Aprendi como algumas pessoas na Índia consideram comer uma vaca algo terrivelmente repulsivo. Eu descobri que sentia o mesmo em relação a gatos e cães: eu jamais poderia comê-los. Será que vacas são tão diferentes de gatos e cães que existem dois padrões morais, um que se aplica a vacas, e outro que se aplica a gatos e cães? E porcos, serão tão diferentes? Será que algum dos animais que eu comia era tão diferente? Estas eram as perguntas que nunca me deixavam. Antes que estivesse pronto para aceitá-las, eu já sabia minhas respostas.
Quanto mais eu pensava no assunto, mais convencido ficava de que precisava tornar urna decisão: ou eu tinha de mudar minhas crenças e sentimentos em relação a corno os animais de companhia deveriam ser tratados, ou eu tinha de mudar minhas crenças e sentimentos em relação ao tratamento dispensado aos animais criados nas fazendas para consumo.
Por fim, incapaz de achar um desvio honesto do dilema – e, dado o poder dos velhos hábitos e das tentações gustativas associadas a costeletas de carneiro, galinha frita e hambúrgueres grelhados na churrasqueira, tenho de confessar que tentei desesperadamente encontrar esse desvio – acabei escolhendo a segunda alternativa.
No meu caso, então, foi urna combinação da vida e do pensamento de Gandhi, de um lado, com a vida e a morte do meu amigo canino de outro – urna combinação clássica de razão e emoção que me motivou a iniciar minha jornada para urna consciência animal mais ampla.
Tom Regan em “Empty Cages”, lançado em 2004.