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Tutores de gatos são vítimas de estereótipos

19 de setembro de 2011
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Claudio, 44, diz que está na hora de os homens assumirem que gostam de gatos. Foto: Reprodução/ IG

Traiçoeiros. Frios. Muita gente que não tem nada contra animais em geral atribui características humanas negativas aos gatos. Os felinos são alvo de antipatia de alguns. Há até os que acham que as pessoas podem ser divididas em dois tipos: as que gostam de cães e as que gostam de gatos. Na rixa entre os grupos, quem está no time dos gatos sofre, assim como seus animais, com estereótipos.

Homossexuais, solteironas ou pessoas diabólicas. Esses são exemplos de generalizações onde essas pessoas são enquadradas. O projetista Claudio Olívio de Paula, 44, passa por isso com bom humor.

“Além do preconceito de achar que o gato é um péssimo animal, tenho um agravante: sou solteiro. Deus nos livre de um homem solteiro, que não seja gay, ter um gato!”, diverte-se Claudio.

Ele anuncia para todos os que insinuam, sondam ou perguntam: “Gente, um animal não define orientação sexual. Tenho sete gatos e acho que está na hora de homens criarem coragem e assumirem com todas as letras que gostam de gato”, afirma.

Origem

Mas por que isso acontece? De onde vêm os preconceitos que cercam os amantes de felinos?

“O que acontece mesmo é que o gato, mais precisamente o gato preto, acabou pagando por uma briga religiosa. Quando o gato preto, que era muito admirado pelos árabes, foi trazido para o Ocidente, a igreja católica via nele um inimigo. Chegou a proibir que os fiéis tivessem o animal. Quem tinha o animal era considerado igualmente diabólico”, afirma o pesquisador e historiógrafo Gehad Hajar.

O pesquisador atenta para o fato de que o gato é um animal com bastante representação mística, o que acaba colocando mais lenha na fogueira. “Obras literárias citam essa questão da mística. O escritor Edgar Allan Poe escreveu um conto, chamado ‘Gato Preto’. Ele atribui tudo que dá errado em seu cotidiano ao gato preto. Isso depois da morte do animal.” Nem é preciso ir tão longe: nas histórias infantis, os gatos sempre são os vilões – o Frajola de Piu-piu, o Tom de Jerry. O gato de Cinderela é um malvadão chamado Lúcifer. O da bruxa Madame Min se chama Mefistófeles, o que dá na mesma depois de “Fausto”.

O gato Sebastião foi alvo de piadas dos amigos de sua tutora, Ludmilla. Foto: Arquivo pessoal

Preconceito que alimenta preconceito

De acordo com a psicóloga Marisa de Abreu, o preconceito que os tutores sofrem é um respingo daquele que as pessoas têm com o próprio animal. É a chamada “percepção seletiva”: “Por exemplo, você acaba de comprar um modelo qualquer de um carro. No dia seguinte, parece que ‘surgiu’ uma quantidade enorme de carros do mesmo modelo nas ruas.  Você é que está percebendo mais o que sempre esteve lá”, explica.

“O mesmo acontece no caso dos tutores de gatos. Ninguém é santo nem demônio. Todos temos aspectos positivos e negativos, mas, ao ter um gato, que é associado a coisas malévolas, suas características menos positivas serão observadas com mais intensidade”, explica.

Ela diz que a generalização que muitos fazem de que tutores de gatos são gays ou solteironas pode ser explicada pela questão da associação – e por preconceitos prévios que alimentam novos estereótipos. “Os gays são vistos como pessoas mais emotivas, com a sensibilidade mais aflorada. As mulheres solteiras, para muitos, são carentes. Pelo gato ser um animal que tem características atribuídas a seres humanos, muitos associam que os dois grupos preferem sua companhia para partilhar a vida com eles.”

O tempo fecha mais ainda para quem tem gato preto. A empresária Ludmilla Rossi, 29, sabe bem disso. Ela tem dois gatos, o Sebastião – um vira-lata preto – e o Ângelo – da raça Maine Coon. “Alguns amigos tiraram sarro do Sebastião por um tempo. Mas eu o adotei justamente por isso: poucas pessoas gostam de gato preto. Pra mim, esse papo de que dá azar não é verdade.”

A psicóloga Marisa de Abreu afirma que essa superstição influencia o julgamento diante do animal. “A superstição já influenciou nosso gosto por muitas coisas. As pessoas mais frágeis possuem dificuldades de aceitar as incertezas da vida. Aí se apegam a algo que veem como uma certeza, como o fato de que um gato preto traria azar.” E como combater esse impulso de acreditar no que nos é posto como certeza? “Desenvolvendo o senso de lógica e obtendo informações. Ser psicologicamente seguro também é importante”, afirma Marisa.

Ludmilla faz a tão polêmica comparação para justificar sua preferência e espantar críticas. “Eu enxergo apenas qualidades nos gatos. Se querem compará-los aos donos, consequentemente teremos qualidades ao invés de defeitos também. Eles são independentes, silenciosos e têm, acima de tudo, personalidade. Não é como cachorro – que eu também gosto muito – que aceita muita coisa do tutor. O gato, não. Ele tem ‘opinião’ e faz o que gosta.”

Fonte: IG

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