Daniel Stiles, detetive que investiga o tráfico de primatas no Kenya, estava há semanas procurando nas redes sociais por fotos de gorilas, chimpanzés ou orangotangos. Ele pretendia conseguir pistas de um comércio ilegal global que já capturou ou matou dezenas de milhares de primatas e fez com que algumas espécies ameaçadas ficassem à beira da extinção.
“O jeito deles conduzirem o negócio faz com que a máfia pareça amadora”, ele disse ao NY Times. Depois de centenas de buscas, encontrou uma conta no Instagram oferecendo dúzias de animais raros para venda, incluindo filhotes de chimpanzés e orangotangos vestidos em roupas de criança. Ele enviou um e-mail fingindo interesse em orangotangos jovens, e recebeu a resposta vários dias depois: “2 bebês, 7.5K (7.500 dólares) cada. Preço especial para novos clientes”.
O traficante se identificava apenas como Tom e dizia que estava localizado no sudeste da Asia. Segundo Stiles, Tom tinha esperanças em vender os animais para um colecionador particular ou um zoológico, onde eles seriam espancados e drogados até se tornarem submissos para então serem usados em apresentações. Esses shows são um negócio promissor na região, apesar das leis internacionais que proíbem o tráfico de espécies ameaçadas, e consistem em primatas batendo em tambores ou lutando boxe um com o outro.
Zoos não podem tirar primatas da floresta e precisam ter uma licença mostrando que os animais nasceram em cativeiro. Mas os documentos são facilmente falsificados, como no caso do Safari World em Bangkok, que foi exposto há mais de 10 anos por usar orangotangos de procedência suspeita. Os animais foram resgatados, mas atualmente o show de boxe continua com outros primatas.
Tom declarou conseguir os animais em poucos dias, o que demonstrou para Stiles que se tratava de um traficante poderoso, e valeria a viagem até Bangkok. Chegando na cidade, ele foi auxiliado pelo grupo Freeland, que combate tráfico de pessoas e de animais silvestres juntamente com a polícia da Tailândia. Tudo feito de forma secreta.
Stiles então marcou um encontro com Tom e, ao chegar um táxi no local, os agentes tailandeses prenderam o motorista, mas Tom não estava. No banco de trás do carro encontraram dois bebês orangotangos, assustados e agarrados um ao outro, mas saudáveis. Stiles ficou feliz com o resgate dos animais, porém frustrado por não conseguir prender o traficante. Ele continua buscando por outros primatas e outros Toms.
Comércio que movimenta bilhões de dólares, tem como requisito que os animais estejam vivos, diferentemente dos bem-sucedidos tráficos de marfim, chifres de rinoceronte, vinho de osso de tigre ou escamas de pangolim.
Primatas desnutridos e apavorados tem sido resgatados pelo mundo todo, em operações secretas ou em fronteiras. Os traficantes escondem os animais filhotes em malas de mão, sacos plásticos, entre outros.
Mas para cada resgate bem-sucedido, dizem especialistas em vida selvagem, 5 a 10 animais passam batido. E para cada primata traficado, muitos outros podem ter sido mortos no processo. A maioria das espécies são sociáveis e vivem em grupos grandes, e os traficantes muitas vezes matam famílias inteiras para poderem roubar um único filhote. É muito mais fácil de ser contrabandeado e não representa perigo físico para eles.
Uma rota de tráfico secreta corre das florestas da África Central ao sudoeste da Ásia. Policiamento e fiscalização são inexistentes ou corruptíveis, e os animais acabam em casas de colecionadores milionários ou zoológicos. Um filhote de gorila pode custar até 250 mil dólares. Mas a maior parte das prisões feitas recentemente é de traficantes pequenos, não dos chefes que controlam as grandes operações e viajam para outros países para fechar negócios.
Não é apenas o tráfico que ameaça os primatas. O uso crescente de óleo de palma – um produto barato usado em itens como batom, macarrão instantâneo e biscoitos – está destruindo as florestas tropicais e as transformando em fazendas. De acordo com a Fundação Arcus, um grupo sem fins lucrativos que estuda primatas, a Indonésia e a Malásia triplicaram suas produções de óleo de palma nos últimos 15 anos.
Na África acontece o mesmo com muitas novas fazendas de vários produtos e novas estradas destruindo as áreas dos gorilas. A espécie gorila-do-rio-cross tem apenas de 200 a 300 indivíduos estimados hoje.
“Eles tem consciência, empatia e entendimento”, disse Jef Dupain, um especialista de primatas para a Fundação da Vida Selvagem Africana. “Um dia nós pensaremos que era absurdo mantê-los em jaulas”.
Além de serem explorados como entretenimento e animais domésticos, eles também são vistos como comida nas partes mais remotas do sudoeste da Ásia. Apesar do comércio ser ilegal, muitas vezes os da espécie bonobo, conhecidos como chimpanzé-pigmeu, são capturados por armadilhas e vendidos por alguns dólares cada.