Um estudo concluiu que 18% dos animais silvestres são traficados. Depois dos mamíferos, as aves são as maiores vítimas do tráfico
O tráfico é responsável por tirar 38 milhões de animais silvestres da natureza todos os anos no Brasil. Condenados a viver aprisionados, esses animais são vítimas da ganância e do egoísmo humano.
A Polícia Ambiental de São Paulo recebe, em média, cinco denúncias por dia. A maior parte leva os agentes a casos como o de Jesuilton Menezes Barros, que trafica pássaros na capital paulista.
“Não tem hipocrisia comigo, a gente já está errado, tem que assumir o que é. Às vezes a gente faz um rolo, vende um ou outro também, se vira como pode”, disse o traficante ao programa Profissão Repórter.
A punição para o tráfico de animais silvestres é uma multa de R$ 500 por ave. Se for ameaçada de extinção, o valor sobe para R$ 5 mil. A Lei de Crimes Ambientais prevê também detenção de até um ano – que costuma ser revertida em penas alternativas, como prestação de serviços à comunidade.
Na casa de Jesuilton havia 29 pássaros – três ameaçados de extinção. Ele foi multado em R$ 29,5 mil. As informações são do portal G1.
As aves são as segundas maiores vítimas do tráfico, perdendo apenas para os mamíferos. De acordo com um estudo, 18% dos animais silvestres são traficados.
Muitos desses animais não têm condições de retornar à natureza após serem capturados. Por isso existem pessoas como Eduardo Soriano Foz. O empresário, que vive em São Paulo, acolhe animais vítimas do tráfico. Através de seu trabalho, autorizado pelo Ibama, 49 espécies podem ter uma nova chance na vida.
“Todos estão aqui porque infelizmente não podem voltar para a natureza. Se voltar, infelizmente não vão conseguir sobreviver”, disse. Para manter os animais, Eduardo gasta de R$ 50 a R$ 80 mil por mês, incluindo os salários de uma equipe com 13 funcionários, que conta com biólogos e veterinários.
Ursa-parda
Xuxa, de 36 anos, é uma ursa-parda que viveu 32 anos aprisionada para ser explorada por um circo brasileiro após ser trazida da Romênia. Em Sergipe, no município de Laranjeiras, o resgate do animal, que vivia em um hotel fazenda, foi realizado em outubro.
Xuxa foi retirada do circo em 2010, assim como Xande, de 38 anos. O urso-pardo, no entanto, não resistiu. Os dois foram explorados pelo mesmo circo.
“Ele era um animal muito dócil, cerca de 38 anos, mas muito debilitado. Ele sofreu muito no circo. Passou até por algumas amputações nesse período de circo. Ele tinha garras amputadas, o circo acaba mutilando para tentar diminuir a agressão do animal e a chance de lesionar tratador e coisas do tipo”, explica o veterinário Genisson Resendes.
A operação de resgate de Xuxa contou com veterinários e foi liderada pelo ativista Marcos Pompeu, fundador do Santuário Rancho dos Gnomos, para onde o animal foi levado. Remédios naturais foram usados para acalmar a ursa, evitando o uso de sedativos.
A exploração de animais em circos é proibida em 11 estados brasileiros, mas não há qualquer proibição a nível nacional. Submetidos a maus-tratos, esses animais sofrem nas mãos dos donos dos circos. “Nós temos leões no rancho que não têm as garras”, revela Marcos, que fundou o santuário com sua companheira Silvia Pompeu. Juntos, eles já resgataram mais de 30 mil animais.
Xuxa viajou 300 km de Laranjeiras (SE) a Salvador (BA) e, em seguida, foi para Joanópolis (SP). Durante o trajeto, a ursa apresentava movimentos repetitivos, reflexo dos maus-tratos. Após dois dias de viagem, ela chegou ao santuário.
Proteção animal
Protetora de animais, Isabel Elida Carballo, de 80 anos, nasceu na Argentina, morou 10 anos no Canadá e há 30 anos veio para o Brasil para trabalhar como designer. Depois da aposentadoria, sua dedicação aos gatos se intensificou.
“Eu calculo, aproximadamente, 45 gatos. São 13 anos de trabalho, eu fui pegando gatos de diversos lugares, de pedidos de socorro”, conta Isabel.
A estudante de medicina veterinária Christiane Dubbelt também ajuda gatos abandonados.
“Os adultos saudáveis e mais jovens a gente leva nas feiras de adoção para tentar dar uma oportunidade de uma família para eles. A gente não quer acumular, não quer ter muitos”, diz.
Isabel gasta aproximadamente R$ 3 mil mensais para cuidar dos gatos. Mas apenas com a aposentadoria, não é possível arcar com os custos. “Eu faço rifas e peço para as pessoas que colaborem também e ajudem”, explica.
Muitos dos animais resgatados pelas protetoras são encontrados em cemitérios. Os resgates contam com a ajuda de um funcionário. Os últimos a serem salvos foram quatro filhotes de gato, acompanhados da mãe.
“Eles agora precisam crescer, a gente vacina, vermifuga e com mais ou menos dois meses castramos. Depois fotografamos, divulgamos e tentamos encontrar lares para eles”, diz Isabel.