Você já assistiu a esta animação?
Ela mostra a “difícil semana de uma baleia-azul” tentando se deslocar em uma área com intenso tráfego de embarcações. O ponto azul representa a baleia da espécie Balaenoptera musculus, enquanto os pontos vermelhos as embarcações. A animação foi feita com dados coletados por telemetria de um indivíduo da espécie no golfo de Ancud, no Chile, entre 22 e 29 de março de 2019 e que foram publicados em um artigo científico.
É quase possível sentir a angústia de ser esse ponto azul “cercado” nessa situação.
Dificuldades enfrentadas pelos animais marinhos
Muitas espécies marinhas enfrentam cenários semelhantes ao dessa baleia-azul, em que, além de terem seus movimentos limitados por embarcações, estão expostas à morte por colisões com esses veículos.
Para agravar a situação, espera-se que as mudanças climáticas forcem as espécies que não tolerarem as novas condições a se moverem para fugir da extinção. Sendo assim, algumas espécies devem mudar sua distribuição para permanecerem em condições ambientais adequadas para elas. As espécies marinhas já estão se movendo em direção aos polos até seis vezes mais rápido e novas distribuições globais estão previstas para mais de 12 mil espécies.
As distribuições futuras dessas espécies, porém, ainda não conhecemos. Muito menos como isso vai afetar a exposição delas às atividades antrópicas, como o tráfego de embarcações. Uma espécie que hoje habita locais com menor intensidade de tráfego pode futuramente ter suas populações muito mais pressionadas por esse impacto.
Pensando nisso, pesquisadores avaliaram como o tubarão-baleia (Rhincodon typus) se comportaria em diferentes cenários futuros de aquecimento global e como isso afetaria sua coocorrência com rotas de tráfego de embarcações. Foram utilizados dados coletados ao longo de 15 anos de 348 indivíduos monitorados por telemetria.
De acordo com as projeções do artigo, as novas possíveis distribuições dos tubarões-baleia devem aumentar a sobreposição com o transporte marítimo global e reduzir em mais de 50% seu hábitat em águas nacionais, ou seja, em águas que estão sob controle de algum país e, portanto, têm maiores chances de serem regulamentadas. Essa mudança para águas internacionais pode acarretar maior morte por colisões (devido ao maior tráfego de embarcações), perda de áreas importantes para alimentação e reprodução da espécie (geralmente mais próximas à costa dos países) e menor possibilidade de monitoramento e proteção da espécie, devido ao menor poder de regulamentação e à maior distância do continente.
Estratégias de conservação das espécies, portanto, não podem ser estáticas no tempo e no espaço e devem começar a considerar um mundo de rápidas mudanças. O que torna ainda mais complexa essa tarefa.
Mitigar o impacto do tráfego marítimo na fauna em um contexto de mudanças climáticas é desafiador. Frear o aquecimento do planeta requer uma transformação global, ligada a fatores econômicos, sociais e políticos, mas a urgência das ações muitas vezes esbarra na complexidade dessas questões interligadas.
Gostaria de um final mais otimista, mas às vezes me parece que estamos tal qual a baleia-azul: limitados em nossos movimentos e ações. Mas ao contrário dela, por escolhas da nossa própria espécie.
Fonte: Fauna News