que já vínhamos divulgando e informando: que mais da metade dos zoológicos existentes no Brasil estão em situação de ilegalidade, sem cumprir as normas que regem esses estabelecimentos e sem possuir o alvará de funcionamento do órgão ambiental brasileiro, o Ibama.
O caso Zoonit deixou claro para a opinião pública a crise que atinge os zoológicos brasileiros, que já estamos denunciando há mais de 10 anos. A própria Sociedade Brasileira de Zoológicos reconhece publicamente que menos da metade dos zoológicos do país tem alvará de funcionamento; e os que vivem na marginalidade não têm recursos para adequar-se às normas mínimas que a lei exige – que aliás estão muito aquém do que os animais lá hospedados precisam.
O reconhecimento de que 77 zoológicos estão ilegais abre o caminho talvez para resolver o problema do destino de milhares de animais, que vivem seu inferno astral em pequenas gaiolas e recintos, ou no terrível setor “extra” dos zoológicos, onde o público não pode apreciar a vida miserável que eles levam. A conversão dos 77 zoológicos em Unidades de Conservação, sem visitação pública, passando sua administração para o Ibama, acabaria com a ilegalidade e permitiria que o órgão ambiental tivesse uma estrutura básica em todo o país para dar destino a milhares de animais, que hoje não têm futuro nem chance de sobreviver.
A reportagem da Folha de SP fala de 100 leões sem destino e 20 ursos em circos, que não têm para onde ir. Nós somos testemunhas desse drama, já que recebemos mensalmente listagens de vários centros provisórios do Ibama oferecendo animais que precisam de abrigo e poucos conseguem atingir esse objetivo.
No Santuário de Sorocaba temos quase 60 macacos-pregos, mais dezenas de outras espécies. Não tem nenhum zoológico no país que tenha essa quantidade de macacos. Se não os tivéssemos aceitado, muitos deles estariam hoje mortos. Os zoológicos brasileiros não cumprem sua função social, como acontece também no mundo. Os zoológicos são lugares de divertimento de humanos e não de conservação de espécies ameaçadas de extinção, como a propaganda que eles fazem para tentar convencer a sociedade. Os animais não são objetos para divertir ninguém; eles estão neste planeta dividindo o mesmo conosco e cumprindo uma função de manter a vida em sua biodiversidade. São parceiros na conservação do ambiente que todos nós compartilhamos.
Desafiamos qualquer zoológico, que diz cumprir sua função social, a abrir suas portas – como nós temos feito com recursos do nosso próprio bolso e sem pedir ajuda a ninguém – para salvar centenas de seres inocentes que precisam de um lar desesperadamente, para se recuperarem e talvez voltarem a serem livres.
Se não podem ou não desejam fazê-lo, então deixem o caminho aberto para que o Ibama assuma essas administrações e usem as instalações para dar abrigo a milhares de seres inocentes, que foram arrancados do seu habitat natural por humanos sem consciência, que os converteram em mercadoria no terrível mercado negro do tráfico de animais.
O desafio está aí em nossa frente. Vamos dar um exemplo ao mundo e mostrar que o Brasil sabe cuidar de verdade de sua biodiversidade!