Registros exclusivos mostram que, sem a proximidade imediata do homem, a fauna se manifesta de forma abundante dentro da área da Floresta da Tijuca no Horto, pedaço do bairro do Jardim Botânico, Zona Sul do Rio.
Durante 40 dias, câmeras montadas pelo cinegrafista Júnior Alves captaram a presença de animais sob a luz do sol, ou na escuridão da noite. Na geografia que compõe o cenário deslumbrante, a Mata Atlântica ainda se destaca, a cidade foi chegando, se aproximando do verde e os limites quase desapareceram.
O grupo de quatis é o que faz mais festa e aparece em maior quantidade. Tanto de dia quanto de noite, eles circulam para se alimentar e transitam imponentes sob as árvores, como donos da casa.
É também atrás de comida que os macacos prego provocam confusão na floresta. É um bando grande que brinca e provoca correria. Uma farra ouvida de longe. Os macacos só desaparecem quando os quatis voltam, numa briga por território.
Em outro ponto, as lentes dão destaque à beleza do tucano, com penas com cores variadas. Com bico preto, com uma faixa amarela, posando pleno, a ave registrada é uma das maiores da espécie.
É também na frente da câmera que acontece um registro raro: o bicho-preguiça escala a árvore no ritmo dele, lentamente. Em outro registro, é possível ver os olhos que brilham no escuro de pacas, habitantes de hábitos noturnos. Elas têm a pele rajada e são muitas passeando pela floresta..
É à noite também que os tatus buscam comida. Eles cavam na terra e quase desaparecem entre as folhas secas. Na região, também existem jiboias e muitas espécies de cobras.
Guardiões da Floresta
A cidade não foi programada para invadir a floresta e há décadas, moradores atuam na mata como ‘guardiões da floresta’. São eles que ajudam que animais como os filmados pelo RJ2 apareçam em abundância.
Ricardo Matheus é um dos responsáveis pelo replantio de espécies que foram sumindo da floresta. Ele fala com paixão do palmito jussara e de outras árvores de frutos que os macacos adoram.
“A gente plantando, a gente vai aumentando a população deles, porque aí eles têm onde comer, não precisa ficar descendo muito… A gente procura plantar bastante aqui nessa mata. É onde que passarinho come, o pássaro come, a paca come, o macaco come. A primeira coisa que tem que se fazer para manter isso é não maltratar o animal”.
“Eu fui nascido e criado aqui. Os animais vêm aqui no meu quintal. Eles vêm aqui, passam aqui, você está vendo ali o macaco agora comendo as frutas aqui, os quatis entrando dentro de casa, não precisam maltratar, né?”, afirma.
Rogério Matheus, auxiliar técnico do Jardim Botânico, faz incursões frequentes pela mata. Ele visita as mudas replantadas e se orgulha do trabalho que é feito por eles e acompanha as mudanças que acontecem a olhos vistos. Ele garante que o futuro é promissor, com a volta de animais que um dia saíram daqui.
“Primeiro, é preciso buscar informações com as pessoas mais velhas: quais são as espécies que tinham aqui? Então, a gente sabe que existia aqui pau-brasil, roxinho, ainda existe jequitibá, o pau-de-jussara, então são algumas espécies que fazem parte desse convívio desse animal. Então são espécies que alimentam também esses animais”, explica.
Roberto Fonseca da Silva, guardião e tratador do Instituto Vida Livre, percorre o Rio dos Macacos, que corta a floresta, recolhendo tudo que destoa da natureza. Foi dele a ideia de criar os guardiões para preservar o lugar onde nasceu e se criou e repassar o ensinamento às novas gerações se tornou uma missão de vida.
“É só cuidar. A gente vê assim tão bonito. Quando era pequeno, a gente via no zoológico, né? Hoje a gente tendo assim a floresta tropical aqui, esses animais juntos, a fauna e flora com a gente. Eu acho que é muito bonito a gente poder fazer esse momento de preservação do bem-estar da natureza. Eu acho que é muito legal ter esse amor assim dos moradores, preservar, a gente saber que, com a gente preservando, a gente vai ter um mundo melhor”.
Tem os que guardam, os que cuidam e os que agradecem. E a própria floresta responde. As imagens de formigas carregando pétalas é o retrato que define o que acontece na Floresta da Tijuca. Pode parecer pouco o feito de um grupo pequeno, mas quando cada um faz a sua parte, a chance de dar certo é enorme.
Fonte: G1