O filhote de tubarão fuçou o saco plástico cheio d’água no qual estava sendo transportado, conseguindo abrir uma saída e ganhar o fundo marinho, após vários dias no aquário de um restaurante tailandês. Foi salvo de um massacre contínuo.
Anualmente, nos últimos dez anos, 22.000 toneladas de tubarões, em média, são pescados ao longo da Tailândia.
Mas, nos últimos dias, graças a Dive Tribe, uma organização de proteção, 60 filhotes recuperam a liberdade, após terem sido comprados de restaurantes e mercados.
Entre eles estavam alguns desses peixes jovens e inofensivos, destinados a enfeitar as tigelas de uma sopa muito apreciada no imenso mercado chinês de barbatana de tubarão.
No começo, era uma tradição da elite chinesa. “Mas, hoje, é a classe média” que consome, irrita-se Jean-Christophe Thomas, um professor de mergulho, convencido da necessidade de uma ação mundial combinada.
Organizações afirmam, com efeito, que 90% dos indivíduos de algumas espécies de tubarões já desapareceram. As vítimas da pesca no planeta seriam 72 milhões por ano.
Vários países, entre eles as Ilhas Maldívias e Honduras, construíram santuários, seguindo o exemplo do arquipélago de Palau, na Oceania, que inaugurou a iniciativa, em 2009.
Na Ásia, Taiwan, um dos maiores países pescadores de tubarões, anunciou, em julho, um plano para regulamentar a atividade. E o Estado malásio de Sabah, em Bornéu, prevê uma proibição pura e simples.
Em 1999, a Organização para a Alimentação e a Agricultura das Nações Unidas (FAO) aprovou um plano de ação combinado. Mas, segundo a organização Traffic, de luta contra o negócio de animais, as 20 maiores nações pescadoras do planeta não respeitam princípios.
“A preocupação internacional em relação aos tubarões continua a aumentar, ao mesmo tempo em que surgem provas de que numerosas espécies ameaçadas continuam a declinar”, considerou a organização num relatório, em janeiro.
Proteger o fundo marinho
Para a Dive Tribe, a falta pode ser atribuída, também, ao célebre filme de 1975 de Steven Spielberg, “Tubarão”, que assimilou o animal a um insaciável comedor de homens.
“Na realidade, os ataques contra o homem são raros”, comentou Jean-Christophe Thomas.
Sábado passado, 60 animais jovens deixaram em sacos plásticos cheios d’água o aquário “Underwater World” de Pattaya, um balneário a 150 km a sudeste de Bangcoc. Foram libertados um por um.
“Eu carregava o saco e nem me dei conta quando ele partiu”, brincou Wayne Phillips, professor de ecologia marinha da Universidade Mahidol de Bangcoc. “Ele conseguiu sozinho a liberdade. Nós só o orientamos. É bem melhor assim”.
Excluindo todo o romantismo, os tubarões são predadores essenciais para o equilíbrio marinho. Seu desaparecimento progressivo modifica o conjunto do ecossistema.
“Protegendo os tubarões, defendemos tudo o que está abaixo, inclusive o fundo marinho”, resumiu o cientista. “Devemos fazer entender como são importantes”.
Uma solução financeira
Quanto tempo resta, antes que seja muito tarde ? “Alguns dizem cinco anos, outros, dez. Mas não se sabe exatamente quantos tubarões ainda vivem nos oceanos”, admite Gwyn Mills, fundador da Dive Tribe.
“O comércio de barbatanas (…) e de outros produtos envolvendo a espécie deve ser proibido agora. Perdemos muitos deles a cada ano”.
Resta convencer, também, os pescadores tailandeses que, como outros na Ásia, cortam as barbatanas dos que estão presos a suas redes, jogando-os depois na água, na agonia.
A chave do sucesso será, então, financeira, explicou Gwyn Mills, para quem um um tubarão é mais importante vivo para a indústria do turismo, do que morto, no prato de um restaurante.
Ele pensa, então, num modelo econômico que permita indenizar os pescadores para que os libertem. Enquanto espera, o importante é convencê-los.
Segundo um balanço internacional estabelecido pela Universidade da Flórida, foram recenseados no ano passado 79 ataques de tubarões no mundo, entre eles seis mortais, o que representa um aumneto de 25% nos acidentes em relação a 2009.
Ao lado disso, Hollywood estreia nesta sexta-feira “Shark 3D” – a história de um grupo de adolescentes massacrados uns após os outros por tubarões esfaimados, num lago salgado da Louisiana. Para a organização Dive Tribe e os demais defensores da espécie, o combate apenas começa.
Fonte: AFP