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PUREZA

Ucranianos contam que a presença de animais traz amor e esperança em meio à guerra

15 de março de 2022
Bruna Araújo | Redação ANDA
6 min. de leitura
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Foto: Reprodução | Jake | Arquivo pessoal

Milhares de refugiados que deixaram a Ucrânia após a invasão russa estão levando seus bens mais preciosos: seus queridos e amados animais domésticos. Jake, que não quis revelar o sobrenome, disse que enfrentou uma viagem tortuosa ao lado do seu melhor amigo, o seu cãozinho Puzo. Ele conta que não teria forças para sobreviver, fugir e atravessar a fronteira se não fosse a presença do companheiro de quatro patas. “Todos os dias, depois que os bombardeios paravam, eu me levantava e ia até o quarto onde Puzo estava escondido e o massageava. Estávamos juntos e vê-lo dormindo me lembrava o quanto é bom viver em paz”, disse em entrevista à NPR.

Jake conta que a ameaça de guerra sempre existiu, mas por estarmos no século XXI, ele não imaginou que o conflito se concretizaria de forma tão bárbara e violenta. “Eu estava sentado lá por cinco ou dez minutos completamente aterrorizado diante da TV. E então eu comecei a ouvir explosões e janelas começaram a quebrar. Tem sido um caos e pânico completo desde então”, lembrou. Ele e sua família que, claro, inclui Puzo, andaram por cerca de 1.000 quilômetros. Durante o percurso, ele viu muitos refugiados em carros com os seus cãezinhos olhando assustados pelas janelas. Tudo era incerteza e tensão. Felizmente, ele conseguiu deixar o país e está em segurança.

A fotógrafa Louisa Gouliamaki chegou à Polônia no dia 05 de março e viu presencialmente o quanto a presença dos animais trazia conforto para os seus tutores. Muitas da imagens que ela registrou para Agence France-Presse mostra tutores e seus animais compartilhando momentos de afeto. Ela disse que essa cobertura mudou a perpesctiva que ela tinha sobre a importância de cães e gatos nas famílias. “Eles [os animais] são membros da família, então não há como deixá-los para trás. Para as crianças, certamente [é] reconfortante [ter seus animais domésticos], um pedaço de sua normalidade, mas também [como] algo que eles precisam cuidar que lhes dá uma espécie de força”, afirmou.

Foto: Reprodução | Jake | Arquivo pessoal

A pesquisadora Lauren Powell pontua que além de estarem recebendo um importante status social e jurídico em todo o mundo, os animais têm muito a ensinar o ser humano sobre amor e companheirismo, além de serem uma presença benéfica em todos os aspectos. “Animais domésticos podem fornecer apoio, ajudar a reduzir sentimentos de solidão e aumentar os hormônios do bem-estar, como a oxitocina. Eles também podem ajudar a diminuir nossa resposta biológica ao estresse, diminuindo nossos hormônios do estresse, relaxando nossa frequência cardíaca e pressão arterial. Eles têm uma capacidade única de fornecer apoio e companheirismo incondicionais”, explicou.

Travessias exaustivas

Muitos civis ucranianos partiram do seu país natal após a invasão russa e deixaram seus animais domésticos em abrigos ou sozinhos em locais atingidos por bombardeios. Felizmente, muitos tutores compassivos optaram por enfrentar inúmeras adversidades para deixar o país na companhia dos seus amados e queridos animais, independente dos riscos e ameaças.

Desde o início do confronto, refugiados foram vistos deixando o país do leste europeu na companhia de cães, gatos, hamsters, coelhos e pássaros. A ucraniana Victoria Trofimenko, de 42 anos, resistiu a deixar Kiev, mas acabou fugindo com sua mãe e filha, mas nem cogitou deixar seu gato e seu cachorro para trás quando bombas caíram próximo à casa dela.

Ela afirma que não poderia deixar seus animais à própria sorte. “Não posso deixar meu cão e gato. Eu tenho que assumir a responsabilidade”, disse Trofimenko à Associated Press. Após uma longa viagem a pé, ela e sua família multiespécie embarcaram em um trem com destino à Hungria e depois rumaram em direção a Praga, na República Tcheca.

A presença dos animais traz conforto e força para as famílias. Desde o início da guerra, homens entre 18 e 60 anos foram convocados para o front e muitas mulheres e crianças estão partindo apenas com os seus animais, que os ajudam a alimentar esperanças por dias mais pacíficos e seguros. Famílias unidas precisam permanecer unidas em todas as circunstâncias.

Apesar dos países que fazem fronteira com a Ucrânia terem flexibilizado a entrada de animais sem as documentações obrigatórias, muitos tutores optaram por deixar seus animais em abrigos ou sobre a responsabilidade de voluntários e protetores. No entanto, a situação na Ucrânia está ficando cada vez mais perigosa para os animais.

Foto: Reprodução | Patrick Wood

Sem piedade

Bombas russas atingiram dois abrigos, um em Gorlovka e outro em Donetsk, ambos no leste da Ucrânia. Não há estatísticas oficiais, mas segundo informações do Fundo Internacional para o Bem-Estar Animal (IFAW), muitos cães e gatos morreram, as estruturas dos locais sofreram sérios danos e muitos animais, apavorados, fugiram. Voluntários estão se dividindo entre resgatar os animais que correram em direção a zonas de confronto e cuidar dos animais que ficaram feridos com estilhaços.

A IFAW afirma que destinou cerca de £ 114.000 em ajuda de emergência e pede que outras organizações internacionais enviem suprimentos e auxílio. James Sawyer, diretor da entidade, afirma que, infelizmente, não é possível enviar voluntários para ajudar presencialmente, o que, sem dúvidas, seria de grande valia nesse momento. “A coisa mais útil agora é fornecer recursos aos grupos locais. Não podemos colocar botas no chão, é muito perigoso”, disse ao The Mirror.

O abrigo Holivka, localizado em Gorlovka, acolhe aproximadamente 300 animais e foi gravemente afetado. “Os funcionários dos abrigos ainda estão no local e forneceremos recursos para que eles possam continuar cuidando dos cães. As condições são muito difíceis”, disse James, que está em contato direto com a equipe do local. Os voluntários que aceitaram arriscar suas vidas para proteger os animais contam que não há energia elétrica e não podem fazer fogueiras.

O abrigo Pif, em Donetsk, foi o que sofreu mais danos, com dezenas de cães e gatos mortos e muitos animais feridos. O local acolhe 800 animais e está lutado para se manter de pé. A maior preocupação dos voluntários é a falta de suprimentos. Com o dinheiro que receberam, eles conseguiram comprar poucos estoques de fornecedores locais, mas se a guerra se prolongar por muito mais tempo, os animais ficarão sem comida e medicamentos.

James afirma estar surpreso com os ataques russos, que não estão poupando hospitais e abrigos, zonas consideradas neutras. “É bastante incomum vermos abrigos de animais sendo atacados de forma gratuita e covarde. Eles não são particularmente um alvo de guerra”. Apesar das dificuldades, ele esclarece que não deixará de ajudar. “Estamos trabalhando duro globalmente nessa questão. Continuaremos muito comprometidos com os animais”, pontuou.

O clima nos abrigos é de tensão. Voluntários explicam que os cães e gatos mantidos nos locais estão desenvolvendo sinais de intenso sofrimento emocional e muitos estão buscando lugares para se esconder. Eles também sentem a tensão que envolve toda a equipe e estão extremamente introspectivos. “Queremos muito paz. Estamos extremamente cansados ​​mental e fisicamente”, finalizou uma voluntária.

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