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Trabalhador relata a deprimente rotina vivida pelos animais no Canil Municipal de Madri, na Espanha

11 de agosto de 2010
6 min. de leitura
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Por Danielle Bohnen (da Redação)

Um lugar onde as almas dos animais são destruídas. Um lugar onde a esperança não existe. Um lugar estressante também para quem trabalha ali e são os responsáveis por fazer a “limpeza” da cidade, acabando com a vida dos cães abandonados. Um trabalhador espanhol deu seu testemunho sobre como é o dia a dia em um canil público em Madri, na Espanha. Para lá, além dos animais de rua recolhidos pela prefeitura, as pessoas levam diariamente seus animais de companhia quando já não os querem mais.

“Acredito que é preciso chamar a atenção da nossa sociedade. Como responsável de uma Perrera [canil público], vou dividir uma coisa com vocês, um olhar ‘de dentro’ se me permitem.

Em primeiro lugar, todos os vendedores/criadores de animais deveriam trabalhar ao menos um dia em um canil desses. Talvez se pudessem ver o olhar triste, perdido, confuso dos animais, mudariam de opinião sobre criar e depois vender a pessoas que nem sequer conhecem. Esse filhote que acaba de vender terminará, possivelmente, no meu canil quando deixar de ser um filhotinho fofo. Então, como você se sentiria se soubesse que há uma probabilidade de 90% de que este cão nunca saia do canil quando vai parar ali? Seja de raça ou não. Pois 50% dos cães que entram no meu centro, abandonados ou de rua, são de raça pura.

Perrera municipal de Madrid. Foto: El Mundo, Espanha/ Antonio Heredia

As desculpas mais comuns que escuto são:

– “Nos mudamos e não podemos levar nosso cão/gato”. Verdade? Para onde você vai se mudar que não permitem animais de estimação? E por que você escolheu viver em lugar assim em vez de outro onde seja permitido?

– “O cachorro cresceu mais do que acreditávamos”. E que tamanho você acha que chega um pastor alemão?

– “Não tenho tempo para ela”. Verdade? Eu trabalho de 10 a 12 horas por dia e ainda assim tenho tempo para os meus 6 cachorros.

– “Está estragando todo o jardim”. E por que não o deixa ficar dentro de casa?

– Sempre dizem: “Não queremos insistir para que você procure um lugar para ele, porque sabemos que será adotado certamente, é um bom cachorro”.

O triste é que seu animal de companhia NÃO será adotado! E você imagina o quão estressante é um canil público? Bom, deixa que eu te conto:

Seu animal tem 72 dias para encontrar uma nova família a partir do momento que você o deixa aqui. Às vezes um pouco mais, se o canil não estiver cheio e se ele  conseguir não adoecer. Se pegar um refriado, morre.

Os gatos nunca se livram de uma morte certa.

Gata abandonada na Perrera Municipal de Madrid, com ao rosto infeccionado. Foto: Horror Canto Blanco

Seu animal permanecerá confinado em uma gaiola pequena, rodeada por barulhos, choros, latidos e uivos de outros 25 animais.

Ficará deprimido e chorará constantemente pela família que o abandonou. Se tiver sorte, um bom voluntário talvez pode levá-lo para passear ocasionalmente. Se não, seu animal não receberá nenhuma atenção, além de um prato de comida deslizado por debaixo da porta da gaiola e jatos de água de magueira, da limpeza da gaiola.

Se seu cão é negro, grande ou alguma raça “bull”, como pit bull, mastin etc., você deu-lhe seu atestado de morte a partir do momento que cruzou a porta do canil. Esses cães não são adotados. Não importa o quão “doce” seja ou “adestrado” esteja.

Se o seu animal não for adotado em 72 horas desde sua entrada e o canil estiver cheio, será sacrificado.

Se o albergue não estiver cheio e seu cão estiver suficientemente saudável e de uma raça atrativa, é possível que se “atrase” sua execução, ainda que não por muito tempo.

Os cães, em sua maioria , são postos em gaiolas de proteção e imediatamente sacrificados se demonstram qualquer tipo de agressão. Inclusive o cão mais tranquilo é capaz de mudar de compartamento neste ambiente.

Se seu cão se contagiar com a tosse canina (traquebronquite infecciosa canina) ou qualquer outra infecção respiratória, será sacrificado imediatamente, apenas porque nos canis não temos recursos para pagar os tratamentos necessários.

Sobre a eutanasia, para aqueles que nunca foram testemunhas de como um animal perfeitamente saudável será sacrificado:

– Em primeiro lugar, o tiram da gaiola com uma guia. Os cães sempre pensam que vão passear, saem felizes, balançando o rabo…

– Até que chegam “ao quarto”, ali todos param de repente. Devem sentir o cheiro ou captar a morte ou sentir as almas tristes que ficaram por ali. É estranho, mas acontece com todos e cada um deles.

– Seu cão ou gato será examinado por um veterinário ou dois, dependendo do tamanho e do quão nervoso estiver. Depois, um especialista em administrar a eutanásia ou um veterinario inicia o processo: encontra uma veia em sua pata dianteira e injeta uma dose de uma “substância rosa”.

– Esperamos que seu animal não se assuste ao sentir o que está para acontecer. Já vi alguns que arrancaram a agulha e acabaram cobertos de seu próprio sangue, ensurdecidos pelos seus próprios latidos e gritos.

– Nenhum “dorme” imediatamente. Muitas vezes, sofrem espasmos durante um tempo, se sufocam e defecam.

– Quando terminar, o cadáver do seu animal será empilhado como uma lenha em um grande congelador traseiro, com todos os outros animais à espera de serem recolhidos como lixo.

Perrera de Madrid: Mais de 6 toneladas de cães e gatos sacrificados em um ano e meio. Foto: Perreras de España

– O que acontece depois? Será incinerado? O levam ao lixão? Servirá de comida para cachorros? Isso você nunca vai saber e nunca poderá imaginar. Só era um animal e sempre se pode comprar outro, não??

Acho que, se você leu até aqui, poderá imaginar e não será capaz de tirar da cabeça as imagens que eu vejo todos os dias quando volto para casa do trabalho.

Odeio meu trabalho, odeio que exista e odeio saber que sempre vai existir, a menos que vocês, as pessoas, mudem de atitude e se deem conta das muitas vidas que são prejudicadas, além das que são deixadas no canil.

Entre 9 e 11 milhões de animais morrem todos os dias nos canis e somente você pode acabar com isso. Eu faço todo o possível para salvar todas as vidas que posso, mas os refúgios protetores sempre estão cheios e todos os dias há mais animais que entram do que saem.

Não crie ou compre cães enquanto há milhões morrendo em canis.

Me odeie se quiser. A verdade dói e a realidade é essa. Só espero que, com isso, alguém possa ter mudado de ideia sobre criar ou comprar um cão e de abandonar seu animal em um canil.

Desejo que um dia alguém entre no meu trabalho e diga: ‘eu li isto e quero adotar’. Isso sim valeria a pena!”

Jazz M. Onster, responsável pela Perrera de Madrid

Com informações de Nueva Vida

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