Um tucano-toco resgatado após ser vítima de um incêndio florestal em São Miguel Arcanjo, município no interior do estado de São Paulo, precisou fazer “aulas de voo” para estar apto a retornar ao habitat.
O animal silvestre foi salvo após inalar fumaça em uma queimada e ganhou uma segunda chance de sobrevivência graças aos profissionais que se dedicaram a reabilitá-lo.
O treinamento de voo foi realizado no Parque Estadual Carlos Botelho. Na ocasião, a ave foi deixada no chão da reserva por um funcionário e, em seguida, fez curtos voos pelo gramado.
O resgate do animal foi realizado no último dia 27 de agosto. Segundo a Fundação Florestal, responsável pela conservação do parque, a ave apresentava um “certo desequilíbrio ocasionado pela fumaça de um incêndio em área do município de São Miguel Arcanjo”.
Após o resgate, o tucano foi alimentado e recebeu os cuidados necessários. Como ele apresentou melhora no quadro de saúde, os trabalhos de reabilitação visando à soltura na natureza foram iniciados. O obhetivo do treinamento de voo é garantir que o animal sobreviva no habitat.
O processo de reabilitação, porém, precisou ser interrompido após a ave ter uma piora em seu estado de saúde. Para que possa ser acompanhado por especialistas, o animal foi encaminhado para um zoológico em Sorocaba na última sexta-feira (3), onde permanecerá até que esteja apto a reiniciar as aulas de voo.
De acordo com a Secretaria do Meio Ambiente e Sustentabilidade (Sema), a ave está bastante debilitada por ter inalado fumaça. No momento, os profissionais do zoológico se dedicam a estabilizar a saúde do animal para que, posteriormente, ele possa retornar ao habitat.
Antes de ser levado ao zoo, o tucano foi cuidado pela médica veterinária Lizandra Evangelista Alves, que o recebeu de um morador que o encontrou caído no quintal de casa. Nas proximidades do imóvel, uma queimada foi registrada, com grande incidência de fumaça.
Conforme relatado ao G1 pela profissional, o tucano não apresentava ferimentos, queimaduras ou ossos quebrados, mas tinha dificuldade para voar em decorrência do estresse sofrido e da fumaça inalada.
Segundo Lizandra, o foco de sua clínica é o atendimento a cachorros e gatos. “A gente atende mais gato e cachorro, mas sempre aparece calopsita, coelho, hamster, porquinho-da-índia. E eu sou apaixonada por tucano, eu ficava: ‘meu Deus, que coisa mais linda’. Dá vontade de fazer virar animal de estimação, mas não pode”, reforçou.
Porque não domesticar animais silvestres
Viver em liberdade faz parte da natureza dos animais silvestres. Retirá-los do habitat ou domesticá-los após resgatá-los em situação de debilidade, ao invés de devolvê-lo à natureza, os condena a viver a triste realidade do cativeiro.
Aves que têm a imensidão do céu para desfrutar e macacos que podem pular de galho em galho, aproveitando as árvores do habitat, acabam presos em gaiolas ou, no caso dos primatas, também em coleiras e correntes. Estressados pela vida em cativeiro, não é incomum que essas e outras espécies desenvolvam comportamentos repetitivos e até mesmo agressivos.
Confinar um animal silvestre em cativeiro por considerá-lo bonito e por querer manter essa beleza aprisionada em prol dos interesses humanos seria o mesmo que prender uma pessoa em um banheiro e impedi-la de viver tudo o que é característico da espécie humana: o convívio social, os passeios, a diversão, os estudos, o desenvolvimento psico-social, dentre tantas outras coisas importantes para uma vida plena.