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LIBERDADE

Último elefante do zoo nacional da África do Sul volta à natureza após 40 anos em cativeiro

Veterinário explicou que apesar dos efeitos de viver preso por anos, ele está se adaptando a natureza e se comunicando com outros elefantes

21 de agosto de 2024
Júlia Zanluchi
3 min. de leitura
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Foto: Four Paws

Após quatro décadas de confinamento no zoológico nacional da África do Sul, o último elefante remanescente foi finalmente libertado de volta à natureza, marcando um momento histórico para os direitos animais no país.

O elefante, chamado Charlie, foi capturado em 1984 no parque nacional Hwange, no Zimbábue, quando tinha dois anos de idade. Ele foi levado para o Boswell Wilkie Circus na África do Sul e treinado para realizar truques. No início dos anos 2000, foi transferido para o zoológico nacional.

Nos últimos anos, ONGs em defesa dos direitos animais pressionaram pela libertação do Charlie devido a preocupações com sua saúde.

Na terça-feira (20/08), a EMS Foundation, que defende os direitos da vida selvagem, anunciou que, após “uma tensa viagem de quatro horas rumo à liberdade”, o elefante havia chegado a seu novo lar na Reserva Privada Shambala, na África do Sul.

Eles disseram que o “evento histórico” foi o resultado de anos de negociações com o governo sul-africano, após a EMS Foundation e seus parceiros apresentarem evidências científicas mostrando que elefantes sofrem em zoológicos.

No zoológico, Charlie testemunhou a morte de outros quatro elefantes, incluindo seu próprio filhote, que tinha menos de um mês de vida.

Em 2019, surgiram preocupações de que o elefante estava apresentando sinais de estresse comuns em animais em cativeiro.

O Instituto Nacional de Biodiversidade da África do Sul, que administra o zoológico, negou, alegando que era um comportamento aprendido em anos de vida no circo que nunca seria completamente desaprendido. A EMS Foundation afirmou que isso era “impreciso”.

Na terça-feira, a organização de bem-estar animal Four Paws, que colaborou com a EMS Foundation, disse que a aposentadoria foi um marco importante para o elefante Charlie, mas também para o bem-estar animal na África do Sul. “Juntamente com nossos parceiros, temos trabalhado incansavelmente para acabar com a solidão de Charlie e vê-lo prosperar em seu novo lar, apropriado para sua espécie”, disse Josef Pfabigan, diretor executivo da Four Paws.

O novo lar do elefante é uma reserva de 10 mil hectares com uma população próspera de elefantes, conhecida por reintegrar com sucesso animais de volta à natureza. Enquanto estiver lá, Charlie será monitorado de perto por especialistas veterinários e comportamentais.

“Nosso sonho é que, em seu próprio ritmo, Charlie aprenda a ser o elefante que sempre deveria ter sido, e que em breve, ele se encontre e se integre à comunidade existente de elefantes em Shambala”, afirmou a EMS Foundation.

O Dr. Amir Khalil, veterinário que liderou a transferência do elefante, disse em entrevista à BBC News que, apesar dos efeitos residuais do abuso em cativeiro, “sempre há uma chance de recuperação”. Sobre as preocupações de como Charlie se adaptaria ao novo ambiente, ele disse que já havia sinais positivos de adaptação e que Charlie estava “muito animado ao ouvir outros elefantes de longe”, com os quais havia começado a se comunicar.

O Dr. Khalil disse que levaria um tempo para preparar o elefante para ser autossuficiente, mas “não devemos esquecer que Charlie nasceu na natureza. Ele passou quase dois anos com sua mãe vivendo em liberdade”.

Ele explicou que o elefante estava sob um programa de reabilitação e alimentação, e eles planejavam liberá-lo para uma área ainda maior nos próximos meses. “Estamos convencidos de que, passo a passo, ele se acostumará a todas essas novas experiências”, afirmou Khalil.

A diretora da EMS Foundation, Michele Pickover, contou à agência de notícias AFP que havia outros três elefantes no Zoológico de Joanesburgo. “Estamos litigando contra Joanesburgo por causa deles”, ela disse.

A África do Sul tem mais de 25 mil elefantes selvagens, de acordo com a autoridade de parques sul-africana SANparks. Os elefantes africanos enfrentam ameaças de caçadores furtivos, com milhares sendo ilegalmente mortos a cada ano por suas presas. Eles também enfrentam a perda de habitat devido à expansão dos assentamentos humanos.

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