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RELATÓRIO

Tráfico de animais cresce nas redes sociais em todo o mundo: "Não deveria ser tão fácil"

16 de dezembro de 2024
2 min. de leitura
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Foto: Reprodução

Os dois filhotes de papagaios chegaram ao centro de conservação CeMaCAS, em São Paulo, em condições alarmantes. Sem penas, subnutridos e incapazes de abrir os olhos, eles foram resgatados de traficantes que os mantinham em uma caixa de papelão suja. Meses depois, um par de jovens tucanos, igualmente vítimas de caça, também foi levado ao local.

Esses animais, possivelmente retirados ainda nos ninhos, foram anunciados para venda em redes sociais como Facebook e WhatsApp. Essa prática tem crescido de forma preocupante, transformando plataformas digitais em vitrines para o tráfico de espécies ameaçadas, segundo especialistas.

Estudo da Global Initiative Against Transnational and Organized Crime, publicado em outubro, revelou que 78% dos anúncios ilegais de animais protegidos na África do Sul e no Brasil ocorrem nas redes sociais. O relatório acordos 477 anúncios de 18 espécies protegidas em apenas três meses.

Simone Haysom, diretora da Global Initiative, explica que a repressão aos mercados financeiros fez com que os traficantes migrassem para o ambiente digital. “Os espaços online agora facilitam o comércio de espécies ameaçadas. Há uma abundância de anúncios que simplesmente não deveriam existir”, afirma.

O uso das plataformas foi intensificado durante a pandemia, como observa Crawford Allan, do World Wildlife Fund (WWF): “Com os mercados fechados, muitas atividades ilegais migraram para o digital, onde acabaram se normalizando.”

Embora redes como Facebook e WhatsApp declarem não permitir atividades relacionadas ao tráfego de espécies protegidas, pois persistem dificuldades de regulamentação. A Meta, controladora dessas plataformas, afirma usar inteligência artificial e avaliações humanas para identificar e remover conteúdos irregulares. Em 2023, a empresa removeu 7,6 milhões de mensagens relacionadas ao tráfico de vida selvagem.

No entanto, especialistas como Richard Scobey, da organização Traffic, cobram maior rigor das empresas de tecnologia. “As redes sociais precisam alocar mais recursos para monitorar e coibir o comércio ilegal de fauna e flora”, alerta.

Enquanto isso, no CeMaCAS, os papagaios e tucanos resgatados seguem em reabilitação. A veterinária Alice Soares de Oliveira acredita na plena recuperação dos animais. “Eles ainda são jovens, mas em três meses poderão ter uma vida livre”, prevê.

O tráfico de vida selvagem não apenas ameaça a biodiversidade, mas também aproxima diversas espécies de extinção. Proteger esses animais exige ações coordenadas entre autoridades, empresas de tecnologia e a sociedade, para que práticas criminosas como essas não prosperem no mundo digital.

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