Por Vinicius Siqueira (da Redação)
Não é surpresa que a elefante chamada Patience, depois de anos confinada em um ambiente fora de seu habitat que a induzia ao estresse contínuo, tenha fugido de controle no Missiouri. Segundo os treinadores do local, John Bradford, o treinador responsável por Patience, foi esmagado em um impulso imprevisível da elefante.
Mas pode-se dizer que essa reação não foi tão imprevisível. Patience foi retirada de sua família após ser capturada na Ásia. Ela foi transportada para os Estados Unidos e transferido de zoológico a zoológico até que, em 1990, se estabeleceu no Dickerson Park Zoo.
Lá ela foi torturada pelos treinadores para realizar exibições ao público do zoológico, que utilizaram diversas ferramentas, como bastões e correntes, para condicioná-la e mantê-la sob controle. Por ser um animal selvagem, era acostumada a se movimentar livremente por centenas de metros em seu habitat, e sofreu o impacto de ser confinada em uma cela e “domesticada” pelos treinadores do zoo.
Atualmente ela está confinada em um pequeno espaço que não permite qualquer mobilidade maior que poucos metros de caminhada e a deixa distante dos longos caminhos de mais de 50 quilômetros que poderia realizar com seus pais e irmãos em seu habitat, caso não fosse sequestrada e retirada da companhia de seus parentes.
Além de ser privada de sua vida em liberdade, o filho de Patience foi retirado de seus cuidados quando ainda tinha 18 meses de idade. Elefantes são sensíveis e grandes mães protetoras, cuidam de seus filhotes até completarem 5 anos de idade. Os machos ficam com as mães até alcançarem a adolescência e as fêmeas ficam por toda a vida, mas Patience não acompanhou a vida de sua cria e também não sabe que seu bebê morreu seis meses depois de ser retirado de sua companhia.
Cultura da Morte
John Bradford é um entre vários indivíduos que morreram no Dickerson Park Zoo durante as cruéis e inseguras exibições de elefantes. De 10 elefantes bebês que nasceram no local, somente dois sobreviveram e estão atualmente no zoológico.
Muitos morrem após contraírem EEHV, um tipo de herpes que não existe em seu habitat e é associado ao estresse do confinamento. Um elefante foi torturado até morte: o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos processou o zoológico por bater com um pedaço metal no elefante até seu falecimento. O Bullhook, como é conhecido, é utilizado para manter os elefantes “na linha”, ou seja, para intimidá-los e maltratá-los. É um pedaço de toda a tortura física e psicológica que estes elefantes precisam passar cotidianamente.
A morte de Bradford poderia ter sido evitada caso o zoológico tivesse deixado Patience viver livre em seu habitat junto com seus parentes, respeitando seu espaço na natureza. Segundo matéria no Global Animal, o PETA está entrando em contato com o Departamento de Agricultura e a Administração de Saúde e Segurança para investigar o caso.
Encarceramento de elefantes
Elefantes precisam de grandes espaços para movimentação. Nos ambientes antinaturais a que são submetidos, eles sofrem com problemas diversos como artrite e debilitação em seus pés que, ao contrário do que pode parecer, são extremamente delicados.
Em contraste com a vida que poderia ter em seu habitat, elefantes de zoológico, encarcerados em cativeiro, vivem isolados de outros elefantes e não conseguem estabelecer qualquer vínculo mais forte com seus semelhantes. É por isso que o comportamento de um elefante em cativeiro é imprevisível. A frustração de estar preso pode desencadear comportamentos furiosos que, para um animal tão grande, significa uma ameaça a qualquer outro animal que esteja por perto, seja humano ou não humano.
Há uma técnica de adestramento onde os elefantes são retirados ainda bebês de suas mães (o que é um trauma para ambos), encarcerados em locais escuros e torturados até que não possam mais resistir ou esboçar algum revide. Os torturadores batem com bastões de ferro (o já dito Bullhook) em seus olhos e orelhas, que são as partes mais sensíveis de seus corpos. Este tratamento é traumático e tem como objetivo subjugar e subordinar os elefantes a qualquer ordem humana.
Entretanto, conforme o atual caso mostra, nem sempre é possível lutar contra a natureza. Todo o estresse acumulado em Patience foi a força para ela perder o controle e causar este lamentável acidente com seu treinador. O elefante não se rebelou por que é mau, mas sim por que estava sob constante estresse e sob contínuas torturas. A motivação é, antes de tudo, a própria intervenção humana em sua vida, a negligência em relação aos seus direitos e a objetificação que a tornou somente uma mercadoria para o entretenimento humano.