ESTUDO

Testes de mineração em águas profundas impactam mais de um terço dos animais do fundo do mar, afirmam cientistas

5 de dezembro de 2025

Georgina Rannard

5 min. de leitura

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Foto: Museu de História Natural/Universidade de Gotemburgo

Cientistas que realizam o maior estudo desse tipo descobriram que máquinas que extraem minerais em águas profundas causam danos significativos à vida no fundo do mar.

Segundo os cientistas, o número de animais encontrados nos rastros dos veículos foi reduzido em 37% em comparação com áreas não tocadas.

Os pesquisadores descobriram mais de 4 mil animais, 90% dos quais eram novas espécies, vivendo no fundo do mar em uma área remota do Oceano Pacífico.

Grandes quantidades de minerais críticos necessários para tecnologias verdes podem estar aprisionadas nas profundezas do oceano, mas a mineração em águas internacionais é muito controversa e atualmente não é permitida até que se saiba mais sobre os impactos ambientais.

A pesquisa, realizada por cientistas do Museu de História Natural de Londres, do Centro Nacional de Oceanografia do Reino Unido e da Universidade de Gotemburgo, foi conduzida a pedido da empresa de mineração em águas profundas The Metals Company.

Os cientistas afirmaram que seu trabalho era independente e que a empresa teve acesso aos resultados antes da publicação, mas não foi autorizada a alterá-los.

A equipe comparou a biodiversidade dois anos antes e dois meses depois do teste de mineração que levou máquinas por 80 km no fundo do mar.

Eles analisaram especificamente animais com tamanho entre 0,3 mm e 2 cm, como vermes, aranhas-do-mar, caracóis e amêijoas.

Nos rastros do veículo, o número de animais diminuiu 37% e a diversidade de espécies, 32%.

“A máquina remove cerca de cinco centímetros da camada superficial do sedimento. É ali que a maioria dos animais vive. Então, obviamente, se você remove o sedimento, também remove os animais que estão nele”, disse a autora principal, Eva Stewart, doutoranda do Museu de História Natural e da Universidade de Southampton, à BBC News.

“Mesmo que não sejam mortas pela máquina, a poluição das operações de mineração pode matar lentamente algumas espécies menos resistentes”, disse a Dra. Guadalupe Bribiesca-Contreras, do Centro Nacional de Oceanografia.

Alguns animais podem ter se afastado, mas “se eles voltam ou não após a perturbação é uma questão diferente”, acrescentou ela.

No entanto, nas áreas próximas aos rastros dos veículos, onde nuvens de sedimentos se depositaram, a abundância de animais não diminuiu.

“Esperávamos um impacto um pouco maior, mas não vimos muita coisa, apenas uma mudança nas espécies que se tornaram dominantes”, disse o Dr. Adrian Glover, pesquisador do Museu de História Natural, à BBC News.

“Estamos otimistas com esses dados”, disse um porta-voz da The Metals Company à BBC News.

“Após anos de alertas de ativistas de que nossos impactos se espalhariam por milhares de quilômetros além do local da mina, os dados mostram que quaisquer impactos na biodiversidade se limitam à área diretamente minerada”, acrescentaram.

Mas alguns especialistas não acreditam que isso seja uma boa notícia para as empresas de mineração.

“Acredito que o estudo demonstra que as tecnologias atuais de colheita são demasiado prejudiciais para permitir a exploração comercial em larga escala”, disse o Dr. Patrick Schröder, investigador sénior do Centro de Ambiente e Sociedade do think tank Chatham House, à BBC News.

“Esses foram apenas testes e o impacto foi significativo. Se fizessem isso em grande escala, seria ainda mais prejudicial”, acrescentou.

A mineração em águas profundas é controversa. No cerne do debate está um problema complexo.

A pesquisa mais recente ocorreu na Zona Clarion-Clipperton, uma área de 6 milhões de quilômetros quadrados no Oceano Pacífico, estimada em mais de 21 bilhões de toneladas de nódulos polimetálicos ricos em níquel, cobalto e cobre.

O mundo precisa desses minerais essenciais para que as tecnologias de energia renovável combatam as mudanças climáticas. Eles são componentes fundamentais em painéis solares, turbinas eólicas e veículos elétricos, por exemplo.

A Agência Internacional de Energia prevê que a procura por esses minerais poderá, no mínimo, duplicar até 2040.

Os minerais precisam vir de algum lugar, mas alguns cientistas e grupos ambientalistas estão seriamente preocupados com o fato de a mineração em águas profundas poder causar danos incalculáveis.

Alguns temem que, antes mesmo de termos a chance de explorar plenamente a natureza da vida nas profundezas oceânicas ainda não descobertas, ela possa estar em perigo.

Os oceanos desempenham um papel crucial na regulação do nosso planeta e já estão sob grave risco devido ao aumento das temperaturas.

A Autoridade Internacional dos Fundos Marinhos (ISA), que regulamenta as atividades em águas internacionais, ainda não aprovou a mineração comercial, embora tenha emitido 31 licenças para exploração.

Um total de 37 países, incluindo o Reino Unido e a França, apoiam uma proibição temporária da mineração.

Esta semana, a Noruega adiou os planos de mineração em suas águas, incluindo o Ártico.

Mas, em abril, o presidente dos EUA, Donald Trump, pediu que projetos nacionais e internacionais fossem acelerados, já que os EUA querem garantir o fornecimento de minerais para uso em armas.

Caso a ISA conclua que as técnicas de mineração atuais são muito destrutivas, as empresas poderão tentar desenvolver métodos menos invasivos para extrair nódulos do fundo do mar.

A pesquisa foi publicada na revista científica Nature Ecology and Evolution.

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