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VITÓRIA

Tigre-siberiano é salvo da extinção graças à programa conservacionista

7 de novembro de 2021
Elizabeth Claire Alberts (Mongabay) | Traduzido por Seon Hye Shin
5 min. de leitura
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Cenas de armadilhas fotográficas tiradas entre 2013 e 2018 revelaram que cerca de 55 tigres-de-amur, também chamados de tigres-siberianos, ameaçados estão habitando o nordeste da China.

Especialistas dizem que a reemergência dos tigres na região é grandemente devido às políticas nacionais chinesas favorecendo a gestão ambiental, inclusive o Projeto de Proteção de Floresta Natural e o estabelecimento de diversas reservas.

Segundo um estudo recente, o nordeste da China pode manter cerca de 310 tigres, incluindo 119 fêmeas reprodutivas, se mais esforços forem feitos para minimizar a pressão humana e corredores ecológicos forem estabelecidos entre os habitats dos tigres.

Enquanto os números na China crescem, as espécies continuam enfrentando ameaças de caça, perda de habitat e fragmentação, e conflito entre humanos e vida selvagem.

Foto: WCS

Havia um tempo em que o especialista em tigres Dale Miquelle não estava certo de que algum dia existiria uma população considerável de tigres-de-amur (Panthera tigris altaica) na China novamente. Nos anos 90, Miquelle e seus colegas estimaram que haviam apenas oito destes grandes gatos, também comumente chamados de tigres siberianos, restantes no nordeste da China. Porém nos últimos oito anos, a mudança veio em saltos: cenas de armadilhas fotográficas revelam que existem pelo menos 55 tigres-de-amur vivendo em florestas no nordeste da China.

“Os esforços persistentes para proteger os tigres deram frutos”, disse Miquelle, diretor da Sociedade de Conservação da Vida Selvagem (WCS) da Rússia, disse ao Mongabay em um e-mail. “A mudança não vem rapidamente, mas houve um progresso lento e estável, e nós vemos ali grandes oportunidades para ainda mais recuperação.”

Segundo um estudo recente em conservação biológica, do qual Miquelle é co-autor, cenas de armadilhas fotográficas capturadas entre 2013 e 2018 identificaram 55 tigres-de-amur em quatro terrenos florestais no nordeste da China: Laoyeling, Zhang-Guangcailing, Wandashan, e as menores montanhas Khinghan. Os cientistas também analisaram geneticamente urina e pelo dos tigres para identificar 30 tigres na região. Entretanto, acredita-se que apenas Laoyeling mantém uma população reprodutiva, sugere o estudo.

A razão da aparição repentina dos tigres no nordeste da China é devido, em grande parte, à política nacional chinesa denominada de Projeto de Proteção da Floresta Natural (NFPP), disse Miquelle.

“Com a parada de derrubadas das árvores em muitas partes da China, eles essencialmente fizeram vilas inteiras, cujas economia estava baseada na extração de madeira, desertos econômicos,” disse Miquelle. “Muitas dessas pessoas tiveram que sair da região para conseguir um novo emprego, e assim tirando mais e mais pessoas das florestas.” Com a indústria de madeira fechando-se, as florestas puderam se recuperar, e essa é “uma grande razão da população dos tigres estar se expandindo.“

A NFPP foi parte da enorme mudança política que deslocou o país em direção a gestão ambiental e proteção da vida selvagem, disse Miquelle. Outra grande mudança aconteceu em 2001, quando o governo estabeleceu pelo menos três reservas naturais, incluindo a Reserva Natural Nacional de Hunchun, para fornecer habitat crítico para tigres-de-amur e leopardos-de-amur (Panthera pardus orientalis). E em 2016, a China estabeleceu o Parque Nacional Tigre Leopardo do Nordeste (NTLNP), que abrange quase 15.000 quilômetros quadrados (5.800 milhas quadradas) no nordeste da China, englobando a Reserva Natural Nacional de Hunchun e representando o maior refúgio de tigres no mundo.

“A China está trabalhando duro para tornar este Parque Nacional em um modelo de conservação na China”, disse Miquelle.

Aimin Wang, diretor da WCS China, disse que, no geral ,os habitantes locais apoiaram as mudanças ambientais orquestradas pelo governo e a reemergência de tigres na região. Contudo, ele disse que o estabelecimento do NTLNP tem causado alguns problemas, visto que as pessoas não podem mais utilizar a terra para criar seu gado.

Foto: Ilustração | Pixabay

“Esse é um problema relativamente grande agora e o governo está procurando soluções para isso”, Wang disse à Mongabay em uma entrevista pelo Zoom.

Tigres-de-amur são atualmente a espécie mais ameaçada de todas as subespécies de grandes felinos. Nos anos de 1930, cientistas acreditavam que haviam 20 a 30 tigres-de-amur restantes, majoritariamente na Russia. Porém medidas de conservação drásticas levaram à uma leve recuperação da subespécie, e o censo mais recente da população estima que existem cerca de 350 tigres morando na região.

John Goodrich, cientista chefe e diretor do programa Panthera, a organização global de conservação de gatos selvagens, disse que a descoberta dos 55 tigres no nordeste da China são “ótimas notícias” já que as espécies tendem a sair-se melhor quando sua extensão não está limitada a um país.

“Enquanto eles têm se saído razoavelmente bem aqui [na Rússia], ter todos de uma única espécie morando em um país é arriscado,” Goodrich disse à Mongabay em um e-mail. “Por exemplo, o número de tigres-de-amur diminuiu drasticamente no início dos anos 90 com os desafios políticos e sociais da Perestroika. Agora o risco está espalhado por dois países.”

Tigres-de-amur podem ter uma base no nordeste da China agora, mas eles irão enfrentar as mesmas ameaças que enfrentariam em qualquer lugar do mundo, disse Goodrich. Isso inclui caça, perda de presas, perda de habitat e fragmentação, e conflito entre humanos e vida selvagem.

Tigres-de-amur também irão enfrentar uma série de ameaças ligadas à mudança climática, embora o nordeste da Ásia deva continuar a fornecer um habitat adequado para a subespécie, disse Miquelle.

“Um clima mais quente significa que pode haver mais e melhores habitats no nordeste da China no futuro (e definitivamente mais habitats potenciais na Rússia),” disse ele. “Mas com um clima mais variável ou seco, incêndios florestais representam uma séria ameaça ao habitat dos tigres.”

Em seu estudo recente Miquelle e seus co-autores defendem que o nordeste da China pode ter uma “meta-população” de tigres-de-amur muito maior, se esforços adicionais forem feitos para minimizar o impacto humano, e para criar corredores ecológicos entre os habitats dos tigres. Eles escrevem que se medidas apropriadas forem tomadas, a região pode manter cerca de 310 tigres, inclusive 119 fêmeas reprodutivas.

“Ainda há um longo caminho pela frente para construir um futuro viável para os tigres no nordeste da China, mas a situação parece boa,” disse Miquelle. “Os líderes nacionais da Rússia e da China demonstraram um interesse sincero na conservação dos tigres-de-amur, gerando uma forte base para sua recuperação.”

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