O touro “Bandido” morreu. Os telejornais noticiaram, os portais replicaram, os jornais estamparam sua foto. “Foi um astro de novela e chegou a ser sepultado com lágrimas de peões e crianças”, disse uma apresentadora da Globo.
Que imensa contradição. Fizeram esse animal sofrer durante 15 anos. Tido como o touro mais temível de todos os tempos, ele foi exaustivamente usado para diversão nos medievais e patéticos rodeios.
Seu dono promoveu concursos com prêmios de até R$ 20 mil para quem conseguisse bater o recorde e ficasse 8 segundos em cima dele. Paulo Emílio de Azevedo Pereira é também dono de mais outros 200 touros e é um empresário bem-sucedido com a sua “Companhia de Rodeio Paulo Emílio”, cujos slogans são “Os melhores touros para sua festa” e “Aqui seu rodeio se torna um espetáculo!”
Como se não bastasse o apelido esdrúxulo, o touro foi criado para ser bravo e violento. Para aguçar sua fúria, como acontece com todos os outros animais nos rodeios, ele era presenteado com um sedém – uma tira de couro ou crina amarrada em volta de seus órgãos genitais que, quando puxada pelo peão, também comprime os canais que ligam o rim à bexiga e o faz sentir dor, muita dor. Além de pimenta no ânus, esporas na barriga e na cabeça e a peiteira – outra faixa de couro em volta das patas dianteiras que as aperta com muita força. Em alguns casos, a crueldade ainda consegue chegar ao absurdo de alfinetes, pedras pontiagudas e arames amarrados na sela. E quase sempre há o choque elétrico assim que a porteira é aberta para a arena.
Bandido faleceu por conta de um câncer de pele na região dos olhos. Mas, como o ser humano consegue se superar e ser cada vez mais incoerente, fizeram com que ele procriasse 70 vezes, deixasse quatro clones, e trataram de congelar duas mil amostras de sêmen. Assim, poderão substituir Bandido e continuar por muito tempo a banalização da dor desses animais em rodeios, touradas e festas de peão.
Quando se trata de animais, é inacreditável como as pessoas conseguem confundir sentimentos e sobrepor emoções. Os criadores, peões e espectadores choraram a morte do touro, mas não se sensibilizaram com todo o sofrimento pelo qual o fizeram passar a vida toda.