O censo deste ano mostrou um grande declínio da população do papagaio-de-cara-roxa (Amazona brasiliensis) em seu principal dormitório no estado do Paraná, na Ilha do Pinheiro, no Parque Nacional do Superagui.
Nos anos anteriores, até 2.500 papagaios pernoitavam por lá, mas este ano a taxa caiu para 8,6%, ou apenas 455 animais. A movimentação e a barulheira excessivas de turistas, barcos e fogos de artifício podem ser as culpadas.
“Esses fatores podem estar fazendo com que os papagaios não enxerguem mais a ilha como um local seguro para viver”, avalia Elenise Sipinski, coordenadora dos projetos de Fauna da Sociedade de Pesquisa em Vida Selvagem e Educação Ambiental (SPVS).
A análise é compartilhada por Maria Cecília Rodrigues, comandante da 1° Companhia do Batalhão de Polícia Ambiental. “O aumento de pessoas nas proximidades da Ilha do Pinheiro vem sendo bastante definitivo para a construção deste cenário”, diz.
A SPVS e a espanhola Fundação Loro Parque respondem pelos censos do papagaio-de-cara-roxa no Paraná.
Chefe regional do ICMBIO (Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade), Camile Lugarini assegura que a entidade sabe da aproximação de lanchas à Ilha do Pinheiro e que há um plano para melhorar a conservação da ave.
“Vamos conversar com pessoas no entorno da Ilha do Pinheiro e com autoridades técnicas para detalhar a situação, aumentar a fiscalização e melhorar as sinalizações náutica e da Unidades de Conservação”, promete.
Conforme Sipinski (SPVS), a redução de aves no ninhal acende um alerta sobre a conservação da espécie e levanta questionamentos como para onde os papagaios podem estar migrando e o que de fato alterou seu comportamento.
“Ter o privilégio de assistir a uma revoada e à intensa vocalização desses papagaios é algo lindo e singular. Sem terreno fértil para sua conservação, pode estar comprometida uma população que usa a região há milhares de anos”, alerta.
Ninhos artificiais
O papagaio-de-cara-roxa vive apenas em planícies litorâneas conservadas, do sul de São Paulo ao Paraná. A região é parte da Grande Reserva Mata Atlântica, cujos 3 milhões de ha alcançam Santa Catarina.
Os casais da espécie ficam perto dos ninhos dia e noite, da Primavera ao Verão, quando deixam os dormitórios coletivos. Começam a retornar aos locais a partir de abril, muitas vezes com filhotes.
A ave nidifica em árvores como o guanandi (Calophyllum brasiliense), mas como desmate criminoso, ventos e chuvas derrubavam muitas plantas, desde 2003 a SPVS instala ninhos de madeira e PVC.
Isso ajudou a melhorar o status do papagaio-de-cara-roxa de “Vulnerável” para “Quase Ameaçado” na Lista Nacional de Espécies Ameaçadas de Extinção, publicada pelo Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima (MMA).
Com 34 mil ha de Mata Atlântica, o Parna do Superagui completou 35 anos em abril. A área também protege outras espécies animais ameaçadas, do mico-leão-da-cara-preta (Leontopithecus caissara) ao boto-cinza (Sotalia guianensis).
Comunidades caiçaras são cadastradas por ICMBio e Universidade Federal do Paraná (UFPR) tentando conciliar seus direitos tradicionais com a conservação da natureza, dentro e no entorno imediato do parque.
Fonte: O Eco